“Foxtrot” é o quarto álbum de estúdio da banda, lançado em 15 de setembro de 1972, e combinou músicas que já haviam sido tocadas ao vivo com material novo elaborado em jam sessions. A ideia era criar um filme para os ouvidos e não para os olhos. A banda diz que foi onde começaram a se tornar significativos, indo para um caminho diferente.
Foi gravado nos estúdios da Island em Londres, pela principal formação do Genesis, com Gabriel (voz, flauta, percussão), Steve Hackett (guitarras, violões), Tony Banks (teclados, violões), Mike Rutherford (baixo, guitarras, violões) e Phil Collins (bateria, percussão, vocais)
Steve Hacket foi quem fez pressão para que a banda comprasse um Mellotron, que é um enorme destaque no álbum. Dizia que ele tornaria as habilidades da banda de contar histórias muito maiores. E realmente o álbum é grandioso e cativante. O mellotron foi comprado de Robert Fripp, o mesmo usado em “In The Court Of The Crimson King”.
Banks diz que foi este o ponto em que a banda realmente se tornou relevante. Também disse em entrevistas que seguiram a porta aberta pelos Beatles, que começaram a puxar os limites da sua música, seguidos por Pink Floyd e King Crimson, e que vendo estas bandas ousando, pensaram “podemos fazer o que quiser agora”.
O álbum abre com a monstruosa “Watcher Of The Skies”, com Tony Banks se divertindo intensamento no Mellotron. A medida que baixo e bateria vão tomando maior intensidade, a música cai em um ritmo cheio de armadilhas, estranha e maravilhosa.
É uma alusão ao romance de ficção científica de Arthur C. Clarke de 1953, “Childhood’s End”, imaginando alienígenas observando um deserto pós-apocalíptico na Terra. O single não foi muito bem recebido, mas foi um futuro item de colecionador valiosíssimo.
Essa música se tornou uma potência ao vivo, com Gabriel se maquiando e usando asas de morcego na cabeça, representando o “Observador”, um alienígena visitando uma Terra devastada pelo próprio homem. Ficou em sétimo lugar na votação dos leitores da Prog Magazine UK sobre qual a melhor música do Genesis em 2020.
Em seguida vem “Time Table”, que apresenta um tema romântico escrito por Banks, sobre uma era de reis e rainhas que são banidos pela guerra. Apesar de ser uma das músicas menos lembradas, e nunca tocada ao vivo, ela é emocionante, se assemelhando mais com as músicas que faria por volta do início dos anos 80. É um alívio, trazendo um equilíbrio após a tensão de “Watcher of The Skies”.
“Get’Em Out By Friday” é descrita como uma ópera cômica, que usa tanto o realismo como a ficção científica para repreender a ganância dos prorpietários de terras no ínicio dos anos 70. A letra fala sobre um órgão intitulado Genetic Control que queria reduzir a estatura dos humanos a fim de colocar o dobro de moradores em um mesmo edifício.
Gabriel novamente brilha, modificando sua voz para cada personagem representado na música, o Empresário, o Proprietário e o Capanga. No palco também vestia trajes adequados a cada personagem. A banda segue igualmente, com mudanças e nuances diferentes para os personagens também. Ficou em 35º lugar na mesma votação da Prog Magazine citada acima.
Então temos “Can-Utility and the Coastliners”, meio esquecida mas tão maravilhosa quanto todo o material composto nesta fase da banda. A letra narra a história do Rei Knud da Inglaterra Medieval, que tenta controlar as marés, apenas para descobrir que seu poder é limitado e seu orgulho tolo. Steve Hacket brilha nessa música com uma melodia sedutora, um dedilhado maravilhoso. Grandiosa e imponente. Ficou em 25º lugar na mesma votação da Prog Magazine.
Na era dos LPs, “Horizons” abria o Lado B, sendo uma breve e belíssima exibição de Hackett, inspirada no Prelúdio da Suíte nº 1 em Sol maior para violoncelo de Bach. Hackett tinha certeza que a banda iria rejeitá-la, ficando surpreso quando resolveram incluí-la no álbum.
Em seguida temos a obra-prima, a deslumbrante, “Supper’s Ready”. Construída a partir de sete partes distintas, atingindo 23 minutos, instantaneamente se tornou uma das aventuras musicais mais famosas e influentes no gênero. Tony Banks diz que a ideia era escrever uma continuação para “The Musical Box”, mas quando surgiu a melodia de “Willow Farm” tudo mudou, e decidiram tomar outro caminho a partir deste ponto. Hackett não estava convencido de que era uma boa ideia compor uma música tão longa. Ficou preocupado até em a gravadora, Charisma, tomar alguma ação contra. Mas o foi o próprio diretor da gravadora, Tony Stratton-Smith, que os apoiou após ouvir o que estavam fazendo no estúdio, encorajando a banda a levar a música o mais longe possível, de acordo com o produtor David Hitchcock.
Quando Gabriel começou a cantar na seção intitulada “Apocalypse in 9/8”, Banks a princípio reclamou que o vocal estava invadindo o espaço dele, mas depois de ouvir percebeu que agora tinha toda a emoção que estavam tentando criar. O mesmo na seção 666 onde tudo combinou perfeitamente com o drama já proporcionado pelos acordes.
Gabriel deu a entender que as letras foram motivadas por pesadelos que sua esposa teve e pelo Livro das Revelações da Bíblia, acrescentando um pouco de surrealismo.
Foi votada como a melhor música do Genesis pelos leitores votação da Prog Magazine UK, somando assim 4 faixas do Foxtrot na lista de 40 canções escolhidas.
Foxtrot é coeso e consistente, entregando uma energia que deixa o ouvinte querendo mais. Cada música tem seu charme individualmente, mas coletivamente são brilhantes, tornando seus quase cinquenta minutos de duração incríveis, sem um minuto de música chata.
Este é um álbum obrigatório não só para os fãs do Genesis, mas também para os fãs de rock progressivo.
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