“Electric Nebraska”, a versão com banda completa do sexto álbum de Bruce Springsteen, “Nebraska”, estará disponível na próxima semana em lojas de discos e plataformas de streaming. O lançamento faz parte de um novo box set comemorativo e coincide com um filme estrelado por Jeremy Allen White, que aborda o mesmo período.
Este projeto, que até poucos meses atrás era desconhecido até mesmo por Springsteen, representa um dos discos “perdidos” mais famosos do artista. Diferente de muitas outras gravações de Bruce que circularam entre fãs, “Electric Nebraska” permaneceu inédito e não foi pirateado ao longo dos anos.
Apesar de Bruce Springsteen já ter tocado versões “plugadas” de músicas de “Nebraska” em shows, como “Atlantic City”, esta é a primeira vez que a gravação original com banda completa será oficialmente lançada. A chegada de “Electric Nebraska” ao público encerra o status de objeto mítico que o álbum possuía entre os admiradores de Springsteen.
No universo da música, o termo “álbum perdido” frequentemente gera confusão. Não se trata de discos que não alcançaram o reconhecimento merecido em sua época, nem de obras fora de catálogo ou ausentes das plataformas de streaming. Também não se refere a produções obscuras, escondidas ou subestimadas que, com o tempo, poderiam ser chamadas de “clássicos perdidos”. A distinção é clara: um álbum “perdido” possui características muito específicas.
Ainda, a definição não abrange trilhas sonoras de bandas fictícias, como os dois álbuns da Drive Shaft, “Drive Shaft” e “Oil Change”, apresentados na série “Lost”. Embora esses pudessem ser considerados “perdidos” no contexto da ficção, a realidade da indústria musical opera sob outros critérios.
Existem duas categorias principais que definem um álbum como “perdido”: A primeira inclui obras que permanecem inéditas. Isso pode ocorrer por decisão do próprio artista, que opta por não lançar o material, ou por entraves com a gravadora, que impede sua distribuição.
A segunda categoria abrange álbuns que, após um longo período sem lançamento, finalmente chegam ao público. Mesmo após sua disponibilização, eles mantêm a percepção de serem “perdidos”, dada a longa espera e a aura de mistério que os cercou antes de sua chegada oficial.
Pensando nisso, a Uproxx fez uma lista dos 25 álbuns “perdidos” mais “famosos” (outros nem tanto assim), mas que vale a pena dar uma conferida. Linkamos abaixo os 5 primeiros.
05. The Who — Life House
O Life House era o projeto ambicioso (e meio insano) de Pete Townshend: uma ópera rock ambientada num futuro onde o rock era proibido, misturando espiritualidade e tecnologia. Ele sonhava com shows contínuos para o mesmo público e até com um computador que criaria uma nota capaz de iluminar a humanidade. O plano desmoronou, mas dele nasceram músicas incríveis como “Baba O’Riley” e “Won’t Get Fooled Again”. Assim, com a ajuda do produtor Glyn Johns, o rascunho utópico deu origem ao clássico Who’s Next.
04. Bruce Springsteen — Electric Nebraska
O problema de Electric Nebraska é simples: o Nebraska original já é perfeito. Suas canções nasceram para soar cruas e solitárias, e é isso que as torna únicas na obra de Bruce Springsteen. As versões com a E Street Band — potentes e cheias de energia — transformam reflexões íntimas em rock vigoroso, mas nunca passam de curiosidades diante da força do álbum original. Electric Nebraska funciona mais como um “making of” sonoro do que como um disco propriamente dito — e, justamente por isso, permanece como o símbolo máximo do que chamamos de “álbum perdido”.
03. Bob Dylan — Great White Wonder
Um dos primeiros “álbuns perdidos” da história, Great White Wonder (1969) é um bootleg que mistura gravações de várias origens: a famosa Minnesota Hotel Tape de 1961, sobras de estúdio, um trecho do The Johnny Cash Show e, sobretudo, sete faixas das lendárias sessões do Basement Tapes com The Band em 1967. Embora todo esse material hoje esteja disponível em versões melhores e oficiais, o disco merece destaque por ter definido a própria ideia de “álbum perdido” — essa noção sedutora de um mundo paralelo de músicas mais autênticas e valiosas do que aquelas que o público “pode” ouvir. Um conceito falho, talvez, mas irresistível — e que torna a experiência de redescobrir esses discos ainda mais divertida.
02. Kurt Cobain and Michael Stipe — Proposed Collaborative Album
Que eu saiba, eles nunca gravaram juntos — mas esse continua sendo o grande “e se?” dos anos 90, o “álbum perdido” que mais me intrigou na adolescência (e depois também). Antes de morrer, Kurt Cobain falava em fazer algo mais próximo do som melancólico do Automatic for the People, do R.E.M., e chegou a planejar uma colaboração com Michael Stipe, que era quase um irmão mais velho para ele. O MTV Unplugged in New York chegou perto desse encontro imaginário, com seu clima íntimo e sombrio, mas ainda é impossível não sonhar com o que Cobain e Stipe poderiam ter criado juntos se tivessem se encontrado em estúdio no meio dos anos 90.
1. The Beach Boys — Smile
Tinha que ser este. No universo dos “álbuns perdidos”, Smile é onde tudo se encaixa. Concebido por Brian Wilson como um projeto tão ambicioso (ou insano) que mal poderia existir, ele era um quebra-cabeça de melodias e letras interligadas, pensado como o futuro dos Beach Boys. Misturava pop psicodélico, letras de Van Dyke Parks e temas excêntricos — de animais de fazenda ao ciclo da conquista americana. Mais que uma curiosidade, tornou-se o ponto de virada na vida e na mente de Wilson. Décadas depois, quando ele finalmente o completou em 2004, o impossível aconteceu: Smile cumpriu tudo o que prometia. Um álbum que transformou o caos em beleza — e definiu, de uma vez por todas, o que é estar “perdido” na música.