No último dia 26 de julho, o Bar Opinião recebeu, já com ingressos esgotados, a turnê Rota 69, em que Marina Lima revisita sons dos seus 45 anos de carreira (e, não à toa, 69 de idade), 5 anos após sua última passagem pela capital gaúcha.
Marina Lima, assim como o contemporâneo Lulu Santos, é geralmente lembrada pelos inúmeros hits, em especial na década de 80, em detrimento a uma maior atenção aos 23 discos que lançou até 2018, data do último lançamento inédito, ‘Novas Famílias’ que contribuiu para o setlist com a faixa “Árvores Alheias” (a artista promete entrar em estúdio em breve, para a gravação de um novo trabalho). Foi ousada então a escolha da cantora carioca, em começar seu show com 3 canções de discos pré estouro nacional: “Certos Acordes” (1981) e “Desta Vida, Desta Arte” (1982).
Dito isso, e também como prova da consistência de sua discografia, foi bonito ver a resposta das pessoas não só nas arrasa-quarteirão “À Francesa”, “Fullgás”, apropriadamente alocadas no terço final do show, e “Uma noite e 1/2”, responsável por encerrar os pouco mais de 90 minutos do show. Em momentos mais intimistas, como na bela “Acontecimentos”, do autointitulado disco de 1991 (em que ela usa o sobrenome ‘Lima’ pela 1a vez no nome artístico) o público presente acompanha em peso a letra da canção, servindo como apoio à voz da artista.
Sobre a voz de Marina, vale citar que já não é novidade a mudança de timbre, causada por um procedimento cirúrgico malsucedido na garganta, no final dos anos 90, e que quase pôs em risco a continuidade de sua carreira. Sua competente banda, além de auxiliar nos backing vocais, adapta de forma correta os arranjos, para abarcar seu vocal há anos já mais contido e rouco. Porém em alguns momentos, em especial em suas conversas entre as músicas, sua fala beira o indecifrável. Palmas para o público presente, que mais uma vez canta a plenos pulmões sucessos menores como “Pessoa”, versão para uma música de Dalto (gravada em ‘O Chamado’, disco de 1993).

Aí reside outro ponto alto da carreira de Marina: sua força como intérprete, visível no setlist em versões já clássicas para “Me Chama” (Lobão), “Preciso Dizer que te Amo” (Cazuza), “Nada por Mim” (Herbert Vianna e Paula Toller), “Nem Luxo, nem lixo” (Rita Lee e Roberto de Carvalho) “Eu Te Amo Você” (Kiko Zambianchi) e “Beija-Flor” (Timbalada). Ainda no início da apresentação, chamou a atenção o mashup entre “Mesmo que seja eu”, clássico do Tremendão Erasmo Carlos, com “LUNCH”, de Billie Eilish. Nem tão feliz foi a confusa mistura de “Bloco do Prazer”, de Moraes Moreira (eternizada por Gal Costa), com “Keep Walking” e “Pierrot do Brasil”. Problema menor, dentre os tantos acertos da noite.
Noite que contou também com justas homenagens a recém-falecida Preta Gil, numa camiseta usada por Marina, e ao seu irmão e parceiro em várias composições, o imortal da Academia Brasileira de Letras, Antônio Cícero (falecido em outubro de 2024) com trechos de alguns de seus poemas no telão. Destaque também para a dançarina, que acompanhou não só a artista principal da noite, como alguns fãs que subiram ao palco em determinado momento do show.
Entre sucessos e momentos não tão conhecidos, mas de enorme qualidade artística, fica o desejo para que esse seja apenas o início de um período de revalorização da obra de Marina Lima, e que ela retorne em breve, para o lançamento do tão aguardado novo trabalho.

Setlist:
Charme do mundo
Acho que dá
O lado quente do ser
Me chama
LUNCH / Mesmo que seja eu
Difícil
Na minha mão
Virgem
Preciso dizer que te amo
Beija-flor
Acontecimentos
Guardar
Pessoa
Keep Walking / Bloco do prazer / Pierrot do Brasil
Árvores alheias
Pra começar
À francesa
Não sei dançar
Fullgás
Bis:
Eu te amo você
Nada por mim
Nem luxo, nem lixo
Uma noite e 1/2