Em 1981 o Rush fez o que parecia um verdadeiro truque de mágica. Depois de “Permanent Waves”, onde a banda já tinha aprimorado a arte de misturar suas raízes progressivas com um toque mais acessível para as rádios, eles foram ainda mais longe. Com “Moving Pictures”, não só capturaram o espírito de uma era, mas também entregaram uma obra que se tornaria um divisor de águas em sua carreira, um disco que seria falado por muitos e muitos anos.
O mais fascinante em “Moving Pictures” é que, apesar de toda a evolução, a essência do Rush estava ali, pulsando em cada nota. Músicas como “Limelight” e “Tom Sawyer” não demoraram a virar clássicos, ganhando vida própria e um lugar especial no coração dos fãs. E mesmo as faixas mais complexas, como “The Camera Eye”, eram um lembrete do que fazia a banda tão especial, com a guitarra precisa de Alex Lifeson brilhando intensamente.
Mas, como acontece com quase todo álbum, “Moving Pictures” também se transformou um pouco quando as músicas saíram do estúdio para o palco. Levar as composições para a performance ao vivo é um dos maiores desafios para qualquer banda, e muitas vezes, é algo que o público nem percebe. A não ser, claro, que a transição não funcione, e aí fica difícil entender por que uma música que soa tão bem gravada acaba perdendo o brilho em um show.
Geddy Lee, o baixista e vocalista, sentia isso de perto, especialmente com “The Camera Eye”. Ele tinha a impressão de que a música não se encaixava tão bem no palco. No entanto, a canção era tão pedida pelos fãs que era impossível simplesmente ignorá-la. É fácil entender a hesitação, não só pela complexidade técnica, mas também porque um show precisa ter um fluxo, uma narrativa que se desenrola através das músicas escolhidas. É quase como contar uma história.
Apesar de tudo isso, a dificuldade de tocar algumas faixas do disco ao vivo é um detalhe pequeno perto da grandiosidade de “Moving Pictures”. Afinal, é um álbum tão atemporal que pouco importa se Lee sentia um certo desconforto com algumas de suas músicas. A experiência de ouvi-lo, seja em casa ou em um show, é pura magia. E o próprio Lee percebeu isso anos depois, durante a turnê “Time Machine”, quando a banda tocou o álbum na íntegra.
Em 2012, conversando com a revista Bass Player (Via Far Out), Lee relembrou a turnê como um “verdadeiro destaque”. Ele contou que ficou surpreso com a fluidez das músicas, mesmo depois de tanto tempo, e que o material havia resistido bravamente ao teste do tempo. “Adorei tocar o álbum inteiro; fiquei impressionado com a fluidez dele depois de todos esses anos, e achei que o material resistiu ao teste do tempo”, disse ele. Lee também notou como as linhas de baixo voltaram à sua memória com bastante facilidade, e até deixou no ar a possibilidade de repetirem a dose no futuro.
“Moving Pictures” provou ao Rush duas coisas importantes: a necessidade de se manter fiel à própria essência e, ao mesmo tempo, a coragem de seguir em frente. Parece simples, mas dominar esses dois pontos é uma arte, especialmente sem cair na armadilha de achar que o que se está fazendo é, no fim das contas, impossível. Alex Lifeson, o guitarrista, resumiu bem para a Louder: “Se você pensar bem, ‘Moving Pictures’ é a prole fofa, doce e feliz [de ‘Permanent Waves’]!” Ele explicou que a banda aprendeu muito sobre composição e sobre como trabalhar em equipe para alcançar seus objetivos. Assim, um álbum tão ambicioso pôde nascer sem que eles se matassem no processo.