Madonna e Ozzy e um dueto que nunca existiu oficialmente e ressurge quatro décadas depois

Luis Fernando Brod
6 minutos de leitura
Madonna / Ozzy Osbourne. Fotos: Reprodução.

Há histórias musicais que parecem destinadas a permanecer nas sombras — quase como lendas urbanas que atravessam gerações, aguardando o momento certo para reaparecer. A colaboração entre Madonna e Ozzy Osbourne em “Shake Your Head”, do grupo Was (Not Was), é uma delas: uma gravação improvável, feita em 1983, que passou mais de quarenta anos guardada, circulando apenas em relatos dispersos e prensagens obscuras. Agora, graças a novas entrevistas de Don Was a veículos como Classic Rock, Rolling Stone e American Songwriter, a história volta ao centro das atenções — impulsionada, inclusive, pelo recente falecimento de Ozzy, que reacendeu a curiosidade entre fãs e colecionadores.

O produtor revela que Madonna, então uma jovem artista ainda batalhando espaço na cena de Nova York, gravou seus vocais para “Shake Your Head” nos primeiros meses de 1983. Don Was se lembra claramente: “Ela fez um ótimo trabalho”, contou à Rolling Stone. Mas a ideia de unir sua voz à de Ozzy — já então um astro consolidado do rock — não se encaixava no conceito do Was (Not Was). O contraste entre o pop dançante emergente de Madonna e o peso sombrio do metal de Ozzy criava uma equação curiosa, porém fora da proposta do álbum “Born to Laugh at Tornadoes”. Resultado: a gravação foi arquivada.

Oito anos depois, em 1992, a música renasceu nas mãos do remixer Steve “Silk” Hurley, que turbinou a faixa com estética house e trouxe Ozzy de volta aos vocais. Madonna, porém, recusou a liberação de sua voz original. Para ocupar seu lugar, entrou Kim Basinger — sim, a atriz vencedora do Oscar — que regravou as linhas femininas. A versão remixada virou um sucesso inesperado: alcançou o 4º lugar nas paradas britânicas e se tornou o maior hit do Was (Not Was) no Reino Unido. Ainda assim, parte do público sempre suspeitou da existência de um “dueto fantasma”.

E não era apenas mito. Algumas prensagens de 1992 incluíram trechos dos vocais de Madonna, mesmo sem autorização: o duplo LP “Now Dance 92” creditava um 12″ Mix com “featuring Madonna”, e certos lados B de singles traziam “Dub Mixes” onde sua voz permanecia na mixagem. Esses discos se tornaram itens raros, caçados por colecionadores como evidências de uma história que insistia em sobreviver.

Em entrevista à American Songwriter em outubro de 2025, Don Was confirmou: existe uma mixagem completa do dueto Madonna/Ozzy, preparada em 1983 e remixada anos depois. Desde a publicação da matéria pela Classic Rock/Louder Sound, surgiram rumores de que essa versão inédita poderia integrar uma possível edição de luxo de “Born to Laugh at Tornadoes”. Nenhum anúncio oficial foi feito, mas a especulação cresce à medida que a narrativa ganha novo fôlego.

Para entender o contexto dessa história tortuosa, vale lembrar quem foi o Was (Not Was). Formada em Detroit em 1979 pela dupla Don Was (Don Fagenson) e David Was (David Weiss), a banda sempre viveu de hibridismos: funk, jazz, rock, pop, experimentalismo e letras cheias de ironia e crítica social. O grupo flertava com tudo e com todos — tanto que o álbum de 1983 reuniu participações tão distintas quanto Ozzy Osbourne, Mel Tormé e Doug Fieger. Mais tarde, em 1988, o Was (Not Was) atingiria seu auge comercial com “What Up, Dog?”, puxado por “Walk the Dinosaur”, um hit global. Don Was, por sua vez, se estabeleceria como um dos produtores mais influentes da indústria, trabalhando com Rolling Stones, Bob Dylan, Iggy Pop, Bonnie Raitt e tantos outros.

“Shake Your Head”, dentro dessa trajetória, sempre foi um ponto fora da curva — e talvez por isso tenha se tornado tão fascinante. Nascida como uma faixa irreverente e bem-humorada, típica da banda, ela atravessou décadas colecionando acasos, remixes e segredos de estúdio. O reencontro do público com sua história, agora, funciona quase como uma arqueologia pop: revela os bastidores da criação, as decisões artísticas frustradas, as tensões entre gravadoras e artistas, e o poder que um simples “não” pode ter sobre o destino de uma obra.

Se a versão original com Madonna e Ozzy algum dia chegar às plataformas, será mais do que um lançamento histórico. Será o fechamento de um dos capítulos mais curiosos do pop — uma peça perdida que, finalmente, encontra o seu lugar. Até lá, o mito continua vivo, alimentado por relatos, prensagens clandestinas e pelo mistério que sempre acompanhou essa colaboração que, oficialmente, nunca aconteceu.

Você pode ouvir a versão que circula no Youtube clicando neste link aqui:

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