Tiamat faz show introspectivo e carismático para público Paulista no Carioca Club, 15 de Dezembro

Maurício Silva
10 minutos de leitura
Johan Edlund, em todo seu esplendor ; Créditos: Maurício Silva

Segunda-feira, 15 de Dezembro. Você deve imaginar, caro leitor, que pique consegue levar um fã para ir em um show em pleno início de semana, em uma ativa temporada de chuvas, especialmente em uma reta final do ano em que todos estão muito cansados da rotina constante e desgastante de trabalho? Talvez a ausência de 16 anos de uma das bandas mais icônicas do cenário Sueco, o Tiamat, ícone do Gothic Metal que fez um barulho no underground na década de noventa e teve seu auge durante os anos 2000.

Johan Edlund e o guitarrista Simon Johansson, ao vivo ; Créditos: Maurício Silva

A casa, programada para a abertura as 18hs, teve um atraso de 1h para abrir, porém, nada que atrapalhasse o cronograma, tanto da produtora como da banda, não como no caso anterior no show do Mayhem, cujo o atraso no voo acabou causando um rebuliço geral na agenda daquele domingo. Infelizmente, a ausência de um público maior para esse show naquele início de semana já se explica inicialmente pelo óbvio, não apenas por simplesmente ter sido em uma segunda feira, mas também pela divulgação um tanto sucinta do evento durante os últimos meses, não o via sendo muito falado, e além do fato de considerarmos de ter um público bem mais nichado atualmente, esses já andaram quase que uma década inteira sumidos, especialmente depois de algumas tensões ocorridas durante a primeira metade da década passada no ambiente interno na banda, anunciada na página do Facebook dessa.

Gustaf Hielm observa o público ; Créditos: Maurício Silva

Um pouco antes do show rolar, o icônico frontman e vocalista Johan Edlund, aparece sob as cortinas do palco para atender aos fãs, carimbando seus punhos com o símbolo do mascote da banda, autografando CD’s, aparecendo sob as lentes das câmeras de celulares para tirarem fotos e trocando ideia com um público genuinamente dedicado e que topou encarar o desafio de estar ali, mesmo no cansaço semanal, naquele dia para prestigiar os suecos. É interessante citar também da influência com o rock progressivo que Edlund, único membro original, tem com o gênero, especialmente pelo fato dos PA’s terem recebido a audiência anterior ao início do evento com clássicos da lendária britânica Pink Floyd, vide que o Tiamat possuí um cover registrado de When You’re In na tracklist do EP Gaia, lançado no ano de 1994.

Johan Edlund performando ; Créditos: Maurício Silva

Então, se inicia, alguns poucos minutos depois, a apresentação marcada para as 20hs (e um pouco atrasado), com a cadenciada Church Of Tiamat do álbum Skeleton Skeleton (1999), recebida de forma animada pelo público que estava ali hipnotizado, seguido de três clássicos do segundo álbum Clouds (1992), In Dream, a bem prestigiada The Sleeping Beauty, que foi prestigiada pelo público, e também da faixa auto intitulada do trabalho que marca uma fase de transição da sonoridade do Sumerian Cry (1990), composto durante a era Treblynka, pré-Tiamat. Ganha espaço também a Will They Come, de Amanethes (2008), cujo vieram tocar em suporte ao lançamento desse no Brasil abrindo para os portugueses do Moonspell, que recentemente anunciou show aqui para o próximo ano.

Simon Johansson e seu excêntrico chapéu, ursinho Paddington fez uma participação especial e nem ficamos sabendo de antemão ; Créditos: Maurício Silva

Considerando que a banda não estava em suporte de nenhum lançamento que fosse recente, o setlist foi inteiramente baseado em um modelo de Greatest Hits, apenas clássicos e B-Sides feitos para os fãs em uma noite. O álbum Prey (2004), o segundo maior hitmaker dos escandinavos já chega com tudo com o cultuado single Cain, que teve participação e animação geral dos presentes, um clássico gótico da década de 2000 que ganhou, principalmente seu espaço na trilha sonora de uma das mídias mais importantes da era pós moderna, o jogo para computador Vampire – The Masquerade: Bloodlines lançado no mesmo ano que o disco, com Love In Chains na sequência.

