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Os 45 anos de The Wall do Pink Floyd

No dia 30 de novembro de 1979, o Pink Floyd lançou The Wall, seu décimo primeiro álbum de estúdio e o último a reunir os integrantes da formação clássica da banda. Durante as gravações, o tecladista Richard Wright foi demitido por Roger Waters e, consequentemente, já não participou como membro oficial no álbum seguinte, The Final Cut. Com 26 faixas distribuídas em dois discos, The Wall é uma obra conceitual que narra a trajetória de Pink, um personagem fictício inspirado em Roger Waters, que ergue um muro metafórico para se isolar do mundo e enfrentar seus traumas pessoais.

A idéia de The Wall

A ideia para The Wall surgiu durante a turnê do álbum Animals (1977). Em 6 de julho daquele ano, em Montreal, Canadá, Roger Waters cuspiu em um fã que tentava invadir o palco. O incidente levou Waters a refletir sobre a desconexão com o público e o distanciamento do rock como arte. A partir daí, ele desenvolveu o conceito de um “muro” separando artistas e público.

Waters apresentou o projeto à banda em 1978, propondo um álbum que abordasse isolamento, alienação, traumas e ego. Apesar de aceito, o projeto acentuou tensões internas, com Waters assumindo quase todo o controle criativo, o que gerou atritos, especialmente com David Gilmour. Richard Wright, tecladista, foi demitido durante as gravações por conflitos, mas continuou na turnê como músico contratado.

A produção de The Wall

A produção de The Wall foi um projeto extenso sob a direção do produtor Bob Ezrin. As gravações ocorreram em estúdios na França, nos Estados Unidos e no Reino Unido. Ezrin ajudou a organizar a narrativa e introduziu elementos como o coro infantil em “Another Brick in the Wall, Part 2”.

A produção foi marcada por tensões criativas: Waters assumiu o controle quase absoluto do projeto, enquanto Gilmour lutava para preservar sua influência. Apesar das disputas, o resultado final revelou um álbum profundamente alinhado em sua visão artística, embora isso tenha ocorrido às custas das relações entre os integrantes.

A história de Pink e sua parede

Era uma noite escura quando o público começou a se reunir. Havia uma inquietação no ar, um misto de expectativa e desconforto. As luzes diminuíram, e uma voz ecoou: “Então, você achou que gostaria de assistir ao show?” Assim começa a história de Pink, um homem perdido entre os escombros de sua própria mente, que nos convida a uma viagem sombria por suas memórias e emoções.

Pink era como muitos de nós. Nascido em um mundo já repleto de conflitos, sua infância foi marcada pela primeira grande ausência: seu pai. Ele nunca o conheceu, pois ele morreu em batalha, deixando para trás apenas uma foto desbotada no álbum da família e um vazio que Pink jamais conseguiria preencher. “O que mais você deixou para mim, papai?” ele perguntava em sua mente. Mas a resposta era clara: aquilo foi apenas o primeiro tijolo em sua parede.

Sua mãe, desesperada para proteger o filho de um mundo perigoso, o envolveu com uma superproteção sufocante. Ela o manteve perto demais, transformando seus próprios medos nos medos de Pink. “Mamãe, devo construir a parede?” ele perguntou, e ela, mesmo sem saber, respondeu: “Sim, meu filho. É assim que você ficará seguro.”

Os traumas que moldaram a parede

Na escola, Pink encontrou mais tijolos para sua construção. Os professores não eram guias inspiradores; eram tiranos, prontos para esmagar a criatividade e a alegria das crianças. Suas palavras cruéis eram como chicotadas: “Você, fique parado, garoto!” Qualquer tentativa de individualidade era ridicularizada. O mundo parecia dizer a Pink que ele não deveria se destacar, apenas obedecer. Essa opressão não só o isolou ainda mais, como alimentou um ódio profundo pelo sistema que o moldava.

Em “Another Brick in the Wall (Part 2)”, o grito de revolta é alto: “Não precisamos de educação! Não precisamos de controle mental!” Mas a rebelião não destruiu a parede. Pelo contrário, solidificou-a. A raiva de Pink se tornou mais um tijolo.

Solidão e desilusão

Enquanto Pink crescia, ele começou a experimentar o amor, mas também a traição e a dor. Em canções como “Young Lust”, ele buscava preenchimento em prazeres momentâneos, apenas para descobrir que eles deixavam um vazio ainda maior. Sua esposa, alguém que ele pensava que seria seu porto seguro, o traiu, e Pink, já quebrado, afundou em um abismo de isolamento. Ele cortou o mundo exterior e se trancou atrás da parede que vinha construindo a vida inteira.

