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Skunkworks, o disco grunge de Bruce Dickinson

Quando 1995 chegou, Bruce Dickinson já tinha dois álbuns em seu currículo: Tattooed Millionaire , que foi lançado em 1989 e contou com Janick Gers na guitarra (ironicamente, Gers e Adrian Smith eram melhores amigos e Gers sucedeu Smith no ano seguinte). E não muito depois que ele deixou o Iron Maiden, lançou Balls to Picasso em 1994. Enquanto Bruce se divertia fazendo música sozinho, ao mesmo tempo, ele queria começar uma nova banda.

E olha só como a vida é engraçada e a gente só vai entender algumas coisas muito tempo depois: Esta banda que seria chamada de Skunkworks era um grupo de rock progressivo de quatro integrantes que infelizmente durou pouco. Conflitos no marketing do estúdio e as intenções de Bruce impediram que essa banda realmente decolasse e, como resultado disso, o álbum que eles gravaram juntos teria que ser lançado com o nome de Bruce no ano seguinte. Infelizmente, o que não melhorou muito as coisas foi o fato de que a banda como um todo deixaria de existir após o fim da turnê de apoio.

É engraçado pensar que Bruce Dickinson fez este disco. De verdade. Pra todo fã do Iron, e se eu estiver falando alguma bobagem você me corrija ai nos comentários, o que vc espera de um disco com o nome Bruce Dickinson? Que soe como… Iron Maiden. E é ai que mora o perigo. Me entenda, uma coisa é o Bruce como vocalista do Iron Maiden. Outra coisa é ele em carreira solo. E a esta altura, ele estava experimentando, testando coisas novas.

Skunkworks está longe de ser um disco ruim. Talvez ele tenha sido incompreendido naquele momento, já que em 1996 nós vivíamos o auge da explosão do Grunge. Não vou entrar no mérito aqui das bandas, até porque quero fazer um episódio especial sobre isso. Mas Bruce, como eu falei no início do vídeo, estava se divertindo fazendo música sozinho, ele podia experimentar.

Mas ai, o lance dele era ter feito um projeto voltado pro prog, coisa que o Iron abraçou de vez a partir de Matter of Life and Death. E veja bem, em 1995 o Iron lança um puta disco chamado The X-Factor, com uma sonoridade totalmente voltada para o prog. A cabeça do fã mais true do Iron deve ter entrado em psicose nessa hora.

Sobre o projeto, Bruce disse o seguinte, abre aspas ai editor: “Fiquei arrasado com a coisa do Skunkworks. Skunkworks foi um disco que eu me desfiz para fazer e ninguém parecia dar a mínima.” O álbum também não conseguiu causar uma boa impressão nas vendas e as pessoas ainda não perdoariam o pobre Bruce por deixar o Maiden.

Skunkworks é provavelmente um dos álbuns mais surpreendentemente diferentes que você poderá ouvir. Veja bem, ele não é apenas um afastamento do Maiden, mas um afastamento dos dois álbuns que o precederam. Nenhuma das músicas nele pode ser considerada metal, e duvido que até mesmo o próprio Bruce tentaria anunciá-lo como tal.

A decisão de Bruce Dickinson de se afastar do Iron Maiden foi crucial para a concepção de ‘Skunkworks’. Livre das expectativas associadas à banda, ele teve a liberdade de explorar novas ideias e colaborar com músicos que trouxeram diferentes perspectivas para o projeto. Essa liberdade criativa resultou em Skunkworks, que embora tenha dividido opiniões na época, é agora visto como um marco na carreira solo de Dickinson.

O álbum tem um som de rock progressivo alternativo, e é engraçado que eu mencione a parte “alternativa”, pois ele foi lançado no mesmo ano em que o Metallica lançou o disco Load, que também marcava outro direcionamento na banda. Pode parecer improvável que Bruce tenha se voltado para tal direção quando, em algumas entrevistas, ele se gabava de sua posição no Heavy Metal.

Além disso, o ano de 1996 viu o lançamento de outros álbuns importantes que contribuíram para o cenário musical diversificado. Obras como ‘Down on the Upside’ do Soundgarden e ‘No Code’ do Pearl Jam exemplificam a influência do grunge e do rock alternativo naquele período, contextos que também moldaram ‘Skunkworks’.

Como eu já mencionei, o disco é frequentemente visto como a tentativa de Dickinson de fazer grunge, e a contratação do produtor Jack Endino, que já havia produzido Bleach do Nirvana, Ultramega Ok do Soundgarden, L7, Mudhoney entre outros, além de ser um dos responsáveis pela gravadora Sub Pop, que revelou muitos nomes famosos da cena grunge estadunidense ao mundo todo. E essa contratação certamente soou suspeita na época.

