“Being Boiled”: A música do Human League que inciou a revolução sintetizada

No final dos anos 1970, a música pop enfrentava um dilema, enquanto o punk desafiava convenções sociais e sonoras, instrumentos tradicionais ainda dominavam. Foi nesse cenário que um grupo de Sheffield, Inglaterra, apostou em sintetizadores para redefinir o futuro da música.

A história começa com a democratização dos sintetizadores. Antes restritos a nomes como Rick Wakeman, os teclados analógicos se tornaram acessíveis graças a modelos como o Korg 700S, vendido por menos de US$ 1.000. Martin Ware, então funcionário de escritório, optou por comprar um em vez de tirar carteira de motorista. “Era uma escolha entre dirigir ou fazer música eletrônica”, disse ele em entrevista.

Junto a Ian Craig Marsh, Ware formou o núcleo inicial do The Human League. Em um galpão abandonado, usando equipamentos rudimentares, criaram “Being Boiled”. A letra, escrita por Philip Oakey, abordava a ebulição de casulos de bichos-da-seda para extração de seda, mesclando crítica social e experimentalismo.

A gravação foi caótica. Com um orçamento de £3, isolaram as paredes com bandejas de frutas e usaram dois sintetizadores, uma fita cassete e um microfone. O resultado foi uma mistura de ruído industrial e batidas sintéticas, longe do pop convencional.

David Bowie elogiou a faixa como “o futuro da música”, mas a recepção inicial foi morna, só após John Peel, da BBC, tocar a música repetidamente, venderam 3.000 cópias – muito além das 20 esperadas.

Na época, artistas como Kraftwerk e Suicide já exploravam eletrônica, mas “Being Boiled” ampliou o caminho, enquanto “The Model”, do Kraftwerk, ganhava popularidade, o The Human League consolidava uma estética que influenciaria o synthpop dos anos 1980.

A música foi relançada em 1980 no EP “Holiday ’80” e no álbum “Travelogue”, mas é a versão original que permanece como documento de uma era. Sua urgência e ousadia inspiraram bandas como Orchestral Manoeuvres in the Dark e Depeche Mode.

Hoje, “Being Boiled” é lembrada não como um hit, mas como um divisor de águas, sua relevância está na coragem de abandonar guitarras e abraçar o desconhecido – prova de que revoluções nascem de experimentos incertos.

E assim, entre fitas cassete e sintetizadores baratos, uma música de 1978 pavimentou o caminho para a era eletrônica – sem pretensão, mas com um impacto que ecoa até hoje.

Ouça abaixo “Being Boiled” do Humana League

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