Polly Jean Harvey, conhecida mundialmente como PJ Harvey, completou 56 anos em 9 de outubro de 2025. A cantora inglesa é um nome central no rock alternativo, trilhando um caminho singular na cena independente desde o início dos anos 90.
Sua trajetória é marcada pelo som cru da guitarra, pela versatilidade na composição, que abrange eletrônica, folk e indie rock, e pela força vocal. Essas características a estabeleceram como uma artista de destaque.
No período em que o grunge ganhava força, PJ Harvey se apresentou com uma habilidade notável como compositora. Ao longo dos anos, sua carreira continuou a surpreender público e crítica com um estilo musical intenso e direto.
Pra entender um pouco mais de quem é PJ Harvey, separamos 10 canções que melhor representam a carreira da artista.
01. This Mess We’re In (com Thom Yorke)
“This Mess We’re In” começa com a guitarra áspera e característica de PJ Harvey, alternando entre alguns acordes. Mas a primeira voz a surgir não é a dela, e sim a melodia suave de Thom Yorke, do Radiohead. Logo depois, Harvey entra com uma linha que se sobrepõe ao tom sereno de Yorke: “A cidade se põe sobre mim.” A canção segue um clima contido, entre imagens urbanas e um amor possivelmente em ruínas, que parece existir apenas enquanto o sol nasce sobre os arranha-céus — um romance efêmero na cidade.
02. Rid of Me
“Rid of Me” é um marco da PJ Harvey inicial, uma arte bruta onde a essência musical está à flor da pele. Bateria reverberada, guitarra distorcida com acordes abafados e a voz visceral de Polly Jean transitam do sussurro ao falsete, explodindo em gritos no refrão: “Don’t you wish you’d never met her?”. A faixa encerra com uma frase sexual e visceral, cantada com aspereza deliberada, imbuindo a melodia de uma sensualidade crua e terrosa: “Lick my legs of desire / Lick my legs I’m on fire.”
03. Black Hearted Love
PJ Harvey e o músico inglês John Parish lançaram dois álbuns juntos. O segundo LP, A Woman a Man Walked By, foi um tour de force criativo: Parish cuidou da música, e Harvey escreveu e cantou as letras.
Black Hearted Love é uma canção de ‘amor’ visceral que celebra um êxtase particular. Harvey canta: ‘oferecerá sua alma para assassinar’ por seu ‘amor de coração negro’. Com guitarras discordantes que oscilam entre a dureza e toques de doçura, a melodia se destaca entre as raras canções de amor do indie rock.
04. Let England Shake
Embora “Let England Shake”, faixa que dá nome ao álbum, não reflita totalmente o clima geral do disco, é a canção mais alegre do trabalho. O álbum aborda a guerra e a evolução dos conflitos humanos. PJ Harvey alterou seu estilo vocal em várias faixas e fez amplo uso do auto-harpa. Apesar da melodia soar leve e quase infantil, a letra revela algo muito mais sombrio: “O Ocidente dorme / Deixe a Inglaterra tremer, sobrecarregada por mortos silenciosos / Temo que nosso sangue não volte a subir.”
05. A Place Called Home
“A Place Called Home” é uma canção acústica que destaca o uso marcante da voz áspera de PJ Harvey, transformando-a em um instrumento sensual, cheio de desejo e da promessa de um reencontro com quem se ama. A melodia é simples, mas a força da letra e a interpretação intensa da cantora tornam a faixa maior que a soma de seus elementos. “Um dia haverá um lugar para nós”, ela canta. “E a batalha estará vencida / E os aviões continuarão voando / E eu chegarei bem a tempo.”
06. Down by the Water
Ninguém poderia acusar PJ Harvey de evitar imagens sombrias. A canção fala sobre uma mulher que decide afogar a própria filha e, como o título sugere, o ato acontece “junto à água”. A letra foi inspirada em uma antiga canção popular americana, “Salty Dog Blues”. Apesar do tema pesado, “Down by the Water” se tornou um dos maiores sucessos de Harvey. A faixa é conduzida por uma linha de baixo intensa e pela voz bluesy da cantora, que narra uma história brutal: “Tive que perdê-la / Para machucá-la / Ouvi seu grito / Ouvi seu lamento.”
07. Good Fortune
Este single de PJ Harvey poderia ser considerado puro pop, não fosse pela letra e pela voz. O toque indie da cantora transforma “Good Fortune” em uma faixa intensa demais para o pop radiofônico. Na essência, é um bom rock ‘n’ roll, próximo ao estilo dos Pretenders. A melodia, cheia de referências a Nova York — como Little Italy e Chinatown —, contrasta com o videoclipe, filmado inteiramente nas ruas de Londres à noite.
08. A Perfect Day Elise
Se você gosta de comportamentos obsessivos e finais trágicos, “A Perfect Day Elise”, de PJ Harvey, é o que procura. Na canção, Joe é um perseguidor — ou, no mínimo, um homem obcecado pela infeliz Elise. E, claro, Elise precisa morrer, pois o dia perfeito nunca foi realmente dela. A faixa faz referência ao conto “Um Dia Perfeito para os Peixes-Banana”, de J. D. Salinger. A música segue em ritmo acelerado, com batidas ameaçadoras que criam uma intensa sensação de urgência e transmitem ao ouvinte a ansiedade que prenuncia o destino de Elise.
09. Sheela-Na-Gig
Se você não conhece “Sheela-Na-Gig”, pode achar, ao dar play, que está ouvindo uma faixa de Ani DiFranco, tamanha a energia crua e vibrante. PJ Harvey escreveu a canção ainda na adolescência. Ela faz referência às esculturas “Sheela na gig” — figuras femininas com vulvas exageradas encontradas em várias regiões da Grã-Bretanha — e reflete sobre o que é considerado “limpo” ou “impuro” no corpo feminino. É uma obra provocadora, tanto musical quanto sexualmente, e um verdadeiro prazer de ouvir.
10. Happy and Bleeding
“Happy and Bleeding” fala sobre uma mulher que “costura desde o início dos tempos” para cobrir o próprio corpo nu, algo que para ela não faz sentido. A canção começa suave e doce, crescendo até o primeiro refrão. A partir daí, a tensão e o volume aumentam, com uma breve pausa antes de PJ Harvey liberar toda a emoção. “O fruto floresce de dentro para fora”, ela canta. “Estou cansada e sangro por você.” A letra questiona por que uma mulher deveria sentir vergonha do próprio corpo ou esconder a carne que a natureza lhe deu.



