“Mama Said”, a canção que James Hetfield não pensava lançar com o Metallica

Luis Fernando Brod
4 minutos de leitura
Metallica/Mama Said. Foto: Reprodução Youtube.

Em 1996, o Metallica lançava “Load”, um álbum que expandia os limites sonoros da banda. Entre faixas com peso e groove, uma balada acústica se destacava por sua sinceridade. “Mama Said”, lançada como single em novembro daquele ano, não foi pensada para integrar o disco. A revelação veio à tona em uma entrevista recuperada recentemente pelo canal TMF – The Music Factory.

Na conversa original, gravada em 1996, James Hetfield revela que compôs “Mama Said” para si mesmo. Ele estava entediado em um quarto de hotel durante a turnê e escreveu a música de forma despretensiosa. “Não era para ser ouvida por ninguém”, diz Hetfield, que gravou apenas com violão e voz. A criação lembrava o processo de “Nothing Else Matters”, escrita em situação parecida cinco anos antes.

Hetfield conta que os colegas de banda ouviram a canção e enxergaram nela algo valioso: “eles viram algo real, vindo do fundo”, afirmou na época. Foi a partir desse incentivo que o grupo começou a trabalhar a faixa como parte do Metallica: “originalmente, ela não era para isso”, reforça o vocalista e guitarrista da banda.

A letra de “Mama Said” aborda a relação entre Hetfield e sua mãe, Cynthia, morta em 1980. Ela era adepta da Ciência Cristã e recusou tratamento médico contra o câncer, o que marcou o filho. Na música, há conflito (“Deixa meu coração ir, deixa teu filho crescer”) e arrependimento (“Tomei teu amor por garantido”). O tom é íntimo e direto, com arranjos country e acústicos que contrastam com a sonoridade tradicional da banda.

Mesmo com essa diferença estilística, “Mama Said” foi bem recebida, especialmente na Europa. Atingiu o primeiro lugar na parada britânica de rock e metal e chegou ao 19º lugar na parada principal. No entanto, a música jamais foi tocada ao vivo pelo Metallica como grupo. Hetfield a apresentou sozinho duas vezes, ambas em novembro de 1996, para programas de TV.

Uma das versões foi exibida no Later… With Jools Holland, no Reino Unido, e a outra no sueco Sverige-Sovjet. Em ambas, ele se apresenta apenas com o violão, respeitando o formato original da composição. Essa opção reforça o caráter pessoal da faixa, que se manteve distante do repertório ao vivo da banda. Mesmo após o sucesso, o grupo optou por deixá-la como um registro isolado daquele momento.

Na sexta-feira, 13 de junho de 2025, o Metallica relançou “Load” em uma edição comemorativa. A caixa inclui quase 300 faixas, com demos, ensaios e gravações ao vivo da era do álbum. “Mama Said” aparece com versões alternativas e remasterizadas, sob curadoria do engenheiro Reuben Cohen. A reedição resgata o disco com qualidade sonora atualizada e material de bastidores pouco conhecido.

Com o passar dos anos, “Mama Said” passou a ser vista como uma das canções mais pessoais de Hetfield. Seu destaque não está apenas na melodia, mas também na maneira como ela revela fragilidades do autor. Mesmo fora dos shows e distante da imagem pesada da banda, segue como um capítulo importante da discografia. E permanece como lembrança de que o Metallica, em 1996, não temia explorar caminhos menos óbvios.

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