A melodia que incendiou o verão de 1984 – a história de Fullgás

Luis Fernando Brod
4 minutos de leitura
Marina Lima. Foto: Reprodução.

A história de “Fullgás” começa em um apartamento no Rio de Janeiro, um cenário íntimo e despretensioso para o nascimento de uma das canções mais emblemáticas da música brasileira. Marina Lima, em parceria com seu irmão e letrista Antônio Cícero, estava imersa no processo criativo, munida de um teclado Casio, um instrumento que, apesar de sua simplicidade, se tornaria a ferramenta primordial para a concepção daquele que seria um de seus maiores sucessos. Aquele pequeno teclado, com seus timbres característicos, foi o berço das primeiras notas e harmonias que dariam forma à canção, um testemunho de como a genialidade pode florescer a partir dos recursos mais humildes.

A composição de “Fullgás” não foi um mero exercício técnico, mas uma exploração de sensações e estados de espírito. A letra, escrita por Cícero, capturava uma energia vibrante, um desejo de viver intensamente, de se entregar sem reservas às paixões e aos momentos. “Fullgás” é, em sua essência, um hino à liberdade e à plenitude, um convite a experimentar a vida em sua máxima potência, sem freios ou hesitações. É a representação de um estado de espírito onde a entrega é total, onde a vida é vivida com o acelerador no máximo, uma metáfora para a paixão avassaladora e a busca por uma felicidade sem limites.

Marina Lima e Antonio Cicero em 1986 — Foto: Arquivo/Agência O Globo

A canção, no entanto, ganharia sua forma definitiva e seu brilho particular nas mãos de um produtor visionário: Liminha. Sua chegada ao projeto foi um divisor de águas. Liminha, com sua experiência e sensibilidade apurada, soube traduzir a essência crua da composição de Marina e Cícero em uma sonoridade moderna e envolvente. Ele não apenas produziu, mas esculpiu o som, adicionando camadas e texturas que elevaram a música a outro patamar. Sua influência foi crucial para o álbum homônimo, que se tornaria um marco na carreira de Marina Lima e na música pop brasileira da década de 1980.

Um dos elementos mais distintivos e inovadores da produção de Liminha em “Fullgás” foi a linha de baixo. Inspirada diretamente no álbum “Thriller” de Michael Jackson, a linha de baixo da canção de Marina Lima trouxe uma pulsação rítmica e um groove que eram, ao mesmo tempo, sofisticados e dançantes. A influência do trabalho de Quincy Jones e dos músicos que colaboraram em “Thriller” é perceptível na forma como o baixo conduz a melodia, conferindo à música uma modernidade e um apelo que a destacavam no cenário musical da época. Essa escolha não foi aleatória; ela refletia a busca por uma sonoridade que dialogasse com o que havia de mais contemporâneo na música internacional, sem perder a identidade brasileira.

“Fullgás” se tornou um fenômeno, não apenas por sua melodia contagiante e letra envolvente, mas por sua capacidade de capturar um momento cultural. A canção se conectou com uma geração que buscava expressar sua individualidade e sua sede de viver. A combinação da composição autoral de Marina e Cícero com a produção arrojada de Liminha resultou em uma obra que transcendeu o status de hit, tornando-se um clássico que continua a inspirar e a embalar novas gerações. É a prova de que a arte, quando feita com verdade e inovação, tem o poder de se permanecer no tempo, mantendo sua chama acesa, sempre em “fullgás”.

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