O álbum “Hughes/Thrall”, lançado em 1982, é um projeto que se tornou cult entre os apreciadores de rock e hard rock. A colaboração entre Glenn Hughes e Pat Thrall resultou em um disco inovador, mas que enfrentou dificuldades para alcançar o público esperado. A história por trás desse álbum envolve desafios pessoais, problemas financeiros, métodos de composição distintos e até mesmo turbulências na vida pessoal dos envolvidos.
A origem do projeto
Após sua saída do Deep Purple em 1976, Glenn Hughes lançou seu primeiro álbum solo, “Play Me Out“, em 1977. Esse disco teve pouca repercussão comercial, levando o baixista e vocalista a se afastar temporariamente do mainstream. Nos anos seguintes, Hughes se envolveu em diferentes projetos e participações especiais, enquanto lutava contra seus problemas com drogas.
No início dos anos 1980, Hughes se mudou para Los Angeles e começou a trabalhar com Pat Thrall, um talentoso guitarrista conhecido por sua passagem pela Pat Travers Band. A ideia do projeto nasceu da afinidade musical entre os dois, que buscavam criar um som que misturasse rock, funk e elementos progressivos, indo além das tendências do hard rock da época.
O processo de composição e gravação
A parceria entre Hughes e Thrall trouxe desafios na forma de composição. Hughes, acostumado a um processo mais intuitivo e espontâneo, contrastava com Thrall, que tinha uma abordagem mais técnica e estruturada. Esse choque de métodos gerou momentos de tensão, mas também permitiu que ambos se complementassem artisticamente.
As gravações aconteceram nos estúdios United Western, em Hollywood, e no Shangri-La, em Malibu. O renomado produtor Andy Johns, que já havia trabalhado com Led Zeppelin e The Rolling Stones, foi escolhido para a produção. No entanto, o orçamento do projeto era limitado, o que dificultou algumas escolhas técnicas e a promoção do álbum após seu lançamento.
Para completar a sonoridade do álbum, foram chamados três bateristas distintos:
O primeiro foi Gary Ferguson, um músico de estúdio experiente e professor da Academia de Música Los Angeles, Fergunson trouxe uma pega sólida e dinâmica às gravações. Gary Mallaber, conhecido por seu trabalho na Steve Miller Band e Van Morrison, ajudou a dar mais nuances ao som do álbum, por sua versatilidade. Frank Banalli, que na época estava no Quiet Riot era uma escolha, mas esse acabou deixando a vaga para os outros dois escolhidos.
Problemas pessoais e o impacto das drogas
O uso excessivo de drogas por Hughes teve um impacto significativo na produção do álbum. Em sua autobiografia, “Glenn Hughes: The Autobiography”, ele revela que sua dependência química afetou sua performance e sua capacidade de se concentrar no trabalho. A situação gerou atrasos e problemas na gravação, além de afetar sua relação com Thrall e outros músicos envolvidos.
Hughes também enfrentava problemas pessoais, incluindo um caso extraconjugal que trouxe mais turbulência à sua vida naquele período. Essas questões, somadas aos problemas financeiros e ao desafio de manter a coesão da banda, tornaram o processo ainda mais conturbado.
Quando “Hughes/Thrall” foi lançado em 1982, recebeu críticas positivas, sendo elogiado por sua abordagem inovadora. Faixas como “I Got Your Number”, “The Look in Your Eye” e “Muscle and Blood” destacaram-se pelo equilíbrio entre o vocal poderoso de Hughes e os riffs criativos de Thrall.
No entanto, o álbum teve um desempenho comercial abaixo do esperado. A falta de uma estratégia de marketing eficaz e os problemas pessoais de Hughes impediram que o disco fosse promovido adequadamente. Como resultado, a turnê que se seguiu foi curta e marcada por dificuldades.
Músicas reaproveitadas e colaborações futuras
Algumas das composições que não entraram no álbum foram aproveitadas em outros projetos. “You Were Always There” e “Devil in You” escritas por Hughes para Thrall acabarm entrando em seu álbum From Now On, o primeiro em que ele gravou sóbrio. “Still the Night”, por exemplo, apareceu no álbum “Phenomena” de 1985 e, anos depois, no disco solo de John Norum, “Face the Truth” (1992). Além disso, Thrall voltou a colaborar com Hughes no álbum “Feel” (1995), contribuindo para a faixa “Talking to Messiah”.
From Now On, de 1994.
Still the Night, do disco Face the Truth de John Norum de 1992.
Feel de 1995
Apesar de não ter sido um grande sucesso na época, “Hughes/Thrall” ganhou status cult ao longo dos anos. A sonoridade única e a química entre Hughes e Thrall fizeram com que o álbum fosse redescoberto por fãs de rock e colecionadores. Até hoje, é citado como um dos projetos mais interessantes da carreira de Glenn Hughes.
Embora nunca tenha havido uma continuação oficial, Hughes e Thrall discutiram a possibilidade de um segundo álbum por anos. No entanto, problemas de agenda e outros compromissos impediram que isso acontecesse.
“Hughes/Thrall” representa um momento de criatividade intensa e desafios pessoais para seus criadores. A mistura de estilos, a produção cuidadosa e as composições envolventes garantiram que o disco se tornasse uma referência dentro do rock dos anos 1980. Mesmo com os obstáculos enfrentados, ele continua sendo uma obra respeitada e influente dentro do catálogo de Hughes e Thrall.
A capa e o trackliste de Hughes/Thrall

Hughes/Thrall
I Got Your Number
The Look In Your Eye
Where Did The Time Go
Hold Out Your Life
Who Will You Run To
Coast To Coast
First Step Of Love
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