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Ronnie Von – Uma jornada psicodélica do Pequeno Príncipe

Em uma conversa com meus amigos Luis Fernando Brod e Marcelo Scherer, chegamos a um papo sobre os discos psicodélicos do Ronnie Von. Confesso que estou tentando lembrar como chegamos nesse papo, mas com certeza foi entre uma zoeira mútua e um papo sério sobre música que surgiu o assunto abordado nesse texto: os 3 discos mais psicodélicos do Ronnie Von.

Ronnie Von, nascido Ronaldo Nogueira ou Ronaldo Lindenberg Von Schilgem Cintra Nogueira, nome esse inventado, ainda seja frequentemente referido como o verdadeiro nome do cantor é um dos artistas mais versáteis da música brasileira. Ele começou sua carreira como um ídolo da jovem guarda, movimento que dominou o cenário musical no Brasil durante os anos 1960. e com seu charme, voz suave e presença de palco carismática, Ronnie rapidamente conquistou uma legião de fãs, ganhando o apelido de “príncipe” da jovem guarda.

O final dos anos 1960 foi marcado por uma onda de experimentação e inovação que desafiava as normas estabelecidas, movimentos como a Tropicália estavam redefinindo a música brasileira, misturando influências internacionais com tradições locais, e artistas ao redor do mundo estavam mergulhando na psicodelia, explorando novas sonoridades e formas de expressão.

E foi nesse contexto de efervescência criativa que Ronnie Von decidiu romper com sua imagem de galã da jovem guarda e embarcar em uma jornada musical mais ousada e experimental, influenciado pela psicodelia e pelos ventos de mudança que sopravam pelo mundo, ele começou a explorar novas direções artísticas, abraçando um som mais complexo e introspectivo. A decisão de se afastar do estilo pop convencional para mergulhar no rock psicodélico foi uma escolha corajosa que refletiu seu desejo de crescimento artístico e seu compromisso com a inovação.

Entre 1968 e 1970, Ronnie Von lançou três álbuns que se destacaram pela originalidade e pela audácia em explorar novas fronteiras musicais: “Ronnie Von” (1968), “A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre Contra o Império de Nuncamais” (1969) e “A Máquina Voadora” (1970).

Esses discos marcaram a transformação em sua carreira, consolidando-o como um artista visionário e um precursor do rock psicodélico no Brasil. A mudança para o psicodélico não só expandiu os horizontes musicais de Ronnie, mas também influenciou gerações de músicos e continua a ser considerada como uma das fases mais criativas e inovadoras de sua trajetória artística.

Ronnie Von (1968)

Ronnie Von (1968) – Polydor

Lançado em 1968, este disco representa uma mudança radical na carreira de Ronnie Von, que se afastou do estilo jovem guarda que o havia consagrado para explorar um som mais experimental e psicodélico, refletindo a efervescência cultural e a psicodelia que dominavam a cena musical da época. O álbum foi uma tentativa ousada de romper com as convenções e descobrir novos horizontes musicais e contando com a participação de músicos renomados, como o maestro e arranjador Rogério Duprat, uma figura chave no movimento tropicalista. O disco também inovou com capas diferentes para cada lado do LP, algo raro e vanguardista. Essa abordagem audaciosa encontrou resistência da gravadora, preocupada com a recepção de um som tão distinto do que o público estava acostumado a ouvir de Ronnie.

O álbum foi recebido com certa surpresa pelo público e crítica, acostumados com o Ronnie Von da jovem guarda. Embora não tenha sido um sucesso comercial imediato, ganhou status de cult com o passar dos anos, sendo reconhecido como um precursor do rock psicodélico brasileiro. Hoje, é considerado um marco na discografia de Ronnie Von e um exemplo de sua coragem artística.

A misteriosa luta do reino de parassempre contra o império de nuncamais (1969)

A misteriosa luta do reino de parassempre contra o império de nuncamais (1969) – Polydor

Lançado em 1969, “A misteriosa luta do reino de parassempre contra o império de nuncamais” é amplamente considerado uma obra-prima do rock psicodélico brasileiro e uma das produções mais ambiciosas de Ronnie Von. Este álbum não apenas simboliza um momento de maturidade artística para Ronnie, mas também representa uma verdadeira viagem sonora que desafia as convenções musicais da época. Explorando a fronteira entre fantasia e realidade, o disco oferece uma rica referência literária e musical, cheias de simbolismo e complexidade. O título do álbum, faz alusão ao eterno conflito entre a permanência e a mudança, encapsula a dualidade da vida e a busca incessante pelo equilíbrio entre o novo e o tradicional.

A criação deste álbum foi um processo meticuloso e inovador, com Ronnie Von e sua equipe de produção dedicando meses à experimentação de diferentes sons e técnicas de gravação. Essa abordagem permitiu a construção de um universo sonoro único, repleto de camadas e nuances que capturam a imaginação do ouvinte. Entre as muitas inovações do disco está sua estrutura conceitual, que era particularmente audaciosa para a época e especialmente no contexto da música brasileira. Cada faixa do álbum contribui para uma narrativa coesa, imbuindo o trabalho com uma profundidade rara e uma coesão que transcende a simples coleção de canções. A complexidade do álbum e seu caráter visionário não passaram despercebidos, e hoje, é visto como uma obra seminal do rock brasileiro, com um impacto duradouro na música psicodélica e progressiva do país.

A Máquina Voadora (1970)

Arte da contracapa do álbum “A máquina voadora” – Polydor

Em 1970, Ronnie Von lançou “A Máquina Voadora“, um álbum que aprofundou sua jornada pelo rock psicodélico e progressivo, destacando-se pela maturidade e sofisticação em sua abordagem musical. Este disco é uma combinação de experimentação sonora e explorações temáticas que giram em torno da liberdade e da imaginação, refletindo a busca incessante por inovação e originalidade. O título e a temática do álbum remetem à invenção e à criatividade, simbolizando a vontade de transcender os limites musicais e explorar novas fronteiras artísticas.

A contracapa do disco, com suas imagens evocativas de voo e liberdade, serve como um reflexo visual da experimentação sonora presente nas faixas. “A Máquina Voadora” foi aclamado pela crítica por sua complexidade e inovação, e embora não tenha alcançado grandes números de vendas, é considerado um clássico do rock psicodélico brasileiro. A coragem de Ronnie Von em se aventurar por novos territórios musicais influenciou diversas bandas de rock progressivo que surgiram no Brasil nas décadas seguintes, solidificando seu legado como um pioneiro e visionário no cenário musical do país.

Fonte de pesquisa: Biografia do Ronnie Von – Amazon

Autor

  • Julio Mauro

    Júlio César Mauro é um nerd de carteirinha e pai de duas meninas, com um jeito peculiar, às vezes um pouco ranzinza, e sempre lidando com o desafio de viver com TDAH. Sua carreira na música não foi como ele esperava, mas ele se destacou na TI, onde já soma 26 anos de experiência. Conhecido por ser franco e por um senso de humor afiado que nem sempre é entendido por todos, Júlio também teve uma fase como co-apresentador do programa Gazeta Games na Rádio Gazeta de São Paulo, onde mostrou seu lado gamer. E a música? Continua sendo uma de suas grandes paixões.

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