A saída de um membro fundamental de uma banda sempre desencadeia um período de adaptação. Para o Pink Floyd, a partida de Syd Barrett deixou o grupo em uma fase de incerteza, buscando uma nova direção para sua expressão artística. Barrett, como principal compositor, havia moldado grande parte do trabalho inicial da banda, definindo sua sonoridade nos primórdios da música psicodélica.
Naquela época, enquanto a política dividia o mundo, as gravadoras frequentemente preferiam paisagens sonoras apolíticas e cinematográficas, em vez de músicas que pudessem carregar uma mensagem explícita. O gênero psicodélico ainda se estabelecia, e muitos fãs de rock torciam o nariz para o som, considerando-o desnecessariamente complexo.
Jimi Hendrix, por exemplo, ouviu as primeiras incursões do Pink Floyd e não se mostrou entusiasmado. “Aqui está uma coisa que eu detesto, cara”, ele disse. “Quando esses caras dizem: ‘Olhe para a banda. Eles estão tocando música psicodélica!’ Tudo o que fazem é piscar luzes sobre eles e tocar ‘Johnny B. Goode’ com os acordes errados. É terrível.”
Alguns membros do próprio Pink Floyd, inclusive, partilhavam dessa visão. Roger Waters, ao refletir sobre os álbuns mais conhecidos da banda, expressou uma opinião desfavorável sobre “The Piper at the Gates of Dawn”. Ele acreditava que o grupo se esforçava demais para ser experimental, em detrimento da criação de canções verdadeiramente boas.
“Não quero voltar àqueles tempos de forma alguma”, afirmou Waters ao discutir o disco. “Não havia nada de ‘grandioso’ nisso. Éramos risíveis. Éramos inúteis. Não conseguíamos tocar de jeito nenhum, então tínhamos que fazer algo estúpido e ‘experimental’.”
O som que o Pink Floyd viria a alcançar, e do qual Roger Waters se orgulhava, representava um afastamento dos sucessos curtos e radiofônicos. Em vez disso, a banda passou a focar em álbuns como um todo, construindo narrativas complexas e atmosferas envolventes em discos como “Dark Side of the Moon” e “The Wall”.
Contudo, a banda levou tempo para chegar a esse patamar. Houve um considerável período de tentativa e erro antes que o Pink Floyd começasse a lançar álbuns que agradassem a todos os seus membros. Isso resultou em alguns discos lançados após a saída de Barrett que, embora não fossem ruins, também não representavam o melhor que o Pink Floyd tinha a oferecer.
Um desses discos foi “Atom Heart Mother”, cujo título veio de uma das faixas principais da banda. A canção homônima é um bom exemplo da transição do Pink Floyd para sua fase de contar histórias. Waters pegou o riff que David Gilmour havia criado e atribuiu-lhe um tema, um passo inicial para um novo arco na trajetória do grupo.
“Bem, a ideia surgiu porque Dave, ele veio com o riff original”, contou Waters. “Lembro-me muito claramente disso, por mais estranho que pareça. Ele tocou, em algum lugar, estávamos ensaiando em algum lugar e ele tocou aquele riff… e todos nós ouvimos e pensamos: ‘Ah, isso é bem legal…’ mas todos pensamos a mesma coisa, que soava como um tema de algum faroeste terrível; tinha aquele tipo de… ligeira pastiche, qualidade heroica e arrastada… de cavalos em silhueta contra o pôr do sol.”
Ele continuou, detalhando como desenvolveram esse tema de faroeste. “É por isso que pensamos que seria uma boa ideia explorar isso e cobri-lo com metais, cordas e vozes e o que mais fosse”, disse. “Então foi por isso que fizemos; porque soava como uma… trilha sonora de filme muito pesada. Acho que descobrimos… não faço ideia por que estragamos. Acho que provavelmente fizemos isso porque éramos… nos sentíamos bastante inadequados para lidar com isso.”
Embora “Atom Heart Mother” possa não ser considerado um clássico do Pink Floyd, ele representa de forma clara o período de ajuste pelo qual a banda passou após a saída de Syd Barrett. Foi um passo essencial na evolução de sua sonoridade e na construção de sua identidade artística.