No início dos anos 1990, a Noruega viveu um fenômeno musical carregado de polêmica e radicalismo. Conhecido como Inner Circle, esse movimento reuniu jovens ligados ao black metal extremo.
Mais do que um grupo de músicos, eles formaram um círculo fechado com ideias antirreligiosas e postura transgressora. A violência simbólica e literal que emanou dali tornou o black metal norueguês globalmente conhecido — e temido.
Black metal: estética fria, som cru e ruptura com o padrão
O black metal surgiu no início dos anos 1980, influenciado por bandas britânicas como Venom e Bathory, da Suécia. Musicalmente, o estilo é marcado por vocais agudos, guitarras distorcidas e gravações propositalmente lo-fi. Na Noruega, o gênero ganhou contornos ainda mais radicais, tanto na sonoridade quanto na estética. A rejeição ao cristianismo e o interesse por temas pagãos e misantrópicos tornaram-se centrais.
O chamado Inner Circle foi um grupo informal, mas influente, de músicos e simpatizantes do black metal. Ele se formou em torno da loja de discos Helvete, em Oslo, que era frequentada por membros de várias bandas. Além da música, o grupo discutia filosofia, ocultismo e atitudes extremas contra instituições religiosas.
Entre 1992 e 1995, surgiram casos de queima de igrejas e até assassinatos associados ao círculo.
Três bandas centrais do Inner Circle norueguês
Mayhem
Formada em 1984 por Øystein Aarseth (Euronymous), o Mayhem é considerada a banda fundadora do black metal norueguês. O grupo teve formação instável, mas ganhou notoriedade com o vocalista Per Yngve Ohlin (Dead) e o baterista Hellhammer. A morte de Dead em 1991 e o assassinato de Euronymous em 1993 marcaram tragicamente a história da banda. Mesmo após os eventos violentos, o Mayhem permaneceu em atividade e ajudou a consolidar a estética do gênero.
Burzum
Burzum foi o projeto solo de Varg Vikernes, iniciado em 1991, logo após seu envolvimento com o Inner Circle. Musicalmente, a banda apostava em atmosferas repetitivas, com elementos ambient e gravações minimalistas. Vikernes foi preso em 1994 pelo assassinato de Euronymous e por envolvimento na queima de igrejas. Apesar da prisão, o Burzum influenciou diversos artistas que buscaram unir música extrema a atmosferas introspectivas.
Darkthrone
Inicialmente uma banda de death metal, o Darkthrone adotou o black metal a partir do disco “A Blaze in the Northern Sky” (1992). O trio norueguês — Fenriz, Nocturno Culto e Zephyrous — se afastou de produções limpas e adotou o som cru. Eles recusaram turnês e entrevistas, fortalecendo o aspecto underground e anticomercial do gênero. Sua trilogia inicial de black metal é vista como uma das bases estéticas e filosóficas do estilo.
O Inner Circle dissolveu-se no meio da década de 1990, mas seus efeitos se mantêm no imaginário do black metal. O movimento inspirou debates sobre os limites entre arte, ideologia e violência dentro da música extrema. A estética e a postura das bandas norueguesas moldaram o gênero em todo o mundo, com legados diversos. Até hoje, o black metal carrega resquícios dessa radicalização nas cenas underground e independentes.
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