Endino é famoso por suas técnicas de produção minimalistas, enfatizando uma abordagem mais “ao vivo” e autêntica. Para ‘Skunkworks’, ele implementou métodos que priorizavam a captura da energia bruta das performances de Dickinson e sua banda. Ao evitar o uso excessivo de overdubs e efeitos de estúdio, Endino conseguiu preservar a sinceridade e a intensidade das gravações, resultando em uma textura sonora que ressoava com a honestidade e a simplicidade do movimento grunge. A influência de sua abordagem é evidente em faixas como “Back from the Edge” e “Inertia”, onde a produção crua e direta complementa perfeitamente as letras introspectivas e o vocal robusto de Dickinson.

Sua habilidade em capturar a essência do som de uma banda, sem comprometer sua autenticidade, é uma característica que permeia sua carreira. Em ‘Skunkworks’, esta habilidade foi instrumental, permitindo que Bruce Dickinson explorasse territórios sonoros novos e desafiadores enquanto mantinha uma conexão com a sua base de fãs.

O disco tem uma forte influência de Alex Lifeson do Rush. Aqui, Dickson ficou muito mais focado em texturas e riffs do que em solos. Isso permitiu que Dickson se espalhasse sonoramente e também minimizou qualquer comparação com aquele paredão de guitarras gêmeas, tão características no Iron Maiden. Esse trabalho ficou por conta de Alex Dickson, que não tem parentesco algum com Bruce e na época tinha por volta de 20 anos. Apenas a título de curiosidade, Alex já foi músico de estúdio de apoio de Robbie Williams.

Completando o time, o baixista Chris Dale e o baterista Alessandro Elena fornecem uma espinha dorsal sólida e concisa para as músicas, mantendo as coisas sem nunca monopolizar os holofotes. A produção de Endino dá à seção rítmica aquele punchzinho dos anos 1990.

O nome “Skunkworks” carrega uma conotação de inovação e segredo, originado dos projetos experimentais da Lockheed Martin, fabricante de produtos aeroespaciais durante a Segunda Guerra Mundial. Bruce Dickinson, conhecido por sua habilidade em explorar novos territórios musicais, escolheu esse título para simbolizar a natureza experimental e ousada do álbum. Esta escolha de nome já sugere uma desvinculação dos trabalhos anteriores com o Iron Maiden, como eu mencionei anteriormente já.

Além do título, a capa do álbum “Skunkworks” também reflete essa abordagem inovadora. Criada por Storm Thorgerson, famoso por suas colaborações com Pink Floyd, a arte da capa é abstrata e intrigante. A imagem, que parece uma fusão de elementos tecnológicos e naturais, cria uma atmosfera de mistério e exploração, perfeitamente alinhada com o conteúdo musical do álbum. Em contraste, as capas dos álbuns do Iron Maiden são mais diretas, muitas vezes apresentando o mascote Eddie em cenários fantásticos ou apocalípticos, estabelecendo um tom mais agressivo e teatral.

Storm Thorgerson

O álbum tem muitos destaques e mostra muitos lados que você nunca pensou que Bruce tivesse. “Faith” mostra um lado mais “sujo” de Bruce, e você até pode pensar que isso não combinaria com sua voz, mas quando você ouve sua entrega vocal no refrão, você é imediatamente provado ao contrário. A letra é um pouco confusa e um pouco ambígua, mas sua voz combina com ela, e há um trabalho de guitarra realmente ótimo, com um solo matador do guitarrista Alex Dickson.

“Inside the Machine” é o mais próximo que este álbum chega de soar mais metal. É cativante e rápida, e tem um refrão digno de cantar junto. É nesta música onde as influências progressivas do álbum são mais aparentes, com alguns tons de Porcupine Tree e um toque de rock alternativo jogados lá na medida certa. A faixa mais única, no entanto, é “Headswitch”. É a única faixa do álbum com menos de três minutos, e a única música em que Bruce não canta em um registro alto na melodia vocal principal. Há duas faixas vocais sobrepostas cantando a mesma melodia, o que adiciona uma sensação assustadora a uma música que de outra forma seria cativante. A letra fala sobre mutação genética.

“Meltdown” é uma música pesada e esmagadora sobre ser arrancado das pessoas que você mais precisa, e Bruce canaliza seu registro rouco que ele usou durante o período do Maiden dos anos 90 às vezes.

O disco ainda tem pérolas como Inertia, Solar Confinement, Octavia, Innerspace, Dream State, I Will Not Accept The Truth, enfim. O mais louco é que este disco ficou esquecido desde 1996, quando eu o comprei. É verdade. eu o ouvi só aquele ano, e fiquei preso só a Faith. E olha ai, quase 30 anos depois, depois de uma conversa com meu amigo Marcelo ele me incentivou a reouvir o disco. O resultado é este vídeo.

Bom, Bruce Dickinson lançou neste ano de 2024 o The Mandrake Project, onde ele resgatou Faith deste disco. Aliás, em um recente entrevista ao site LoudWire, Bruce revelou que está trabalhando em um remix e uma mixagem em Dolby Atmos de seu álbum de 1996, Skunkworks. O álbum ficou marcado por ter um som mais alternativo, que o diferenciava de materiais anteriores.

Depois de tudo isso te convido a ouvir o disco e a me responder: Skunkworks realmente é o DISCO GRUNGE DE BRUCE DICKINSON. Comenta ai.

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