Por décadas, um guardião determinou quais músicas e álbuns eram considerados obscenos para o público americano: Walmart. A empresa tem raízes no coração cristão do Arkansas e, desde sua fundação, se posicionou como uma loja “familiar”. Sob essa imagem, estabeleceram regras rígidas sobre quais músicas estariam disponíveis em suas lojas. Confira a lista de alguns álbuns de rock banidos pelo Walmart abaixo.
Em uma diretriz oficial do início dos anos 2000, Walmart afirmou que “não estocaria música com adesivos de orientação parental”. Embora a empresa reconhecesse que “não seria possível eliminar todas as imagens, palavras ou temas que um indivíduo pudesse achar ofensivos”, alegou que seu principal objetivo era “eliminar o material mais ofensivo das prateleiras do Walmart”.
Críticos frequentemente alegavam que as práticas do Walmart eram uma forma de censura, restringindo a capacidade de um artista de compartilhar seu trabalho com um público amplo. Para agravar a situação, o Walmart frequentemente era o único lugar em pequenas cidades onde os consumidores podiam comprar música popular. Ter um álbum banido de suas prateleiras poderia limitar seriamente o apelo de um artista. Curiosamente, o gigante do varejo apenas emitiu uma diretriz geral sobre vendas de música; a decisão sobre quais outras formas de arte, como filmes, programas de TV e videogames, seriam carregadas, ficou a cargo dos gerentes das lojas.
Embora downloads e serviços de streaming tenham mudado a forma como os fãs consomem música, o Walmart continua a ser o maior vendedor de mídia musical física (CDs e vinil) no país. Mesmo nos dias atuais, eles mantêm regras rígidas sobre o que suas lojas irão vender, embora materiais sem censura estejam facilmente disponíveis em sua loja online.
Ao longo dos anos, muitos músicos tiveram seus álbuns banidos pelo Walmart devido ao conteúdo lírico ou à arte da capa. Em alguns casos, os artistas mudaram seu material para se adequar às regras da empresa. Em outros, mantiveram sua posição, mesmo que isso significasse que sua música não chegaria às prateleiras.
Jane’s Addiction, ‘Nothing’s Shocking’ (1988)
A capa do álbum de estreia da Jane’s Addiction foi inspirada em um sonho vívido do vocalista Perry Farrell. Ele imaginou duas mulheres, sentadas lado a lado em um balanço, nuas, conectadas pelo braço e quadril, com os cabelos em chamas. Farrell trouxe essa imagem à vida com a ajuda da artista Casey Niccoli, e juntos criaram a impactante arte da capa vista em Nothing’s Shocking.
Sabe o que também não foi surpreendente? A resposta da grande mídia à arte. Nove grandes varejistas se recusaram a vender o álbum, com o Walmart liderando o boicote. Como resposta, Farrell concordou, com relutância, em permitir que sua gravadora lançasse o álbum em um saco de papel pardo.
Jane’s Addition, ‘Ritual de lo Habitual’ (1990)
Dado o feedback que receberam por Nothing’s Shocking, a Jane’s Addiction certamente suavizou as coisas para o próximo álbum, certo? Nem tanto. Para Ritual de lo Habitual de 1990, Perry Farrell novamente contou com a artista Casey Niccoli, desta vez para criar uma imagem de um trio sexual em papel machê, inspirada pela música “Three Days”.
Genitálias masculinas e femininas eram visíveis na arte, tornando fácil a rejeição pelos padrões do Walmart. Desta vez, no entanto, a Jane’s Addiction voltou com uma nova capa. Ela apresentava texto preto em um fundo branco, incluindo as palavras da Primeira Emenda (o direito à liberdade de expressão). No verso do CD, havia outra mensagem: “Os sonhos sifilíticos de Hitler quase se tornaram realidade. Como isso pôde acontecer? Controlando a mídia. Um país inteiro foi liderado por um lunático… Devemos proteger nossa Primeira Emenda, antes que sonhos doentios se tornem lei. Ninguém zombou de Hitler??!”
Apesar do teor de protesto da nova capa, Walmart estocou a versão alternativa de Ritual de lo Habitual.
Green Day, ‘Kerplunk’ (1991)
Green Day e Walmart têm uma longa história de confrontos. Tudo começou com Kerplunk, o segundo álbum de estúdio da banda, lançado em 1991. A capa do LP mostrava o desenho de uma jovem segurando uma arma fumegante. No verso, havia a ilustração de um homem deitado no chão com um ferimento de bala.
O gigante do verejo considerou a arte gráfica e perturbadora, recusando-se a estocar o álbum. Como o Green Day ainda estava se estabelecendo na época, a disputa recebeu pouca atenção.
Nirvana, ‘Nevermind’ (1991)
Lançado pelo Nirvana em 1991, foi um marco, se tornando um dos LPs mais celebrados da história do rock. No entanto, se você tentasse comprar Nevermind no Walmart quando foi lançado, ficaria bastante desapontado. Isso porque o gigante do varejo se recusou a estocar o álbum por causa de sua capa, que mostrava um bebê nu nadando atrás de uma nota de dólar.
O varejista não gostou da nudez do bebê e disse que a imagem precisaria ser alterada para ser vendida em suas lojas. Kurt Cobain respondeu dizendo que só concordaria se colocassem um adesivo sobre o bebê com a frase: “Se você se ofende com isso, deve ser um pedófilo enrustido“.