Cain ao vivo, Créditos: Maurício Silva

Brighter Than The Sun é outro destaque dançante que seria digno de uma noite animada no Madame que trouxe a mesma intensidade para os presentes, até os mais cansados conseguiram encontrar alguma energia para participar. Entretanto, a sequência que roubou a cena foi a do clássico absoluto Wildhoney (1994), um dos petardos da revolução escandinava da década de noventa no meio do metal, com a abertura que deixou o cabelo de muitos em pé de Whatever That Hurts, cuja natureza fantasmagórica, que mescla ataques momentâneos de guitarra em seu ritmo cadenciado, mesclado a passagens que variam de sussurros e guturais cantados por Edlund, eram de dar frio na espinha, especialmente quando apareciam no bloco Fúria Metal da clássica e verdadeira MTV noventista, há muito, infelizmente, perdida.

Whatever That Hurts e The Ar ao vivo ; Créditos: Maurício Silva

Quando essa termina, fizeram questão de puxar o riff que da continuidade a The Ar, cuja temática lírica aborda passagens e menções ao livro da lei de Aleister Crowley, mantendo a aura mística apresentada em Wildhoney, que tem a lenta balada Do You Dream Of Me como parte integral da homenagem à esse tão prestigiado trabalho, além de Visionare, o que acende um lamento por parte desse que vos escreve, da ausência de A Pocket Size Sun, que encerra esse da forma mais Pink Floydiana possível, como toda excentricidade e magia que apenas esses suecos maravilhosos poderiam oferecer na época.

Os trabalhos se encerram no encore com Cold Seed, do A Deep Kind Of Slumber (1997), lançamento que na época marca a saída total da presença tanto Death Metal como também Doom Death Metal da sonoridade para o Gothic Rock cujo a banda seria mais lembrada conforme a discografia ia crescendo e os anos passando, Wings In Heaven e logo Vote for Love, estrondoso e absoluto clássico que fez a pista se animar instantaneamente em seu clima dançante, como também encerraram com Gaia, que faz parte da tracklist do clássico do Doom Death de 31 anos de lançamento já mencionado anteriormente.

Edlund já se encontrava bem diferente, bem mais velho desde sua última passagem pelo país, porém, com uma animação e presença de palco fenomenais, era bem bem comunicativo e conseguia fazer o público se sentir em casa, seja com elogios e participação que não soasse forçada, como vemos a quantidade de rasgação de ceda por algumas outras bandas que parecem ser um tanto…. sem o mínimo de noção, e também pela formação tão carismática quanto, Lars Sköld na bateria, presente na banda desde 1994, compondo o time de longa data.

Simon e Gustaf dando um show de performance ; Créditos: Maurício Silva

Merecem destaque, também, os membros ao vivo, o baixista Gustaf Hielm (ex-Meshuggah e ex-Pain Of Salvation), que partilhava vocais com Johan em algumas faixas em dueto, além da mesma animação e presença forte de palco do guitarrista Simon Johansson (da banda Memory Garden), que fazia solos e improvisos animados que enalteciam o público a nível de rasgarem elogios ao habilidoso músico. E não podemos nos esquecer, também, do tecladista Per Wiberg, que da mesma forma que conseguiu dar a luz ao clima soturno e progressivo do o álbum Ghost Reveries dos conterrâneos do Opeth, aqui conseguiu reproduzir a mesma aura sombria presente nos discos da banda aqui citada nessa resenha, mantendo a qualidade superior necessária para manter o clima e atmosfera que até mesmo os clássicos Death Doom dessa precisam manter em uma performance de ouro como se viu no Carioca Club.

Fim de apresentação ; Créditos: Maurício Silva

Os membros, todos bem boa praça, se despediram da audiência, já correndo com o itinerário para mais dois shows na Bolívia que encerrariam a turnê latino americana no meio da semana, atendendo de forma breve alguns fãs parados na porta da casa, um tanto comum por parte de todas que sempre acabam tocando no local. Que da próxima vez, uma data mais adequada ao público CLT seja selecionada como parte da agenda, até mesmo da produtora que pegar para que se encaixe nos interesses da banda, e que também, não demorem mais 16 anos para marcar presença de novo no país e América Latina.

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