Keith Richards relembra como gravou “Happy” antes que Mick Jagger tomasse a música

O ambiente criativo dentro de uma banda pode ser tão competitivo quanto as disputas pelas paradas de sucesso. Nos Rolling Stones, essa dinâmica variou ao longo das décadas, com Mick Jagger e Keith Richards alternando momentos de maior influência no processo criativo. Em uma entrevista de 2010, transcrita pela Far Out, Richards revelou um episódio particular desse jogo de forças: a gravação de “Happy”, única faixa da banda a alcançar as paradas com seus vocais principais.

Lançada em 1972 no álbum Exile on Main St., “Happy” nasceu durante as sessões na Villa Nellcôte, no sul da França. Richards compôs a faixa rapidamente e tomou uma decisão inusitada: gravá-la antes mesmo que os outros integrantes soubessem de sua existência. “Eu a ‘roubei’ e a capturei antes que qualquer outra pessoa soubesse que ela existia”, disse na entrevista.

O guitarrista sabia que, se Jagger ouvisse a música, provavelmente assumiria os vocais. Para evitar isso, Richards correu para registrá-la com sua própria voz, garantindo que “Happy” se tornasse uma das raras músicas dos Stones em que ele ocupa o centro das atenções.

Embora tenha um título otimista, “Happy” surgiu em um momento turbulento para Richards. Enfrentando problemas pessoais e afundado no uso de substâncias, ele viu na canção uma forma de aliviar seu estado emocional. “Às vezes, você escreve para neutralizar esse sentimento”, afirmou. “Eu estava me sentindo tudo, menos feliz, quando escrevi ‘Happy’.”

A música se tornou uma das favoritas do guitarrista ao longo dos anos. “Eu a toco bastante, mais do que qualquer outra”, revelou. Richards também brincou com sua própria reputação ao afirmar que normalmente não era associado a canções alegres. “Provavelmente estou mais alinhado a Lúcifer e ao lado negro.”

A velocidade com que a faixa foi concluída impressiona até para os padrões dos Stones. “Happy” foi gravada em uma tarde, com Richards nos vocais e na guitarra, acompanhado pelo saxofonista Bobby Keys e pelo produtor Jimmy Miller na bateria. Bill Wyman e Charlie Watts não estavam no estúdio no momento, e Jagger chegou apenas depois que a base da música já estava pronta.

Apesar das circunstâncias incomuns, a canção se tornou um dos destaques de Exile on Main St. e um dos momentos mais marcantes dos shows de Richards. O guitarrista, que muitas vezes assume os vocais em performances ao vivo, mantém “Happy” no repertório como um lembrete de que, mesmo nos dias mais difíceis, é possível encontrar alguma luz na música.

Autor

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *