Crítica | “Springsteen: Salve-me do Desconhecido”

Victor Persico
4 minutos de leitura
Springsteen: Devliver Me From Nowhere Foto: Macall Polay (2025 - 20th Century Studios)

Springsteen: Salve-me do Desconhecido não é um mar de flores. Assim como o álbum Nebraska, a curva fora do ponto da discografia do The Boss, o longa é denso, mostrando um dos momentos mais sombrios da carreira e vida de Bruce Springsteen.

O filme, inspirado no livro Deliver Me from Nowhere (2023), de Warren Zanes, foi dirigido por Scott Cooper, trazendo Jeremy Allen White no papel de Bruce, além de Paul Walter Hauser (Cobra Kai), Odessa Young (Looking for Grace), Stephen Graham (Gangues de Nova York) e Jeremy Strong (Succession). A produção aborda o período da vida de Bruce Springsteen do final da turnê do disco The River até o primeiro show da turnê de Born in the U.S.A.

Lembrando que, no início dos anos 1980, ele já era um jovem astro que estava prestes a alçar sucesso internacional com Born in the U.S.A.

Abordando depressão e traumas de infância que acabaram refletindo em sua vida adulta, a cinebiografia não é como as outras, que mostram a fama e o espetáculo. Um Springsteen recluso, inseguro e cheio de questões internas nos é apresentado. Para os pouco familiarizados com a história de Bruce, pode ser um choque. Mas, para os fãs, é uma viagem à cabeça dele, para que se possa entender o que se passou entre 17 de dezembro de 1981 e 3 de janeiro de 1982 — período em que ocorreram as gravações em seu quarto, na companhia apenas de uma gaita, um violão e um gravador de quatro canais.

Springsteen é exaustivo como todos andam dizendo?

Como já dito, não espere um filme nos mesmos moldes de Bohemian Rhapsody ou Rocketman. Talvez seja um dos filmes mais íntimos e sinceros desde a cinebiografia de Ray Charles.

É um espetáculo, com diálogos precisos que, apesar de arrastados, te fazem querer entender o motivo de um sucesso como The River ser seguido por algo tão cru. Uma falta é a presença mais significativa do processo lírico de Nebraska. Por ser um álbum que beira o lado pessoal, entregando um estado emocional calamitoso de Bruce, deixa uma pontada de querer mais. Não há presença de Stevie Van Zandt ou Clarence Clemons durante o longa — apenas Bruce Springsteen.

Contudo, como todo filme de Hollywood dos últimos tempos, em que eles parecem não conseguir se segurar, a cinebiografia faz a junção de todas as outras mulheres que passaram pela vida de Bruce em uma só personagem, utilizada para dar o choque de realidade de que ele precisa — a “boa” e velha licença poética que não precisaria ter.

Apesar dos deslizes, a construção desses três anos de sua vida mostra as escolhas ousadas tomadas para que Nebraska surgisse e até expõe a pressão das gravadoras da época em relação aos artistas de maior sucesso.

Nota também para Jeremy Allen White, que aprendeu a tocar violão e encarou o microfone para a trilha sonora do filme.

Em conclusão, é um filme perfeito para os fãs. Aliás, pode aguçar a curiosidade de quem ainda não o conhece direito. Assim como o processo de gravação, o entendimento ocorre nos momentos silenciosos — e na música.

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