No universo do rock, onde lendas se cruzam e visões se chocam, poucos nomes carregam tanto peso quanto Pete Townshend, do The Who, e Keith Richards, dos Rolling Stones. Ambos, mestres na arte de criar hinos que definiram gerações, tinham uma ideia muito particular do que fazia o rock ‘n’ roll ser, bem, rock ‘n’ roll. Para eles, o gênero não era um terreno livre para qualquer invenção, mas sim um organismo vivo com características essenciais. Mudar essas características, na opinião deles, era desvirtuar a própria essência da música. Essa forma de pensar os unia em uma crítica bem direta a uma corrente que, para muitos, apontava para o futuro do som pesado.
Townshend, com seu olhar afiado para as nuances musicais, via o surgimento de novas sonoridades como “mutações perversas”. Ele acreditava que o rock ‘n’ roll tinha uma identidade clara, e qualquer desvio significativo disso resultava em algo completamente diferente, ou pior, uma versão distorcida do original. Sua antipatia pelo heavy metal, por exemplo, era um reflexo dessa convicção, um sentimento que encontrava reflexo em seu amigo e colega de estrada, Keith Richards.
Richards, por sua vez, sempre defendeu com unhas e dentes a necessidade do “swing” no rock. Para ele, a década de 1970 viu esse elemento vital se perder aos poucos, transformando o que era “roll” em uma “marcha”. Com seu jeito direto, ele explicou: “Eu nunca me canso de rock ‘n’ roll, mas ‘rock’ é uma versão do homem branco”, disse ele em “Under the Influence”, “e eles transformam isso em uma marcha, essa é a versão [moderna] do rock. Com licença, eu prefiro o roll.” Essa diferença entre o que ele considerava autêntico e o que se tornava uma mera cópia era fundamental para como ele enxergava o gênero.
Assim, enquanto muitas bandas que apareciam na esteira do sucesso dos Beatles podiam argumentar que traziam algo novo e fresco, Townshend e Richards concordavam que, na verdade, algo fundamental estava sendo deixado de lado. E foi o Led Zeppelin, um dos grupos mais famosos daquela época, quem frequentemente se viu no centro dessa discussão, recebendo as críticas de ambos os músicos.
Pete Townshend, em uma conversa com o Toronto Sun, chegou a brincar que o The Who “meio que inventou o heavy metal com [nosso primeiro álbum ao vivo] ‘Live at Leeds’ (1970)”. No entanto, essa observação não o enchia de orgulho, mas sim de um certo desconforto. Ele via as bandas que vieram depois, especialmente o Led Zeppelin, como simples imitações. “Fomos copiados por tantas bandas, principalmente pelo Led Zeppelin, sabe, bateria pesada, baixo pesado, guitarra solo pesada”, contou Townshend. Para ele, ser copiado, nesse caso, estava longe de ser um elogio.
Em 1995, sua crítica ficou ainda mais forte. “Não gosto de nada que eles fizeram, odeio o fato de ser comparado a eles, mesmo que seja só um pouquinho”, declarou. Ele fez questão de separar a pessoa do artista, reconhecendo que os integrantes do Led Zeppelin eram “caras muito, muito legais”, mas mantendo sua desaprovação pela banda. “Eu simplesmente nunca gostei deles. É um problema para mim, porque, como pessoas, acho que eles são caras muito, muito legais. Simplesmente nunca gostei da banda.”
A opinião de Keith Richards, embora também cheia de ressalvas, tinha um toque a mais de sutileza. Richards era esperto o suficiente para não desmerecer por completo uma banda tão respeitada. Ele elogiou Jimmy Page, chamando-o de “um ótimo guitarrista” e “muito respeitado”. Foi além, afirmando em outra entrevista: “Para mim, o Led Zeppelin é o Jimmy Page, se você quiser resumir a história.” Essa distinção entre o talento individual de Page e a dinâmica da banda era um ponto chave em sua análise.
Contudo, em seu próprio site, Richards foi mais direto sobre o grupo como um todo. “Como banda, me senti apropriadamente nomeado, nunca decolou para mim musicalmente”, escreveu. Ele também apontou John Bonham, o baterista, como um fator que contribuía para o que ele chamava de “Led” na banda. “Bonham era um baterista poderoso, embora eu ache que ele é meio autoritário — é aí que entra o ‘Led’.” Mais tarde, em uma conversa com a Rolling Stone, ele resumiu sua impressão: “Eu sempre senti que havia algo um pouco vazio nisso, sabe?”
O curioso dessa história é que o “vazio” que Richards e Townshend sentiam não impediu o Led Zeppelin de alcançar um sucesso estrondoso. O grupo vendeu muito mais que o rock clássico, conquistando uma legião de fãs muito maior do que a de seus colegas ou críticos mais antigos. Em certo momento, o álbum “Led Zeppelin IV” chegou a estar entre os cinco mais vendidos de todos os tempos. Townshend, mesmo a contragosto, reconheceu essa realidade: “Bem, isso se tornou muito maior que o The Who em muitos aspectos, em sua área de atuação…”, mas logo emendou, reafirmando sua posição: “Eu nunca gostei deles.” A história da música, às vezes, é escrita não só por quem cria, mas também por quem observa e critica, mostrando as tensões e as diferentes formas de ver que moldam a evolução de um gênero.