Nos jogos, as trilhas sonoras não servem apenas de fundo, elas moldam a experiência, guiando a jornada de quem joga. Como fã de música e de games, iniciei a série “Ouça o Jogo” justamente para explorar essas trilhas que, por sua vez, transformam histórias virtuais em algo ainda mais envolvente e memorável.
A cada post, vamos investigar uma trilha sonora em particular, abordando a criação das músicas, suas influências culturais e o papel delas na narrativa. O objetivo é mostrar como essas músicas se integram ao enredo e aos personagens, formando uma camada essencial dos jogos.
Para iniciar a série, escolhi Red Dead Redemption 2, cuja trilha traz à tona o velho oeste com precisão e profundidade. Espero que essa série ofereça uma nova perspectiva sobre o impacto dessas trilhas sonoras no mundo dos games.
A trilha sonora de Red Dead Redemption 2, desenvolvida pela Rockstar Games, é o resultado de uma parceria entre Woody Jackson e músicos que, trabalhando juntos, capturam com precisão histórica as nuances do velho oeste americano. Com influências de folk, blues e músicas tradicionais norte-americanas, a trilha foi construída com atenção aos detalhes. Dessa forma, ela reflete o cenário, os personagens e, sobretudo, o contraste entre civilização e natureza selvagem.
A construção da atmosfera do Velho Oeste
Para compor a trilha, Jackson reuniu músicos de estilos variados, que trouxeram autenticidade à sonoridade do jogo. Entre eles, Duane Eddy, com suas guitarras reverberantes, e Mickey Raphael, na harmônica. Jackson também trouxe Gabriel Roth, que ajudou a construir uma base rítmica integrada aos sons do ambiente do jogo.
O trabalho instrumental vai além de simplesmente acompanhar a narrativa; ele insere o jogador no cenário do velho oeste. Com percussão espaçada, harmônica e guitarras, a trilha sonora captura, assim, a imensidão dos desertos e pradarias. O interessante é que os músicos usaram instrumentos da época, como guitarras de ressonância e percussões rudimentares, para um som mais próximo do de época.
O papel das canções cantadas
As canções cantadas ocupam um papel central na construção do jogo. Cada uma representa parte da história de Arthur Morgan e da gangue Van der Linde, com temas de pertencimento, luta e perda. Surgem em momentos importantes da narrativa e ajudam a enfatizar o estado de espírito de Arthur.
- “Cruel World” – Interpretada por Willie Nelson, “Cruel World” é uma música de poucos acordes com temas de arrependimento e redenção. A voz de Nelson traz o peso das experiências de Arthur e a gangue, acrescentando uma atmosfera de vulnerabilidade à jornada.
- “Unshaken” – D’Angelo compôs e interpretou “Unshaken” para refletir o estado emocional de Arthur Morgan. A batida repetitiva e o vocal transmitem resiliência. A letra revela a determinação de Arthur, enquanto o arranjo simples sugere introspecção — algo raro em meio ao caos que cerca o personagem.
- “That’s the Way It Is” – Interpretada por Daniel Lanois, “That’s the Way It Is” acompanha Arthur em um dos momentos mais introspectivos do jogo. Aqui, ele aceita suas escolhas e suas consequências. A música explora resignação e aceitação, refletindo a mortalidade e a impossibilidade de mudança.
- “May I? Standing Unshaken” – Essa faixa instrumental surge em uma transição importante da narrativa. A percussão constante e os arranjos de cordas criam tensão e expectativa. A música captura o conflito interno de Arthur, enquanto o acompanha entre lealdades e na busca por propósito.
- “Mountain Hymn” – Interpretada por Rhiannon Giddens, “Mountain Hymn” é uma canção reflexiva e com poucas palavras. Sua melodia calma reforça o sentimento de perda e conexão com a terra e o ambiente natural. A faixa aparece em uma cena de despedida e reflexão, contrastando com a violência que permeia a vida dos personagens.
A influência do blues, da música folk e das tradições rurais
A trilha explora o blues e a música folk, gêneros fortemente associados às histórias dos Estados Unidos do século XIX, e assim coloca o jogador em contato com a diversidade cultural da época. As influências de spirituals e hinos religiosos também aparecem em algumas faixas, trazendo um contexto espiritual que remete às dificuldades de quem vivia no oeste.
A equipe usou gravações analógicas para obter um som mais orgânico. Assim, com tons de silêncio e espaçamentos entre notas, a trilha amplia a percepção da vastidão das paisagens e, ao mesmo tempo, cria uma sensação de tempo que flui mais devagar.
Game Over
Woody Jackson trabalhou com a Rockstar Games para que a trilha sonora se integrasse ao desenvolvimento de Arthur Morgan e dos personagens. Jackson comentou que sua intenção era fazer com que cada nota e cada silêncio contribuíssem para o entendimento das emoções dos personagens. Assim, essa trilha sonora reflete a narrativa, acompanhando o jogador em momentos de contemplação e ação.
Assim, a trilha sonora de Red Dead Redemption 2 vai além de estabelecer o ambiente; ela adiciona significados à narrativa. Cada canção e tema instrumental reflete o desenvolvimento dos personagens e o enredo. Para o público que aprecia uuma boa música, o trabalho de Woody Jackson e sua equipe nos mostra como a música pode não só construir atmosfera, mas também aprofundar as camadas emocionais e narrativas de uma história.
Ouça a trilha e jogue o jogo
Para quem quer mergulhar no universo de Red Dead Redemption 2, o jogo está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC, além de estar acessível nas novas gerações PlayStation 5 e Xbox Series X/S através da retrocompatibilidade.
A trilha sonora pode ser ouvida nas principais plataformas de streaming, como Spotify, Apple Music e YouTube.
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