Cobertura: Cradle Of Filth – São Paulo, 23 de Agosto

Maurício Silva
9 minutos de leitura

Após um período de 6 anos longe de terras brasileiras, os britânicos do Cradle Of Filth retornaram ao nosso país nesse sábado do dia 23, em turnê de divulgação do último álbum The Screaming of the Valkyries, lançado ainda em Março desse ano. Durante o horário da tarde, uma concentração de fãs aguardavam ansiosamente a abertura da casa, sob um calor moderadamente suave para capital paulista após dias e semanas de extremo frio na região sudeste, alguns até para um tratamento especial, uma vez que compraram pacotes VIP para uma experiência cara-a-cara com os artistas.

O Carioca Clube abriu pontualmente as portas no horário das 18hs, vale frisar que tanto a pontualidade e o profissionalismo da New Direction Productions e Agência Sob Controle para fazer com que o evento desse certo pode também ser aplicada a mesma responsabilidade perante a atitude das próprias bandas. Para começar, da perfeita escolha para abertura de banda nacional, a carioca Tellus Terror, que não apenas se encaixava perfeitamente no estilo da banda principal, como demonstraram uma excelente apresentação, com presença de palco inigualável que surpreendeu à todos os presentes naquele fim de tarde, que já se encontravam em um número até que relevante para testemunhar o talento dos niteroienses que representaram o estilo do Symphonic Black Metal em cima do palco.

Tellus Terror ao vivo – Créditos: Maurício Silva

E não apenas na identidade sonora, mas nos temas conceituais que o Cradle Of Filth aborda em suas músicas que os cariocas dividem da mesma paixão, inspirados também principalmente em outros clássicos do estilo, como Dimmu Borgir, Emperor e Old Man’s Child, trazendo consigo toda a teatralidade e impacto visual que é comum nesse mesmo subgênero do Black Metal. Após essa impressionante demonstração, a penumbra bate no palco novamente com a entrada dos americanos do Uada, vindos do estado de Oregon, que já haviam batido carteirinha por aqui anteriormente quando tocaram no ano de 2023 no Jai Club, uma casa bem menor.

É uma tendência por parte de algumas bandas do meio o uso de silhuetas para iluminar um palco enegrecido para tanto esconder a identidade dos membros, quanto também pouquíssima e nenhuma interação com o público em ordem de não prejudicar na imersão dessas apresentações, o que é o caso dos rapazes ao subirem no palco. Não apenas essas foram repetidas aqui, como também a falta de diálogo do vocalista Jake Superchi com o público ajudava a manter a essência atmosférica, cujo leve tombo que teve, foi rapidamente contido e nada atrapalhou nessa. No final, quem aguardava outra oportunidade de vê-los assim que “as estrelas se alinhassem”, e tiveram de lidar com o triste cancelamento devido as péssimas práticas da produção do polêmico festival M.A.D. no início desse ano, finalmente foi saciado com uma apresentação direta e sem muitas firulas, já esperado de quem é letrado na banda.

Uada ao vivo – Créditos: Maurício Silva

Logo depois, o momento que todos aguardavam, sob casa extremamente cheia, havia chegado, o letreiro da banda da principal havia dado as caras e o Cradle Of Filth abriu com a porradaria da faixa To Live Deliciously, que demonstra fortes influências do último trabalho em um som semelhante ao da banda Kreator, extremamente pesado e capturando a atenção do público do início ao fim, especialmente com a presença de faixas que nos remetem ao início de tudo, tanto com a faixa título do álbum The Principle Of Evil Made Flesh (1994) e a The Forest Whispers My Name, na sequência da primeira música tocada.

Cradle Of Filth performando “The Principle Of Evil Made Flesh” – Créditos: Maurício Silva

Pode-se dizer que não apenas o novo álbum teve uma belíssima recepção, como permeou uma parte considerável do setlist, equilibrando tanto com as faixas clássicas e as mais novas dos últimos lançamentos da primeira metade dessa década atual, tendo She Is A Fire, lado-b extra do álbum ao vivo Trouble And Their Double Lives, lançado em 2023, antecedendo Malignant Perfection. E chega a ser notável que não apenas a intensidade dessas inéditas tem voltado com a energia das antigas, como também mostram um Dani Filth na plenitude de sua forma, já de meia idade, acompanhado de uma banda que compartilha dessa mesma energia na presença de palco.

Cradle Of Filth ao vivo – Créditos: Maurício Silva

É relevante afirmar que parte do público presente no dia também eram de fãs de longa data, da faixa dos 30 anos para cima, com a presença, mesmo que menor, também notável de uma audiência mais jovem que nos últimos anos, tem aderido com força o meio do metal extremo de forma geral. Curiosamente, o meio gótico, que também abraçou a banda desde o início tem voltado a ter relevância tanto no cenário musical como na cultura pop ultimamente.

Em um momento, os anos 2000 voltam em clima de nostalgia com Nymphetamine (Fix), clássica balada que na época de seu lançamento no álbum Nymphetamine em 2004, teve participação dos vocais de Liv Kristine (ex-Theatre Of Tragedy), que marcou uma geração inteira. A tecladista Zoe Marie Federoff demonstra sutil beleza ao performar as linhas vocais ao vivo, que anteriormente em outras situações, era utilizado playback durante as apresentações.

Cradle Of Filth performando “Her Ghost In The Fog” – Créditos: Maurício Silva

Durante o encore, as clássicas prevaleceram com Cruelty Bought Thee Orchids, que nos remete ao ano de 1998 com conceitual Cruelty And The Beast, alusão ao título Beauty And The Beast ao tratar do sangrento legado da condessa Elizabeth Bathory, que inspirou na literatura como também na cultura pop em geral com os séculos que se passaram. Encerra com duas faixas do álbum Midian (2000), Death Magick For Adepts e Her Ghost In The Fog, cujo sombrio tema que fala sobre um pastor que vinga o espírito de uma jovem brutalmente assassinada, levanta a galera e faz uma saideira bem animada aos fãs brasileiros que aguardaram por muito tempo, compensando não terem vindo na última turnê latino americana.

No momento em que essa resenha é escrita, a tecladista Zoe anuncia que após essa turnê, estará deixando a banda por motivos pessoais, não sendo a primeira vez de várias em que o posto é esvaziado. Existem duas perguntas, junto a dessa no momento presente que fazem o imaginário dos fãs, a primeira e atual, de quem irá ocupar o seu cargo, e a clássica quando que raios a colaboração inusitada com o Ed Sheeran irá de fato ser lançada, sem que haja outros adiamentos desde o ano de 2021 em que foi anunciada? Disso não sabemos a não ser que o público testemunhou uma incrível apresentação carismática nesse final de semana que irá deixar saudades.

Setlists:

Tellus Terror:
Amborella’s Child
Absolute Zero
Darkest Rubicon
Psyclone Darxide
Empty Nails
Lone Sky Universum
Shattered Mutano Heart
Sickroom Bed
Brain Technology Pt. 2

Uada:
Natus Eclipsim
Djinn
Blood Sand Ash
Cult of a Dying Sun
Black Autumn, White Spring

Cradle Of Filth:
To Live Deliciously
The Forest Whispers My Name
She Is a Fire
Malignant Perfection
The Principle of Evil Made Flesh
Heartbreak and Seance
Nymphetamine (Fix)
Born in a Burial Gown
White Hellebore
bis:
Cruelty Brought Thee Orchids
Death Magick for Adepts
Her Ghost In The Fog

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