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Sepultura supera o Titanic ao destruir o iceberg gelado da sexta, dia 9 de agosto no Clube do Aramaçan

Dia frio e chuvoso na grande São Paulo, no dia 9 de agosto, algumas conversas espaçadas depois do portão do Clube Atlético Aramaçan mencionavam a dificuldade de chegar ali com tamanho temporal somado a um possível trânsito enfrentado para chegar ao local, principalmente para não-residentes da região do ABC. Mesmo sob essas condições, não havia tempo que fosse gelado o suficiente para impedir a calorosa recepção do público headbanger a um dos mais importantes panteões do metal nacional de extrema relevância e importância internacional, o nosso Sepultura, que estava por botar fogo naquele iceberg durante a apresentação daquela noite.

Quando o relógio bateu 21hs, o público chegava aos poucos, o evento em si aconteceu no salão social, com capacidade de até 3.590 pessoas como consta a logística. O show provavelmente não tenha dado sold out, vide que alguns dias antes do evento estavam sendo realizadas promoções de desconto para engajar o público. Fica evidente que o anúncio da turnê de despedida no final do ano passado e a abertura da venda de ingressos em um período próximo deu uma esfriada e o calor do momento que antes gerou uma expectativa na primeira parte no ciclo de encerramento das atividades ao vivo da banda tenha passado. Entretanto, a casa estava visivelmente cheia minutos antes da apresentação da banda principal que não pisava em Santo André desde 2018, um tempo considerável, ainda mais somado dois anos vigentes de lockdown que tivemos durante a pandemia.

A audiência foi recebida primeiramente pela banda de Yohan Kisser que demonstrou todo seu talento em sua carreira, na posição do vocal e guitarra, juntamente do resto dos membros que o acompanham, Willian Paiva (HammerheadBlues) na bateria, e Augusto Passos no baixo. A apresentação foi um misto de músicas autorais, juntamente de alguns covers que o inspiraram musicalmente. Uma enérgica apresentação mostrou o melhor dos jovens músicos e uma grande dose de riffs clássicos e uma considerável psicodelia. Mesmo com uma parcela de público relativamente menor que a banda principal, conseguiram atrair a atenção e ainda demonstrar que Yohan não segue os passos do pai, e sim, trilha seu próprio caminho e dotado de bastante carisma.

Não passou muito tempo até que a casa começou a encher e a parafernália do palco, com destaque visual no telão de fundo e logos da banda principal começassem a dar sinais de vida a um público ansioso para a última grande oportunidade de ver Derrick Green, Andreas Kisser, Paulo Xisto Jr. e Greyson Nekrutman (que integrou a banda após a saída de Eloy Casagrande). Então, eis que as 23hs tudo escurece, o telão, as luzes claras no palco acendem e a entrada do quarteto durante a introdução nos PA’s dão um gatilho explosivo para a banda abrir com a primeira clássica faixa do álbum “Chaos A.D. (1993)”, “Refuse/Resist”, seguida por “Territory” e puxando o gancho para “Propaganda” que fecha não apenas a tríade do clássico da primeira metade da década de 90, mas é responsável por abrir o show para um público insano que mostrou presença desde o início.

Com isso, a banda segue para “Phantom Self” do álbum “Machine Messiah “(2017), acompanhada de mais um trio de faixas, dessa vez do álbum “Roots”(1996) que foi a catapulta definitiva do Sepultura ao mainstream, com “Dusted”, “Attitude”, e “Spit”. Após isso, os presentes na casa deram uma baixada no ânimo com parte do set, só voltando aos poucos a partir da faixa “Choke” do álbum “Against” (1998) que marca a entrada de Green nos vocais. Andreas então começa a conversar com o público e agradece a presença de todos, especialmente por estarem presenciando o evento no clube onde cresceu indo com a família localizado em sua região natal (nativo de São Bernardo do Campo), e contando sobre os seus bons tempos na região do ABC, onde também em bares e lojas de discos conheceu os ex-membros da formação de ouro Max e Iggor Cavalera.

A energia volta com tudo assim que o clássico da era Cogumelo Records é apresentada por Andreas para os fãs old-school, a segunda faixa do trabalho de 1987, “Schizophrenia”, “Escape To The Void”, que marca a entrada do guitarrista em seu posto por 36 anos após substituir Jairo “Tormentor” Guedez que havia saído por diferenças criativas. A agitação não para nem mesmo com “Kaiwoas”, que recebe Yohan e Willian participando da batucada no palco, dando mais espaço a intensidade “Dead Embryonic Cells”, “Biotech Is Godzilla”, “Agony Defeat” (do último trabalho derradeiro, “Quadra”) e faixas essenciais a todo show da banda como “Troops Of Doom” e “Inner Self”, sendo que essa última já não dava mais as caras ao vivo desde 2019, o que leva a uma reflexão e uma queixa de fãs das antigas sobre a falta de material do Beneath The Remains (1989) no início da turnê e um destaque maior ao último lançamento.

Na pista comum, era possível ver o moshpit se formando constantemente, mostrando um público presente que ansiava sempre por mais motivo para tirar traços da friaca no corpo, tanto que o próprio Derrick questiona como o público naquele momento, mesmo depois de uma série de 21 faixas no setlist não se encontrava de nenhuma forma cansada. Um sorriso de satisfação originada de uma plateia ensandecida a sua vista lhe dá a entrada para que o vocalista anuncie a clássica “Arise” do álbum de death/thrash de mesmo nome lançado em 1991, onde uma grande roda se abre, dando o vislumbre de uma grande demonstração vulgar enérgica. A banda se retira para depois voltarem para o grand finale que é a saideira de todo rolê da banda que se prese, com a “Ratamahatta” que tira até o morto mais seco do chão e então, fechando com uma das mais pedidas da festa, “Roots Blood Roots”.

Os Seps que haviam voltado de uma recém turnê Sul-Coreana com toda certeza esperavam voltar ao país com a receptividade do público aqui de casa, porém, toda vez é sempre única, ainda mais depois de um dia desafiador e cheio de impasses logísticos como citados logo no início dessa resenha. A pergunta que fica no final das contas é: depois que essa turnê acabar de vez, será que não vai haver um jeito de substituir o vazio no peito causado pelo fim das apresentações que éramos tão acostumados no país e que sempre animavam o banger brasileiro depois de semana e semana a fio de tons cinzas e problemáticos?

Autor

  • Maurício Silva

    Maurício é um rapaz que cresceu com pais músicos e sempre com um ouvido aberto e atento, desde o mais clássico até mesmo o mais extremo. Fã declarado e incondicional de Sepultura, Emperor, Alice In Chains e Dimmu Borgir.

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