Em março de 1985, o Tears for Fears lançava “Songs from the Big Chair”, seu segundo álbum de estúdio. O disco não apenas consolidou a carreira da dupla britânica — formada por Roland Orzabal e Curt Smith — como também capturou o espírito de uma década marcada por contrastes entre melancolia e otimismo, instabilidade política e liberdade criativa.
A chegada do álbum coincidiu com um momento de efervescência na música pop internacional. Em 1985, o synthpop já havia deixado o status de tendência para se tornar linguagem dominante. Nomes como Depeche Mode, Eurythmics e Pet Shop Boys ganhavam o mundo com suas programações eletrônicas e letras carregadas de introspecção. Mas foi com uma abordagem emocionalmente expansiva que o Tears for Fears marcou seu território.
“Songs from the Big Chair” ocupou um espaço raro: dialogava tanto com o mainstream quanto com ouvintes mais atentos à densidade lírica. O título do álbum foi inspirado na minissérie “Sybil” (1976), protagonizada por Sally Field, cuja personagem encontrava conforto apenas em uma poltrona específica durante suas sessões de terapia. Esse símbolo de proteção emocional norteia a atmosfera de todo o disco.
Lançado em um Reino Unido que ainda lidava com os reflexos do governo Thatcher, o álbum encontrou público também nos Estados Unidos, onde sua estética grandiosa e produção sofisticada combinaram perfeitamente com o som das rádios FM e da emergente MTV. Em julho de 1985, a faixa “Everybody Wants to Rule the World” alcançou o primeiro lugar da Billboard Hot 100, onde permaneceu por duas semanas.

O disco ainda revelou outros sucessos duradouros como “Shout”, “Head Over Heels” e “Mother’s Talk”, cada um com videoclipes que ajudaram a firmar o Tears for Fears como presença constante na televisão musical da época. “Shout”, por exemplo, virou espécie de hino sobre repressão emocional, construído com camadas de sintetizadores e refrão expansivo — um contraponto ao individualismo crescente dos anos 1980.
Na época de seu lançamento, “Songs from the Big Chair” recebeu críticas majoritariamente positivas. O jornal britânico Melody Maker descreveu o disco como “uma combinação de sofisticação pop com honestidade emocional”. Já a revista Rolling Stone ressaltou o contraste entre a produção polida e os temas sombrios explorados nas letras.
Com mais de 10 milhões de cópias vendidas ao redor do mundo, o álbum se manteve como referência estética para bandas das décadas seguintes. Artistas como Keane, Coldplay, MGMT, The 1975 e Paramore já citaram a influência do Tears for Fears, direta ou indiretamente, em suas composições. Em entrevistas recentes, nomes como Lorde e Kanye West também demonstraram apreço pelo som do grupo.
“Songs from the Big Chair” não só resistiu ao teste do tempo como voltou ao debate cultural com reedições, análises e versões ao vivo. Em 2020, a canção “Everybody Wants to Rule the World” voltou às paradas britânicas após viralizar em playlists temáticas durante o início da pandemia — sinal de que as tensões de 1985 ainda encontram eco em tempos atuais.
Quarenta anos depois, o disco permanece como um registro de maturidade precoce, com produção de Chris Hughes e arranjos que equilibram o épico e o íntimo. “Songs from the Big Chair” não foi apenas um sucesso comercial: se transformou num espelho emocional de sua época — e de todas aquelas que viriam depois.
Deixe um comentário