O The Who fazia sua estreia há 65 anos com uma frase que ecoaria pela eternidade: I Hope I Die Before I Get Old.
Apenas John Entwistle e Keith Moon levaram a frase ao pé da letra. Se Pete Townshend tivesse explicado antes que o sentido da frase era o de ficar rico, talvez teríamos ainda um dos melhores bateristas e do melhor baixista da história do rock entre nós. Imagina o The Who com a formação original hoje?
Gravado no período de sete meses, My Generation teve apenas um motivo para seu lançamento: emplacar seus primeiros singles nas paradas. Apesar de não ter vendido tão bem, o álbum é a prova mais pura do pop mod, R&B, power pop e proto-punk. A junção disso tudo era o grito dado pelos fãs e pela própria banda: MAXIMUM R&B!
My Generation – A história
A faixa-título, escrita por Pete em uma viagem de trem, traz a lenda de que se originou quando a Rainha Elizabeth mandou rebocar seu carro, um Packard funerário, pois se sentiu ofendida pela sua presença durante seu passeio diário.
Logo de cara, a faixa é um grito de se encontrar na sociedade, de fazer parte. Tudo que o The Who não era, em um ano em que comportados Beatles e Beach Boys reinavam. Até com os Rolling Stones eles podiam chegar perto. Mas a sonoridade do Who era diferente.
John Entwistle, enquanto colocava linhas de baixo de jazz e Moon fazia viradas monstruosas até nas músicas mais simples, Pete Townshend fornecia melodias simples, porém poderosas, somadas aos berros de Roger Daltrey.
Rápido e agressivo, My Generation apresenta um dos primeiros solos de baixo da história. Para um primeiro álbum, o The Who abriu as portas pela guitarra arremessada de Townshend.
My Generation – O álbum
Abrindo na mais pura essência de rhythm and blues, Out In The Street mostra que a banda não estava pra brincadeira. O conselho é ouvir em alto e bom som e se impressionar com cada virada de Keith Moon.
I Don’t Mind é uma balada Motown. Em contrapartida, The Good’s Gone dá um pequeno vislumbre da banda futuramente, com efeitos sonoros e guitarras duplicadas.
La-La-La-Lies é um dos exemplos crus de pop britânico, em uma letra que trata de mentiras e falsidades nas relações, principalmente quando alguém fala de você pelas costas.
Much Too Much é mais melancólica que a antecessora, mas traz uma tensão emocional, falando de relacionamentos sufocantes.
The Kids Are Alright estourou como single e está incluída na lista de 500 Canções que Moldaram o Rock and Roll no Hall da Fama do Rock. Até hoje, um hino na história do The Who, viria a ser gravada pelo Goldfinger, Green Day, Pearl Jam, Patti Smith e pelo próprio Keith Moon em seu único álbum solo, Two Sides of The Moon.
Please Please Please segue e é a homenagem da banda ao James Brown. Totalmente diferente da versão original, o The Who se rasga, entregando talvez até uma performance mais dramática e intensa.
It’s Not True é uma lista de negações de Pete Townshend, além de ser uma de suas primeiras composições onde usa humor, ironia e crítica social. Na faixa é declarado, verso após verso, que cada fofoca dita sobre ele é mentira. Quase cômico, e até de se pensar o que se passou para Townshend colocar a fofoca como tema central em mais uma faixa.
Mais um cover, desta vez de Bo Diddley, I’m a Man era tocada sempre nas primeiras apresentações do The Who, quando a banda tinha um repertório baseado em covers. Em A Legal Matter, Pete Townshend assume os vocais, trazendo uma temática incomum ao rock da década de 1960: o medo de casamento, responsabilidades e problemas legais ligados aos relacionamentos. Comicamente, fala sobre as tentativas de escapar das expectativas sociais de um casamento e as pressões da parceira que está doida para casar.
The Ox fecha o álbum de modo magistral. Feita em improviso, com Nicky Hopkins assumindo os teclados, é a gravação mais antiga conhecida do The Who, tendo como título o apelido de John Entwistle, que era conhecido por “comer, beber e fazer mais do que todos”, segundo a banda. Infelizmente, só há uma gravação ao vivo conhecida da faixa.
My Generation – Legado
Dado como o disco mais pesado da época, ele faz parte da coleção básica de qualquer historiador de rock. Você consegue sentir o cheiro de jovens mods suados e eletrificados pelo uso de anfetaminas, que dançavam até o dia amanhecer, em porões londrinos, em cada faixa. Aliás, os caras do The Who eram usuários da substância.
My Generation é mais do que o primeiro álbum do Who. Ele é um registro histórico de como os jovens se portavam diante da sociedade, de seus medos e incoerências.
Não era apenas o R&B que estava no Maximum. Era a sede de viver e de experiências. E como todos já sabem, isso foi levado a sério na mesma velocidade que Keith Moon forçava a banda a tocar ao vivo.
My Generation é gigante.



