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Satyricon no Carioca: Deu dó de quem não foi!

Meio de semana, uma quarta-feira (13), dia útil, acaba nem sempre sendo o melhor dos cenários para o funcionário CLT quando se trata de agendamento de shows e eventos.

Entretanto, a gente sempre faz uma forcinha dependendo da banda, se cria uma logística para que possamos ter uma noite de celebração de clássicos. Mesmo depois de um dia cheio de serviços e seus diversos perrengues aqui e ali, o headbanger empregado ou acadêmico sempre dá um jeito de curtir sua banda ou artista favorito.

Principalmente se esses esforços são voltados á uma atração como os noruegueses do Satyricon, banda que não pisa no país há 7 anos, quando divulgava seu último trabalho, “Deep Calleth Upon Deep”, lançado também naquele mesmo ano.

Eis que novamente as datas na América Latina foram confirmadas no início desse ano pela Estética Torta, que na época, colhia os frutos da sensacional turnê pelo país do Rotting Christ. Outra grande atração do black metal que havia tocado no mês anterior.

Com tempo para se planejar e comprar ingressos, se tornou uma das atrações mais aguardadas do ano para o público headbanger paulista, confirmada por uma casa cheíssima que se pode ver no dia 13 de novembro, data da apresentação.

Foto: Satyricon. Crédito: Maurício Silva.

Não houve bandas de abertura, o que muitas vezes não é ruim, já que podemos direcionar a atenção a aquilo que nós aguardamos. A atração estava marcada para começar as 20h30, eis que então as luzes se apagam sobre a visão de um banner cheio de corvos, provavelmente uma alusão a música “Black Crow on a Tombstone”, presente no álbum “The Age Of Nero” (2008), e a banda entra em cena com “To Your Brethren in the Dark”, cujo ritmo cadenciado e oscilante, prepara o público para porrada que vem a seguir, a faixa título do álbum “Nemesis Divina” (1996). Animando assim, todos ali presentes no uso e abuso do tremolo picking característico do gênero, principalmente da fase mais trve kvlt noventista que é muito prestigiada até hoje.

Segue então com a faixa título que abre o disco “Now, Diabolical” (2006), um dos trabalhos mais populares da banda que ajudou a ganhar um status de mainstream.
Com um público totalmente participativo durante a execução dessa, sabendo a letra de cor e salteado e mostrando aos noruegueses a que vieram naquele dia.

Eis que Satyr, após a explosiva recepção, começa o discurso “Escutem meus amigos, senhoras e senhores” seguidos de aplausos vindo da audiência “Quando precisamos voltar para o outro lado do mundo, nos perguntam: que país você prefere, e não é sobre o restaurante, natureza, e sim, sobre o encontro com as pessoas” – sendo sua característica, a transparência nas entrevistas em relação ao seu trabalho e a cena, mas principalmente, muito o que se apreciar por não repetir o mantra sem graça e batido de todo artista de amar um país pelas mesmas coisas que foram citadas nesse discurso apenas como rasgação de seda vazia que engana os mais inocentes e irritantemente festivos que geralmente vemos nas atrações no meio rock e metal de grande forma, ou talvez, aqui o que vos escreve já esteja amargando um pouco.

“Não posso prometer se esse será o melhor show na América Latina, mas o que posso prometer, é que toda vez que vamos ao palco, damos o nosso melhor, é o que sempre fazemos”! – segue Satyr – “Quando nós voltarmos pra casa, a impressão que a gente fica, é o que acontece aqui e agora” – nessa, o músico, notável pela presença de palco, desafia o público a tornar aquela noite, de toda a turnê, a melhor, com a promessa de darem o melhor deles, contanto que o público também o faça.

Seguido da faixa citada alguns parágrafos atrás nessa resenha com “Black Crow, on a Tombstone”; com direito a animação constante do público e letras cantadas de cor, mesmo com alguns em maior introspecção, porém, apreciando o momento.

Se você perguntar a alguém da minha geração, mesmo que citado o álbum “Nemesis Divina”, geralmente os trabalhos da década de 2000 é que ganham mais destaque, especialmente por terem sido álbuns que crescemos ouvindo, o que não nos faz deixar de apreciar o material mais cru, porém melódico que fazia jus ao jargão “true norwegian blackmetal” (o verdadeiro black metal norueguês). Diria que não apenas compunha grande parte do setlist, mas também, comprovava ali que era uma noite para todos os gostos num grande Greatest Hits dessa, que até o momento, se encontra compondo e produzindo um novo trabalho para possivelmente o ano que vem.

Obviamente, para um público que prefere algo nas profundezas do underground como da introspecção do início dos anos noventa, não iria encontrar essa mesma constância ali, embora algumas relevantes faixas dessa época sendo tocadas nos setlists rotineiros so Satyricon, mas bem, como diria um amigo, ‘rei morto, rei posto’, o mesmo pode se dizer de público que vai e fica.

Nessa mesma linha, segue com a outra faixa título “Deep Calleth Upon Deep”, que após o prestígio dessa, o público enlouquece com a “Repined Bastard Nation”, faixa do álbum “Volcano” (2002), que iniciou a era black n’ roll de fato para a banda. Essa também com uma mensagem que se encaixa e muito para uma contextualização geral dos dias de hoje.

Segue então de volta ao lançamento de 2017 com a penúltima faixa “Black Wings and Withering Gloom”, que mesmo recebida em silêncio por alguns, acabou sendo uma válvula de escape para então voltar ás profundezas do verdadeiro black metal norueguês quando após quietude no palco, Satyr pronuncia a frase “Kampen mot Gud og hvitekrist er igang” (traduzido do norueguês, ‘A batalha contra Deus e Cristo começou’), chamando a atenção e explodindo o público na expectativa para primeira faixa do segundo álbum “The Shadowthrone” (1994), “Hvis Krist Død”. Trabalho que na época, teve participação de Samoth do Emperor, enquanto essa lidava com as dificuldades logísticas causadas pelas polêmicas da cena de Agosto de 1993.

Dá início então a sombria abertura de tempos medievais escuros, na qual também vivemos nos últimos quatro anos numa pandemia aterradora, a faixa que abre o primeiro álbum “Dark Medieval Times” (1993) com “Walk the Path of Sorrow”, que após o trabalho da introdução nos PA’s, permite que a banda mostre a sequência de suas origens mais cruas, fazendo a alegria de fãs das antigas, e de mais novos que tínham ali mais apreciação pelo material oldschool da banda, ou como originalmente dito, “The Medieval Trilogy”, que compõe os discos “Dark Medieval Times”, “The Shadowthrone” e “Nemesis Divina”, prestigiado pelos fãs mais gótico e ao mesmo tempo, melodicamente extremo e sinfônico.

Eis que de forma bem curiosa, após a execução dessa, o vocalista começa a contar uma história bem inusitada sobre o último trabalho noventista da banda, usando a música “Hate to Say I Told You So” do The Hives como referência para explicar como o álbum “Rebel Extravaganza” (1999), era uma resposta ao padrão que o gênero black metal havia tomado na época, gótico e sinfônico, era não apenas de seu desgosto, como também, queria partir de um cenário medieval para um atual e urbano, e como foi recebido com desdém tanto pelos fãs mais antigos, como também pela crítica, citando uma certa revista alemã que teria um espaço bem reservado no inferno por tê-lo referenciado como um álbum de techno da banda, considerando suas influências industriais.

Foto: Satyricon no Carioca Club. Crédito: Maurício SIlva.

Ao continuar a história, pula ao futuro, 20 anos depois em 2019, citando como o agente de turnê deles estava recebendo uma quantidade de propostas de grandes festivais para que tocassem o álbum na íntegra, fazendo apenas um de todos esses pedidos, concluindo ao citar novamente a faixa da banda sueca citada, ao comprovar o legado desse, dando entrada a faixa “Filthgrinder”, que mantém a característica extrema dos discos anteriores, porém, com toques industriais já citados antes.

Novamente, o material mais ‘recente’ entra com “Die By My Hand”, seguido por “To The Mountains” que abre o encore, e eis que a dançante “The Pentagram Burns”, em sua devida trevosidade, agita o Carioca inteiro, gerando após o fim, estrondosos aplausos e os famosos “olê olê olê olê”, acompanhados pela bateria do cofundador Frost que brincava com o ritmo do entusiasmo do público com um solo simples, porém bem animado.

Após essa, Satyr vai ao microfone e evoca ainda mais da participação de todos os presentes aos desafiar com um moshpit, que em parte de nenhum show da turnê latino-americana até então não foi concebido, para a enérgica “Fuel For Hatred”, na qual os fãs atenderam de forma agitada e truculenta o pedido do frontman.

Um último desafio é proposto ao perguntar se todos ali eram capazes de cantar ao invés de fazerem lip syncing para a clássica “Mother North” da medieval trilogy, amada em unanimidade por todos os gostos ali presentes por cada um, eram acompanhadas do coro e participação vívida de todos ali, e diante de tantos aplausos e recepção calorosa no final, Satyr abre um sorriso satisfatório e inesquecível que então, após outro discurso, pergunta “Assim que voltarmos, nos veem de novo?” que recebe uma grande positiva.
A saideira rola com “K.I.N.G”, tocada no final de todos os shows e não poderia haver uma mais apropriada que essa. O que se pode ver naquele dia foi muito mais do que apenas um show, mas sim, um grande espetáculo que ficou para história na avalanche de shows do mês de novembro desse ano.

Antes de entrar na casa, eu citava com um presente na fila a insatisfação mútua pela recepção morna e fraca dos pagantes do show do Emperor em São Paulo no ano de 2022, citando até desprazeres pessoais, dentre vários, com certos grupos de pessoas que eram contra moshpit e participação animada de presentes em shows de black metal por aqui, vendo pessimismo na forma como o daquele dia poderia se comportar diante disso tudo….

Foto: Satyricon. Crédito: Maurício Silva.

Bem, tanto ao que escreve essa resenha a esses desafetos pessoais em questão:

I Hate To Say I Told You So

Autor

  • Maurício Silva

    Maurício é um rapaz que cresceu com pais músicos e sempre com um ouvido aberto e atento, desde o mais clássico até mesmo o mais extremo. Fã declarado e incondicional de Sepultura, Emperor, Alice In Chains e Dimmu Borgir.

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