Rubber Soul fazendo 60 anos e continua sendo um dos maiores álbuns da carreira do Fabfour.
Gravado durante apenas um mês, trouxe clássicos que viriam a ser regravados incansavelmente. Acompanhado pelo single que vinha We Can Work It Out e Day Tripper, contém 14, sendo duas delas que não forma incluídas em Help, lançado no mesmo ano.
Além disso, mostra um ponto da banda que entrega a mudança lírica; uma maturidade e brilhantismo nos acordes que vinham acompanhados de novos instrumentos, como a cítara. A evolução viria a ser desenvolvida nos álbuns seguintes, mas cada faixa é uma história que merece ser contada.
Com os primeiros experimentos psicodélicos, com a presença de folk, rock, soul, barroco, é o início da viagem de LSD que acometeria à todos os artistas na época, principalmente os Beatles. Reflexão, ambiguidade, mostra um John Lennon mais introspectivo, tem um toque emocional e reflexões sinceras.
O ponto de tudo é o antes e depois de Rubber Soul.
Rubber Soul – Faixa a Faixa
- Drive My Car
Abrindo o Rubber Soul com guitarras e o baixo de Paul McCartney, vem inspirado em “Respect” no seu modo de produzir; sugestão de George Harrison. A faixa é o desejo de uma atris se tornar uma estrela e a promessa ao narrador de que ele pode ser seu motorista. No fundo, é uma paródia do status de celebridade da banda e dos aspirantes a status que eles encontraram, além de insinuações sexuais bem mascaradas.
- Norwegian Wood (This Bird Has Flyn)
O encontro fracassado extraconjugal de Lennon cm uma garota misteriosa é o núcleo da faixa. A letra descreve o encontro onde ela vai pra cama e John dorme na banheira. Pela indiferença, ele resolve incendiar sua casa revestida de pinho.
Com o fator de ambiguidade sexual e a sensação de poder, a narrativa é um pé no estilo de Bob Dylan.
- You Won’t See Me
Mais uma de Paul, baseia-se nas dificuldades de seu relacionamento com Jane Asher, devido à recusa dela em colocar sua carreira de atriz em segundo plano em relação às suas necessidade.
Traz linhas de baixo no estilo Motown e versos que remetem ao Four Tops.
- Nowhere Man
Feita sob a pressão de Lennon em si mesmo, reflete seus problemas existenciais levantadas pela LSD e seu período “Elvis Gordo”, como costumava dizer.
A faixa também é a primeira a não focar em garotas e amor. Lennon se entrega em terceira pessoa, o que nos traz a primeira personagem na história da banda.
- Think For Yourself
Harrison assinando a faixa e repreendendo um personagem. Pela influência de Postively 4th Street, de Bob Dylan, é como uma canção de prostesto, tem uma qualidade absurda que traz reviravoltas sonoras e lírica.
- The Word
Mais uma faixa baseando-se na LSD, você diz a palavra e será livre: Amor!
Com influência de Wilson Pickett e James Brown no andamento, mostra a habilidade de McCartney no baixo, além de toda a a exortação de Lennon em relação à contracultura do Verão do Amor de 1967.
- Michelle
Uma das mais lindas e harmoniosas do grupo, foi criada no final da década de 1950, falando sobre um casal fadado ao fracasso devido à barreira linguística. Uma faixa que se encaixaria tanto no romance de porto quanto em um cabaré francês.
- Whats Goes On
Ringo Starr enfiado no country e recebendo seu primeiro crédito como co-compositor! Com pitadas de rockabilly fala sobre o narrador lamentando o engano da mulher amada.
Quando questionado sobre sua contribuição, Starr respondeu em tom de brincadeira: “Escrevi cerca de cinco palavras para e não fiz mais nada desde então.”
- Girl
Uma premonição, a faixa era a procura de Lennon sobre uma mulher arquetípica e que finalmente encontraria em Yoko Ono no ano seguinte. A faixa também mostra o desprezo pelos valores morais cristãos.
A faixa é o oposto de Norgewian Wood. Um quer incendiar e o outro quer calmaria.
- I’m Looking Through You
Mais uma faixa de McCartney sobre Ahser, é a desilução de um encontro cara a cara entre os dois, onde o narrador amadureceu e a mulher não conseguiu acompanhá-lo.
Só mostra que o ego de McCartney era terrível nessa época.
- In My Life
Talvez a favorita de todos, é considerada por próprio Lennon como sua primeira grande obra de verdade, evocando sua juventude em Liverpool e a nostalgia. O solo de piano é feito por George Martin, inspirado em Bach.
Segundo McCartney, a inspiração veio de Smokey Robinson and The Miracles.
- Wait
Gravada no último dia de estúdio, entrega energia ao álbum, sendo uma faixa que coloca ansiedade e euforia no encontro de um casal. A faixa também é lembrada pelas mudanças rítmicas de Ringo Starr no decorrer.
- If I Need Someone
A primeira canção de amor de George Harrison à sua esposa, Pattie Boyd, traz um riff de guitarra inspirado nos Byrds. Além disso, ela já entrega os primeiros passos e influências da música indiana que viria acometer fortemente George.
- Run For Your Life
Gerada pelo embrião de Baby Let’s Play House, um dos primeiros singles de Elvis Presley, traz o ciúmes como tema central e frases pesadas como “Eu prefiro te ver morta do que estar com outro nome”.
Foi a primeira canção de Rubber Soul a ser gravada.
Legado
A música pop nunca mais foi a mesma coisa após o lançamento de Rubber Soul. É um ponto de virada que influenciaria tudo que é cultural.
Querendo ou não, se este disco não fosse lançado não teríamos clássicos do The Who, Rolling Stones, The Kinks e principalmente Pet Sounds dos Beach Boys”. Segundo Brian Wilson, Rubber Soul foi o primeiro álbum que ouviu em que todas as músicas eram incríveis.
A porta para o experimentalismo foi arrombada! Love, Jefferson Airplane e o Velvet Underground seriam encorajados a serem criados, mudarem seu estilo, diante de toda a possibilidade que o álbum entregaria.
A união do pop com arte vai desde a sua capa até sua produção. Do mesmo modo que Rubber Soul entrega sofisticação, entrega genialidade.
Rubber Soul nos tirou do ontem e colocou no hoje, além de ter semeado as sementes da psicodelia. Feito para ser pensado, não ser dançado.