Como era de se esperar, Walmart não gostou da ideia. À medida que a popularidade de Nevermind crescia, a loja cedeu e passou a vender o álbum sem alterações. Essa não seria a última vez que o Walmart e o Nirvana entrariam em conflito.
Nirvana, ‘In Utero’ (1993)
O Nirvana mais uma vez se encontrou em desacordo com o super verejista, entrando para a lista de álbuns de rock banidos pelo Walmart. Desta vez, a rede de varejo ficou incomodada com a contracapa do álbum, que apresentava imagens de fetos, além da música “Rape Me”. Mais uma vez, a banda se recusou a ceder, levando a um impasse. In Utero foi lançado em 21 de setembro de 1993 e, por seis meses, não pôde ser comprado nas lojas do Walmart. Eventualmente, o Nirvana e sua gravadora cederam.
Alguns dizem que foi porque as vendas de In Utero foram mais lentas que as de Nevermind, mas Kurt Cobain e Krist Novoselic – que cresceram em cidades pequenas de Washington – insistiram que foi porque sabiam como era ter o Walmart como única opção para comprar discos. A contracapa foi alterada e “Rape Me” foi renomeada para “Waif Me” na lista de faixas (a música em si não foi alterada).
Green Day, ‘Dookie’ (1994)
O Green Day voltou com Dookie. Mais uma vez, a arte da capa gerou problemas. A imagem ilustrada mostrava, entre outras coisas, bombas rotuladas como “Dookie” sendo lançadas sobre pessoas, cães e macacos jogando fezes, além de uma grande nuvem em forma de cogumelo. A loja também supostamente não gostou de que um anjo com uma harpa em uma nuvem parecia estar feliz olhando para o caos.
Novamente, o Walmart se recusou a estocar o álbum, mas desta vez Dookie se tornou um sucesso comercial massivo. Eventualmente, a loja cedeu e passou a vender o álbum com uma capa ligeiramente alterada.
Red Hot Chili Peppers, ‘One Hot Minute’ (1995)
Não, o Walmart não rejeitou One Hot Minute do Red Hot Chili Peppers como uma forma de protesto pela entrada de Dave Navarro na banda. Em vez disso, a rede de lojas teve um problema com uma música em particular: “Pea”. Com menos de dois minutos de duração, a canção foi escrita pelo baixista Flea como um “dedo do meio musical” para os tipos machões que costumavam agredi-lo.
Com versos como “Fuck you, asshole / You homophobic, redneck dick”, o Walmart considerou a música profana demais para ser vendida em suas lojas, colocando One Hot Minute na lista dos álbuns de rock banidos pelo Walmart. Uma versão alternativa do álbum, com “Pea” removida, foi lançada posteriormente nos Walmarts de todo os Estados Unidos.
White Zombie, ‘Supersexy Swingin’ Sounds’ (1996)
A rede de varejo se recusou a estocar o álbum devido às letras repletas de palavrões e à capa, que mostrava uma modelo nua deitada em uma rede. A banda e sua gravadora já previam essa reação e prepararam uma alternativa. Logo, uma versão “limpa” de Supersexy Swingin’ Sounds foi disponibilizada, com a mesma modelo na rede, mas desta vez vestindo um biquíni azul.
Willie Nelson, ‘Countryman’ (2005)
É difícil encontrar um músico mais carismático que Willie Nelson, mas o Walmart não foi fã do álbum de 2005 do lendário cantor country. No LP intitulado Countryman, Nelson surpreendentemente se aventurou no reggae. O cantor sempre foi um defensor do uso de cannabis, algo que se alinha com muitas visões do reggae e do movimento rastafári. Naturalmente, Nelson decidiu que uma grande folha de maconha seria a arte perfeita para a capa de Countryman. A rede de lojas se recusou a estocar o álbum até que a capa fosse alterada, forçando a gravadora de Nelson a lançar uma versão alternativa.
Green Day, ’21st Century Breakdown’ (2009)
Quase duas décadas após sua disputa inicial, Green Day e Walmart voltaram a se enfrentar em 2009. Desta vez, o conflito envolveu o conteúdo das letras. O álbum 21st Century Breakdown foi lançado com um adesivo de orientação parental. Nesses casos, a política de longa data do Walmart exigia uma versão censurada para ser vendida em suas lojas. O Green Day se recusou.
“O Walmart se tornou o maior varejista do país, mas eles não querem vender nosso disco porque queriam que censurássemos. Eles querem que os artistas censurem seus discos para serem vendidos lá”, explicou a banda na época. “Nós simplesmente dissemos: ‘Não’. Nunca fizemos isso antes. Você se sente como se estivesse em 1953 ou algo assim.”
21st Century Breakdown ganhou o Grammy de Melhor Álbum de Rock e vendeu mais de um milhão de cópias nos EUA, mas o Green Day e o Walmart nunca chegaram a um acordo, tornando este mais um dos álbuns de rock banidos pelo Walmart
Arctic Monkeys, ‘Suck It and See’ (2011)
O quarto álbum de estúdio do Arctic Monkeys não estava cheio de palavrões, e a arte da capa era bastante simples, com apenas texto preto em um fundo branco. No entanto, foi o título do LP, Suck It and See, que incomodou o Walmart. A empresa rejeitou o álbum unicamente com base em seu nome, presumindo que tivesse conotação sexual. Na verdade, o problema foi uma questão de mal-entendido cultural. A frase “suck it and see” é uma gíria britânica que significa “tente e veja”, mas essa tradução foi perdida no maior varejista dos Estados Unidos.
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