O colapso

Dentro de sua fortaleza emocional, Pink começou a perder a conexão com a realidade. Em “Comfortably Numb”, ele se torna apático, incapaz de sentir ou reagir. Sua dor está distante, como um navio que desaparece no horizonte. Ele se permite ser manipulado, medicado e transformado em uma sombra do que era. É como se sua mente gritasse: “Alguém aí?!”, mas o eco vazio apenas confirmava: ele estava sozinho.

Essa desconexão culmina em delírios de grandeza em “In The Flesh”. Pink imagina-se liderando um regime autoritário, um reflexo de sua raiva reprimida e do autoritarismo que sofreu na infância. Ele projeta sua dor nos outros, ordenando perseguições e punições contra aqueles que ele considera “diferentes”. Mas, no fundo, ele sabe que está se perdendo, que o verdadeiro inimigo está dentro de si.

O julgamento interior

A virada acontece em “The Trial”, uma sequência surreal onde Pink enfrenta seu próprio julgamento interior. A voz de sua mãe, seu professor e sua ex-mulher ecoam no tribunal, cada um acusando-o de suas falhas. O juiz, que simboliza sua consciência, sentencia: “Derrubem a parede!”

É um momento de revelação. Pink percebe que sua fortaleza emocional, construída para protegê-lo, na verdade o aprisionou. A parede desmorona, e ele se encontra nu diante do mundo, vulnerável, mas livre.

A reconexão com o mundo

Em “Outside the Wall”, aprendemos que a vida fora da parede não é perfeita. Pink está ferido, e aqueles que o amam estão do lado de fora, esperando por ele. Alguns se apoiam, outros caem, mas todos continuam tentando. A mensagem é clara: viver é doloroso, mas é também a única maneira de realmente se conectar.

Conclusão

The Wall é uma história sobre os muros que construímos para nos proteger das dores da vida, apenas para descobrir que esses muros também nos separam do que é belo. É uma jornada emocional, intensa e profundamente humana, que nos lembra que, mesmo em nossos momentos mais sombrios, há sempre uma chance de derrubar a parede e começar de novo.

A Importância de The Wall

Além de seu sucesso como obra gravada, The Wall também ganhou vida em espetáculos ao vivo. Durante a turnê realizada entre 1980 e 1981, o Pink Floyd criou uma experiência visual impactante, com a construção de um muro no palco que simbolizava as barreiras emocionais do protagonista. No final do show, o muro era derrubado, encerrando a apresentação de forma catártica. Devido à alta complexidade técnica e aos custos, a turnê ocorreu em poucas cidades, mas é lembrada como um marco nos grandes eventos musicais.

Após o fim da formação clássica do Pink Floyd, Roger Waters, principal criador de The Wall, continuou a revisitar o álbum em sua carreira solo. Seus shows se destacaram pela grandiosidade e por expandirem os temas do álbum, incluindo críticas sociais e políticas contemporâneas. Em 1990, Waters realizou uma apresentação histórica na Potsdamer Platz, em Berlim, para celebrar a queda do Muro de Berlim. Esse evento, que atraiu uma enorme multidão e reuniu grandes nomes da música, reforçou o significado cultural de The Wall em momentos de transformação global.

Entre 2010 e 2013, Waters voltou a apresentar The Wall em uma turnê mundial, utilizando tecnologia de ponta para criar projeções visuais impressionantes e trazer um novo impacto para as músicas. Esses eventos foram um sucesso, tanto em público quanto em arrecadação, e mostraram como os temas do álbum continuam atuais.

Para saber mais sobre o álbum e mais curiosidades, assista/ouça o Redação Disconecta especial sobre os 45 anos do The Wall no Spotify ou no YouTube

Autor

  • Julio Mauro

    Júlio César Mauro é um nerd de carteirinha e pai de duas meninas, com um jeito peculiar, às vezes um pouco ranzinza, e sempre lidando com o desafio de viver com TDAH. Sua carreira na música não foi como ele esperava, mas ele se destacou na TI, onde já soma 26 anos de experiência. Conhecido por ser franco e por um senso de humor afiado que nem sempre é entendido por todos, Júlio também teve uma fase como co-apresentador do programa Gazeta Games na Rádio Gazeta de São Paulo, onde mostrou seu lado gamer. E a música? Continua sendo uma de suas grandes paixões.

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