O jornalista Mark Beaumont, da NME, cunhou o termo “Crank Wave” para definir um grupo de bandas que misturam guitarras intensas com vocais quase teatrais. Em sua descrição, ele afirma que esses artistas soam como “alguém tendo um episódio psicótico em uma sociedade de debates”. Apesar do tom humorístico, a expressão passou a identificar um movimento que reformula elementos do rock britânico das últimas décadas.
Mas a definição mais próxima que descobrimos foi Crank Wave, também conhecido como Crunkcore, é um subgênero da música eletrônica que combina elementos de crunk rap e screamo . É caracterizado pelo uso pesado de autotune, vocais distorcidos e batidas agressivas e de alta energia.
Não se trata de um novo gênero, mas de uma cena formada por músicos nativos digitais que incorporam referências da internet à sua sonoridade. O pós-punk serve como base para essas bandas, que adicionam experimentação, performances marcantes e uma abordagem satírica. Há forte presença da palavra falada, letras fictícias e uma estética que brinca com identidades, criando personagens que refletem aspectos da cultura contemporânea.
O Windmill Brixton, pub no sul de Londres, é um dos centros dessa movimentação. Conhecido por priorizar diversidade artística em vez de popularidade, o espaço tornou-se ponto de encontro para bandas que buscavam o primeiro contato com o público. O organizador Tim Perry tem papel fundamental nessa curadoria, garantindo que o local se mantenha um espaço de descoberta.
Bandas como Black Midi, Black Country, New Road e Squid deram seus primeiros passos nesse circuito e se tornaram referências. O produtor Dan Carey, à frente do selo Speedy Wunderground, também foi peça-chave ao lançar os primeiros trabalhos desses artistas, consolidando a identidade da cena.
A “Crank Wave” foge das convenções do mercado musical tradicional. As composições não seguem estruturas previsíveis, variam em duração e exploram instrumentação pouco usual, como cordas, sopros e sintetizadores. Longe das tendências de rádio, o movimento continua a atrair um público que busca inovação e ruptura com padrões estabelecidos.
5 bandas Crack Wave pós-punk de Londres
Black Midi
Formado por Geordie Greep, Cameron Picton e Morgan Simpson, o Black Midi mistura rock experimental com noise rock, criando um som vanguardista. As letras apresentam um tom teatral ou exploram histórias com ironia, refletindo a abordagem imprevisível da banda. O grupo evita seguir um único estilo, incorporando elementos contrastantes de maneira inesperada.
Os integrantes se conheceram na Brit School, renomada instituição de artes que teve entre seus alunos nomes como Amy Winehouse e King Krule. No entanto, o The Windmill Brixton teve um papel essencial no desenvolvimento da banda, oferecendo espaço para que pudessem se apresentar e evoluir no palco.
A banda já tem 3 discos lançados, porém está em um momento de pausa. Georgie Greep, seu vocalista, lançou seu primeiro disco ano passado, um dos melhores de 2024.
Black Country, New Road
O Black Country, New Road surgiu em 2018, unindo pós-punk a instrumentos de cordas e sopros, como demonstrado no álbum de estreia, “For the First Time” (2021). No segundo disco, “Ants From Up There” (2022), a banda se aproximou do chamber pop, explorando uma sonoridade mais emotiva.
Com músicos de formação erudita, o grupo equilibra introspecção e ironia em suas composições. No entanto, pouco antes do lançamento do segundo álbum, o vocalista Isaac Wood anunciou sua saída por questões de saúde mental. Diante dessa mudança, o baixista Tyler Hyde, o tecladista May Kershaw e o saxofonista Lewis Evans assumiram os vocais.
Meses depois, a banda se apresentou no Bush Hall, em Londres, revelando novas composições e buscando seguir adiante após a saída de Wood.
Squid
Bandas com bateristas nos vocais costumam chamar atenção, e o Squid segue essa tendência. Formado por Ollie Judge, Anton Pearson, Arthur Leadbetter, Louis Borlase e Laurie Nankivell, o grupo lançou dois álbuns: “Bright Green Field” (2021) e “O Monolith” (2023), ambos produzidos por Dan Carey.
O Squid explora o art punk com uma abordagem experimental. Suas composições fogem do convencional e incorporam uma ampla variedade de instrumentos. Sobre as letras, Ollie Judge destaca que o isolamento durante a pandemia influenciou seu processo criativo, levando-o a uma abordagem mais introspectiva.
Home Counties
Vindo de uma cidade pequena nos arredores de Buckinghamshire, o Home Counties mistura a energia do punk com elementos de dance music. O grupo incorpora influências de new wave, disco, funk e até bossa nova, unindo guitarras rítmicas ao uso marcante de sintetizadores.
Atualmente baseado em Londres, o Home Counties é formado por Will Harrison, Lois Kelly, Conor Kearney, Barnaby Peiser Pepin, Bill Griffin e Dan Hearn. Em maio de 2024, lançaram o álbum de estreia, “Exactly as It Seems”, que, segundo a banda, reflete os desafios e prazeres de viver em Londres na casa dos vinte anos.
Maruja
O Maruja surge em Manchester com a proposta de desafiar uma cena musical que, há anos, se mantém acomodada no Britpop. Formado por Harry Wilkinson, Matt Buonaccorsi, Joe Carroll e Jacob Hayes, o grupo se movimenta entre o jazz punk e uma sonoridade intensa, marcada por um sentimento de revolta contra a opressão e o desânimo político.
Com influências do jazz rock e ritmos próximos ao drum & bass, a banda incorpora o uso expressivo de instrumentos de sopro, como o saxofone, que se choca com a crueza do pós-punk.
Além das citadas, há muitas outras, a lista é bem grande. Para ficar de olho e conhecer mais, o site da Musicalyst deixou uma lista com mais bandas. Clique neste link aqui e conheça-as.
Abaixo, links de duas playlists no Spotify para conhecer um pouco mais sobre o estilo.
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