“Odessey and Oracle”, dos Zombies, aura atemporal e história improvável

Um dos álbuns mais comentados da psicodelia britânica completou 57 anos. “Odessey and Oracle”, lançado pelos Zombies em abril de 1968, atravessou o tempo como um projeto singular, criado num momento de virada estética na música pop do Reino Unido.

Entre 1964 e o início de 1967, o grupo britânico já acumulava uma série de singles e o LP “Begin Here”. Ao contrário de outras bandas da chamada “invasão britânica”, os Zombies não apostavam em discos conceituais ou longas suítes. O segundo álbum, no entanto, mudaria essa trajetória.

O grupo gravou “Odessey and Oracle” entre junho e agosto de 1967, nos estúdios Abbey Road. As sessões ocorreram logo após os Beatles finalizarem “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” e enquanto o Pink Floyd preparava seu debut, “The Piper at the Gates of Dawn“, no mesmo local.

O contrato com a gravadora CBS permitiu que a banda deixasse a Decca e experimentasse mais controle criativo. Rod Argent (teclado) e Chris White (baixo) assumiram a produção do disco, enquanto os engenheiros Geoff Emerick e Peter Vince deram suporte técnico.

A primeira faixa do álbum, “Care of Cell 44”, traz uma narrativa inusitada sobre uma namorada na prisão, contada por meio de cartas. A música brinca com harmonias vocais próximas das que os Beach Boys faziam no mesmo período, sem deixar de lado o tom britânico.

Outros destaques incluem “A Rose for Emily”, com influência da música barroca, e “Beechwood Park”, marcada por uma melodia nostálgica. “Hung Up on a Dream” cria um ambiente etéreo, evitando os exageros psicodélicos típicos da época.

Uma curiosidade visual marca o disco: a palavra “Odessey” foi grafada de forma errada na capa. O erro do artista visual não foi corrigido e se manteve como parte do título até hoje.

A última faixa, “Time of the Season”, se tornaria o maior sucesso da carreira da banda. Mas, ironicamente, os Zombies já estavam dissolvidos quando a música chegou ao público norte-americano.

A separação aconteceu antes do lançamento do disco nos Estados Unidos, no final de 1968. Tensões internas e frustrações com a falta de retorno comercial precipitaram o fim do grupo, com Colin Blunstone partindo para a carreira solo e Argent montando a banda Argent.

O reconhecimento póstumo do álbum veio graças ao produtor Al Kooper, que havia assumido um cargo na Columbia Records. Após ouvir o disco em uma viagem à Inglaterra, convenceu o presidente Clive Davis a lançá-lo nos Estados Unidos.

Em março de 1969, “Time of the Season” começou a ganhar espaço nas rádios e, em abril do mesmo ano, alcançou o terceiro lugar nas paradas da Billboard. O sucesso foi tardio, mas garantiu ao grupo um capítulo definitivo na história da música dos anos 60.

“Odessey and Oracle”, com suas cores vibrantes, arranjos detalhados e composições elaboradas, segue sendo uma peça reverenciada entre colecionadores e ouvintes atentos. Um disco que parece ter nascido no momento certo, ainda que não tenha sido compreendido de imediato.

Autor

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *