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Smashing Pumpkins: A jornada da banda e o aquecimento para os shows no Brasil

Conheci o Smashing Pumpkins em 1998, de um jeito inusitado: assistindo ao saudoso Programa Livre, no SBT. Na época, ainda não era tão rotineira a presença de bandas gringas em nosso país, que dirá participando de um programa em TV aberta (e com Ronaldo Fenômeno na plateia). Aqueles seres de preto e um tanto mau humorados pareciam meio alienígenas para mim, o que só me deixou ainda mais intrigado. Não lembro exatamente onde, mas na sequência acabei assistindo ao clipe de “The End is the Beginning is the End” música da banda para a trilha do filme Batman & Robin (1997). Ali a estranheza e o fascínio aumentaram ainda mais, com a banda tocando uns instrumentos bem esquisitos, sem falar que a música era muito boa (e ter imagens de um filme do Batman também ajudou a cativar o nerd aqui).

Smashing Pumpkins no Programa Livre. Crédito: Imagem capturada do Youtube

Mal sabia eu que, aquela altura do campeonato, o auge de público e crítica atingidos com o disco duplo “Mellon Collie and the Infinite Sadness” (1995) já havia ficado para trás, e o grupo passava por um período bem turbulento. Reza a lenda que Billy Corgan, o líder da banda e notório controlador, já havia anteriormente gravado quase todos os instrumentos do segundo disco, “Siamese Dream” (1993). Na época da participação no programa do Serginho Groissmann, a banda vinha ao Brasil promovendo o disco “Adore”, lançado naquele mesmo ano, e que tinha sido considerado um fracasso de vendas (que era a métrica de sucesso na época). Além disso, boa parte da crítica não entendeu a mudança de direcionamento artístico: saíam as guitarras distorcidas e a bateria única de Jimmy Chamberlain, e entravam sons eletrônicos e uma ambiência muito mais contemplativa. A saída do baterista foi parte de um processo traumático, ocorrido durante a longa turnê que promovia o álbum de 1995, que envolveu o cliché do excesso no consumo de drogas, e que resultou na morte, por overdose, do tecladista de turnê Jonathan Melvoin.

Depois de “Adore”, veio ainda “Machina/The Machines of God (2000)”, já sem a baixista D’Arcy, substituída por Melissa Auf der Mar (ex-Hole), que até tem alguns bons momentos, naturalmente não comparáveis aos clássicos dos três primeiros discos, mas prejudicados por uma produção que comprimiu demais a sonoridade do disco. Nessa época, o trabalho da banda já não era mais tão relevante e, considerando que os problemas com a formação já não eram recentes, não demorou muito para o anúncio do fim.

O que veio depois não é tão digno de nota. Billy Corgan lançou uma banda nova promissora que ficou pelo caminho, o Zwan, e um disco solo que ninguém ouviu, até resolver retomar o nome da banda, iniciando uma sequência interminável de troca de integrantes, em meio a shows modorrentos (vide o festival Planeta Terra 2010), e discos com pouca inspiração (Oceania, de 2012, até tem seus momentos).

James Iha participou do supergrupo Tinted Windows, e manteve uma carreira solo interessante mas discreta, assim como sua personalidade. Jimmy Chamberlain ainda teria outras passagens pelo grupo, até que, em 2018 a banda anuncia uma turnê com o retorno de Iha (que não tocava com a banda desde a separação, em 2000). Ou seja, ¾ da formação original estavam de volta!

De lá para cá, foram lançados três discos, o curto (uma raridade) e não muito marcante “Shiny and Oh So Bright vol. 1” (2018). Na sequência veio o desastroso e focado em sintetizadores “Cyr” (2020) e, em 2023, dando sequência aos delírios megalomaníacos de seu líder, os abóboras lançam “ATUM”, uma opéra rock em 3 atos e 33 faixas (!), que foi anunciada como uma sequência ao clássico Mellon Collie…e soa com uma mescla dos dois discos anteriores, com alguns poucos momentos inspirados.

O disco novo “Aghori Mhori Mei”

Ao anunciar o novo disco, meio que de surpresa e sem nenhum single de divulgação prévio, Billy Corgan andou falando sobre as formas da banda fazer música no início dos anos 90, sua fase áurea, o que acabou criando expectativas de onde já não se esperava nada. Infelizmente, de lá é que não veio muita coisa mesmo.

“Aghori Mhori Mei” é o 13º álbum do grupo de Chicago, e de certa forma, até que faz jus ao que Corgan andou dizendo. Os sintetizadores, proeminentes nos últimos discos, ainda estão aqui, mas de forma um pouco mais discreta, em canções que privilegiam um som mais orgânico e pesado, sem esquecer de uma ou outra balada. Lembra sim, mesmo que vagamente, os três primeiros discos do grupo, com um problema básico: o repertório é ruim. A banda sempre trabalhou com algumas matizes do heavy metal no seu som “clássico”, mas com maior variação de climas e arranjos, e com um pé no progressivo em matéria de conceito e estética.

Sei que comparar o trabalho atual com uma obra-prima como “Siamese Dream” é covardia, o problema é que aqui quase tudo soa como um pós-grunge genérico, sem nenhuma canção que se destaque.

Mesmo assim, torço para que a banda siga apostando na simplicidade em futuros lançamentos (porque ninguém precisa de mais um disco triplo no mundo). Mas um pouco mais de inspiração viria a calhar. A ver se alguma dessas músicas aparece no setlist dos futuros shows. Falando neles….

Os shows no Brasil

Em novembro de 2024, desembarca no Brasil a “The World is a Vampire Tour”, com shows em Brasília (01/11) e São Paulo (03/11), nove anos depois da última vinda ao país (ainda sem o retorno dos membros fundadores Jimmy Chamberlain e James Iha). Como preparação para os shows, fui fazer aquela pesquisa básica no setlist.fm, e montei uma playlist com as músicas mais tocadas ao longo de 2024:

Ao longo dos anos em que o teimoso Billy Corgan tocava a banda praticamente sozinho, eram frequentes as reclamações nos shows, por conta dos setlists focados quase que exclusivamente em músicas novas, o que felizmente não ocorre aqui. A grande maioria das músicas vêm da primeira fase do grupo e, surpresa, algumas boas faixas de “ATUM”, como “Spellbinding”

Além das músicas da playlist, geralmente o grupo toca uma versão de “Zoo Station” do U2 ou de “Once in a Lifetime” do Talking Heads. Além disso, rola uma jam com “Gossamer” (um longo b-side do disco “Zeitgeist”) geralmente emendada com “Spaniards”, da carreira solo de Billy.

Mas show bom é show em que faltam músicas para tocar, certo? Dito isso, queria citar algumas músicas que eu colocaria no setlist (de preferência, em detrimento das mais recentes) e que não vêm sendo tocadas na atual tour.

Lembro de ler a crítica do disco Machina na finada revista Bizz (não lembro quem assinava), e era mais ou menos na linha do “é irregular, mas quando é bom, é MUITO bom”. Sou obrigado a concordar, e dele eu gostaria de ver no setlist a balada “Stand Inside Your Love” e a auto-explicativa “Heavy Metal Machine”. De “Adore” a também auto-explicativa “Perfect”.

Do “Siamese Dream” e do “Mellon Collie and the Infinite Sadness” eu não consigo destacar muita coisa, porque por mim eles tocariam os dois na íntegra, mas do disco duplo de 1995, eu sinto falta do trem descarrilhando “An Ode to no One”.

Já de Gish (1991), o primeiro disco da banda, senti falta justamente da primeira faixa “I Am One”.

Mesmo assim, os shows prometem! Nos vemos por lá!

Autor

  • Virgilio Migliavacca

    Virgilio Migliavacca (@virchico no X – @virgiliomm no Instagram) é servidor público, trabalhou 10 anos na área de financiamento a projetos culturais pelo Governo do Estado do RS. Pai do Théo, apaixonado por quadrinhos, rock alternativo e por uma IPA gelada.

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