O som da mudança: a passagem de Blaze Bayley pelo Iron Maiden

Luis Fernando Brod
8 minutos de leitura
Iron Maiden. Crédito: Mick Hutson/Redferns via Getty Images.

Em 28 de agosto de 1993, uma cena dramática marcou o fim de uma era para o Iron Maiden. Na última noite da “Real Live Tour”, Bruce Dickinson, o vocalista que por doze anos havia sido a voz da banda em sete álbuns e incontáveis turnês, encenou sua própria “morte” em uma donzela de ferro. A performance, filmada nos Pinewood Studios, simbolizava uma despedida bombástica e mórbida, mas também revelava um cansaço. Aquele espírito aventureiro que havia gerado obras como “Powerslave” e “Seventh Son Of A Seventh Son” na década de 1980 parecia ter se dissipado.

Os álbuns mais recentes, “No Prayer For The Dying” e “Fear Of The Dark”, eram vistos como um retorno hesitante à fórmula da New Wave of British Heavy Metal, abandonada após “Killers”. As gravações em paraísos distantes foram substituídas pelo estúdio caseiro de Steve Harris em Essex, e a banda já não experimentava o crescimento constante de público. Bruce partiu, deixando para trás um navio sem leme e uma vaga cobiçada por muitos.

Mais de 1.500 fitas demo chegaram às mãos da banda, um volume que foi cuidadosamente reduzido a doze audições. Deste grupo, surgiu a escolha que dividiria opiniões: Blaze Bayley. Ele representava um contraste marcante com Bruce. Enquanto Dickinson elevava poemas românticos e épicos de ficção científica, Bayley, vindo do Wolfsbane, trazia um estilo mais direto e descontraído. Sua ascensão à maior banda de metal da Europa gerou debates, mas era precisamente a redefinição que seus novos colegas buscavam.

Blaze recorda a busca por uma mudança. A voz de Bruce havia sido a identidade do Maiden por um longo tempo, e a sua era distintamente diferente. Steve Harris, o baixista, percebeu o potencial no registro mais grave de Blaze durante um aquecimento. A familiaridade prévia também ajudou; o Wolfsbane havia sido banda de apoio do Iron Maiden em 1990, e Blaze havia distribuído CDs e camisetas, garantindo que Steve já tivesse uma amostra de sua voz.

Com a formação novamente completa, o trabalho no décimo álbum começou. Em abril de 1994, Blaze participou de sua primeira sessão de composição, dirigindo de Birmingham até a casa do guitarrista Janick Gers em Londres. Uma ideia central já fervilhava em sua mente: o refrão “Falling down! Falling down! Falling down!”. Combinado com um riff rápido de Janick, essas palavras se tornaram o cerne de “Man On The Edge”, o futuro single principal do primeiro trabalho de Blaze com o Maiden, “The X Factor”.

Blaze, que sempre escreveu, encontrou uma validação ao ver Steve Harris aprovar suas ideias. No Wolfsbane, sua imagem de “bom vivante” muitas vezes ofuscava a profundidade de suas letras. A aprovação de Harris, que ele via como uma figura de grande influência na composição, foi um momento de grande significado. As letras de “Man On The Edge” foram abertamente inspiradas no filme “Falling Down”, de 1993, um drama anticapitalista. A história do protagonista, que finge ir trabalhar para esconder o desemprego da família, repercurtiu com uma experiência pessoal de Blaze, que, quando criança, foi demitido de sua rota de jornal e, com medo do padrasto, fingia sair de casa todas as manhãs.

“Man On The Edge”, com seus vocais mais ásperos, remetia à energia da era de Paul Di’Anno, revitalizando a fórmula clássica do Maiden em um álbum que, por vezes, era errático. Apesar do entusiasmo de Blaze e Janick, que havia se juntado em 1989, a criação de “The X Factor” foi marcada por baixa moral. Mudanças na formação, o divórcio recente de Steve Harris e uma imprensa apática contribuíram para um clima de incerteza.

Blaze admite que era um período de turbulência. A mídia britânica já criticava o Maiden antes mesmo da saída de Bruce, em meio à ascensão do grunge. Apesar dos desafios, a banda alcançou o “Top Of The Pops” em duas ocasiões: com uma performance em estúdio e, pouco depois, com um videoclipe gravado na fortaleza de Massada, em Israel. Blaze recorda a gravação sob um calor intenso, sem sombra, e um helicóptero militar que voou tão baixo que todos tiveram que se abaixar.

A “X Factour”, a primeira turnê de Blaze com a banda, estendeu-se por quase um ano, do Oriente Médio à África do Sul, Europa e Américas. Embora “Man On The Edge” fosse a música de abertura, a turnê enfrentou contratempos. O show em Londres foi na Brixton Academy, com 5.000 fãs, um contraste com a Wembley Arena, de 12.500 lugares, que o Maiden havia lotado três anos antes. A banda foi alvo de hostilidade no Chile, e Blaze visivelmente lutou para alcançar as notas mais altas de clássicos como “The Trooper”.

Blaze permaneceu no Iron Maiden por mais dois anos após a conclusão da “X Factour”. De volta para casa, eles começaram a trabalhar em “Virtual XI”, de 1998, que alcançou a 16ª posição nas paradas do Reino Unido. No entanto, problemas vocais de Blaze durante a turnê subsequente levaram ao cancelamento de várias datas nos Estados Unidos.

Finalmente, em 10 de fevereiro de 1999, a jornada de cinco anos de Blaze chegou ao fim. Foi anunciado o retorno de Bruce Dickinson e do ex-guitarrista Adrian Smith. Mais de duas décadas depois, Blaze atribui sua saída a uma decisão de negócios. O Maiden precisava de “algo maior” do que apenas um novo álbum ou turnê para reacender seu momento. A volta de Bruce e Adrian criou uma narrativa que os fãs e as gravadoras puderam abraçar, e o Maiden voltou a brilhar.

Blaze foi informado da decisão em uma reunião, e Steve Harris, juntamente com a gerência, expressou apoio ao seu futuro na música. A reunião rapidamente deu frutos, com “Brave New World” marcando a primeira ascensão comercial da banda desde 1992. Os shows esgotados na Brixton Academy se transformaram em extravagâncias do nível do Earl’s Court. Quanto a Blaze, ele utilizou o material que havia planejado para um terceiro álbum do Maiden para lançar sua carreira solo, começando com “Silicon Messiah” em 2000. O álbum, embora não tenha tido sucesso comercial, foi bem recebido pelos fãs e pela crítica.

Hoje, como um artista solo com vinte anos de carreira, Blaze Bayley considera que seu maior aprendizado com o Maiden, e especialmente com “Man On The Edge”, foi um aumento significativo na autoconfiança. Ele pode afirmar que teve um sucesso no Top 10 mundial, tendo escrito a letra e a melodia, algo que ninguém pode tirar dele. Essa confiança, ele acredita, é fundamental para superar os desafios da vida.

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