Nazareth – Hair of the Dog (1975)

Luis Fernando Brod
7 minutos de leitura
Nazareth. Foto: Fin Costello / Redferns / Getty Images.

Em 1975, a banda escocesa Nazareth lançou aquele que se tornaria o seu disco mais lembrado e celebrado: Hair of the Dog. O álbum foi um marco não apenas na trajetória do grupo, mas também no cenário do hard rock setentista, equilibrando peso, energia e melodias que atravessaram fronteiras. Até hoje, é comum que quando se fala no Nazareth, esse disco venha imediatamente à mente, tanto pelo seu impacto comercial quanto pela sua sonoridade única.

A produção de Hair of the Dog foi um passo ousado para a banda. Até então, eles haviam trabalhado com Roger Glover, baixista do Deep Purple, responsável por dar forma a discos anteriores, como Rampant. Mas em 1975, decidiram assumir mais controle criativo e confiar no talento do guitarrista Manny Charlton, que tomou as rédeas da produção. O resultado foi um som mais cru, mais direto e, ao mesmo tempo, mais fiel à identidade que o grupo buscava consolidar. Esse movimento deu ao Nazareth uma assinatura própria em meio a tantas bandas de hard rock que surgiam na década.

A faixa de abertura, “Hair of the Dog”, traz o riff mais reconhecível da banda. A canção, cujo título original seria “Son of a Bitch”, acabou suavizado pela gravadora para não chocar o mercado americano. Ainda assim, a música manteve sua atitude rebelde, com o refrão quase provocativo e a presença marcante do talkbox, efeito que na época era ainda uma novidade. Essa introdução ousada já mostrava que o Nazareth queria se distanciar do rótulo de coadjuvante na cena e reivindicar espaço próprio.

No entanto, foi “Love Hurts” que garantiu ao álbum um sucesso avassalador. Originalmente composta pelos irmãos Everly e já gravada por artistas como Roy Orbison, a versão do Nazareth transformou a canção em um hino de melancolia e paixão. A interpretação rasgada e intensa de Dan McCafferty deu um peso emocional que atravessou gerações. A faixa alcançou o Top 10 da Billboard e até hoje é a música mais conhecida da banda. É curioso notar que, embora Hair of the Dog seja lembrado como um disco pesado, foi justamente a balada que abriu as portas do grande público.

Hair of the Dog. Foto: acervo pessoal.

A recepção na época foi um misto de entusiasmo e desconfiança. Parte da crítica via o Nazareth como mais um grupo britânico surfando na onda do hard rock inaugurada por Led Zeppelin, Deep Purple e Uriah Heep. Mas o público não teve dúvidas: o álbum vendeu milhões de cópias e consolidou o grupo principalmente nos Estados Unidos, onde passaram a lotar arenas e conquistar uma base fiel de fãs. O fato de abrirem turnês para gigantes como Deep Purple e Kiss ajudou a aumentar a exposição, e a banda se tornou presença constante em festivais de médio e grande porte, ainda que nem sempre como atração principal.

Outro aspecto curioso é que Hair of the Dog não nasceu com a pretensão de ser um álbum que definiria a carreira da banda. O Nazareth vinha de uma sequência de trabalhos consistentes, mas não havia alcançado o mesmo nível de sucesso comercial de contemporâneos. Esse disco, porém, conseguiu encontrar um ponto de equilíbrio entre o peso do hard rock e a acessibilidade de refrões fortes e baladas poderosas, uma fórmula que se mostrou certeira.

Musicalmente, as influências que aparecem no disco vão desde o blues britânico ao hard rock cru, com toques ocasionais de folk e até mesmo de soul em certas interpretações vocais. A voz de Dan McCafferty, com sua rouquidão natural e sua entrega visceral, era o diferencial mais evidente. Mas também é preciso destacar o trabalho de Manny Charlton, que além da produção, construiu riffs diretos e eficientes, sem exageros técnicos, mas com grande poder de fixação.

A turnê de “Hair of the Dog” foi crucial para consolidar o nome da banda. Nos Estados Unidos, eles fizeram uma extensa turnê abrindo para gigantes como Aerosmith e Ted Nugent. Essa exposição para um público massivo foi fundamental para que o álbum escalasse as paradas. Em outros lugares, como Canadá e Europa, onde já tinham um público fiel, eles eram a atração principal, lotando arenas com sua performance energética e visceral.

O impacto de Hair of the Dog pode ser medido também pelo efeito que teve sobre outras bandas. O Guns N’ Roses é o exemplo mais notório: Axl Rose sempre citou o Nazareth como uma de suas grandes influências e chegou a incluir uma versão de “Hair of the Dog” no álbum The Spaghetti Incident?, de 1993. Essa reverência mostra como o disco de 1975 extrapolou sua época e continuou servindo de referência para músicos que surgiram mais de uma década depois.

Meio século após o seu lançamento, Hair of the Dog ainda é um disco relevante. Talvez não ocupe mais o imaginário do grande público, que associa os anos 70 a nomes mais badalados como Zeppelin, Purple ou Sabbath, mas entre os apreciadores do classic rock, segue sendo um título obrigatório. Seu valor histórico é indiscutível: mostra uma banda em seu auge criativo, capaz de traduzir o espírito rebelde da época sem abrir mão da melodia. É, de certa forma, um álbum que envelheceu bem, porque a sua simplicidade e honestidade continuam funcionando em qualquer época.

O Nazareth lançou outros trabalhos de qualidade ao longo das décadas, mas nenhum repetiu a relevância de Hair of the Dog. Esse disco permanece como um marco tanto para a própria banda quanto para o hard rock em geral. É aquele tipo de registro que ajuda a explicar por que os anos 70 ainda são vistos como um período dourado para a música pesada, e que continua sendo redescoberto por novas gerações que buscam entender de onde vem a força do rock..

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