Os rostos ocultos na capa de “Sgt. Pepper”

Marcelo Scherer
5 minutos de leitura
Capa de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band doThe Beatles.

A capa de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” é, sem dúvida, uma das imagens mais reconhecidas na história da música. Ela se apresenta como um intrincado mosaico de personalidades, um verdadeiro quebra-cabeça visual que convida o observador a decifrar cada rosto ali presente.

De figuras divinas a reis, a composição reúne uma gama eclética de indivíduos, de Mahatma Gandhi a Bob Dylan e Marilyn Monroe, transformando a arte do álbum em um jogo de adivinhação que perdura por décadas.

Contudo, a diversão desse enigma visual não se limita apenas às figuras claramente visíveis. Parte do fascínio reside nos rostos que permanecem ocultos, aqueles que, por um motivo ou outro, são difíceis de discernir, não importa o quão aguçada seja a visão do espectador.

Alguns estão apenas fora do enquadramento, enquanto outros são obscurecidos por cabeças maiores, tanto literal quanto figurativamente, o que gera uma certa frustração ao perceber que algumas figuras não ocupam o espaço que talvez merecessem nesta peça da história.

Essa questão se aprofunda ao considerarmos as personalidades que os Beatles desejaram incluir, mas que acabaram sendo descartadas. A lista era vasta e abrangia um espectro que ia de Jesus Cristo a Adolf Hitler. Isso demonstra a intenção da banda de provocar e de adicionar camadas de significado, ou talvez apenas de agitar as águas, como era de seu feitio. A capa, portanto, é um reflexo da ousadia e do espírito da época em que foi concebida.

Para aqueles que já tentaram desvendar o mistério por conta própria, existem inúmeros guias numerados disponíveis online que auxiliam na decodificação do painel. No entanto, para poupar tempo e esforço, é possível destacar algumas das figuras menos óbvias que, embora presentes na capa de “Sgt. Pepper”, muitas vezes passam despercebidas em meio à multidão de celebridades. A presença delas é um testemunho da riqueza de detalhes e da complexidade da obra.

É importante ressaltar que as figuras obscurecidas não são menos relevantes do que as que ocupam o centro da cena. Alguns nomes de peso acabaram não recebendo o destaque principal, mas sua inclusão adiciona profundidade à narrativa visual. A escolha de quem incluir e como posicionar cada um revela um processo criativo meticuloso e cheio de intenções, que vai além da simples reunião de rostos famosos.

Por exemplo, no canto superior direito, encontra-se James Joyce, o prolífico poeta e autor irlandês, cuja imagem é parcialmente encoberta por Bob Dylan. Essa justaposição de gênios literários e musicais é um dos muitos detalhes que enriquecem a composição. Diagonalmente abaixo dele, à esquerda, está outro escritor, Stephen Crane, discretamente posicionado no ombro de Issy Bonn, quase como um segredo guardado dentro da própria obra.

Na primeira fila, a figura mais à esquerda é uma pessoa sorrindo de forma enigmática e não identificada, adicionando um toque de mistério e até um certo desconforto à cena. Pouco adiante, estão os renomados atores de Hollywood Marcello Mastroianni e Shirley Temple. Curiosamente, Shirley Temple faz um total de três aparições na capa, um detalhe que poucos percebem e que sublinha a complexidade da montagem.

Um pouco mais adiante, Bette Davis e Timothy Carey são em grande parte obscurecidos pelos próprios Beatles. É quase irônico que, em sua própria capa de álbum, os membros da banda acabem por esconder estrelas de tal magnitude. Essa disposição levanta a questão se os artistas ocultos se sentiriam frustrados por terem suas imagens, que contribuíram para a aclamação da obra, parcialmente encobertas pela presença de outros.

As teorias sobre o que “Sgt. Pepper” simboliza são tão diversas quanto as figuras em sua capa, em toda a sua glória caótica e tecnicolorida. A imagem é, sem dúvida, uma das mais famosas do mundo, não apenas no contexto das capas de álbuns. No entanto, se a sua imagem fosse usada para criar tal obra, não seria um tanto irritante ter seu rosto coberto pela cabeça de outra pessoa? É uma reflexão que a capa, em sua genialidade, nos convida a fazer.

Ouça abaixo Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band do The Beatles

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