Por que “Aqualung” continua tão relevante, segundo Ian Anderson

Lançado em 1971, “Aqualung”, do Jethro Tull, é um daqueles trabalhos que desafiam o tempo. Mesmo décadas após seu lançamento, a música título continua a ser revisitada não apenas por fãs do rock progressivo, mas por quem se identifica com sua crítica social.

A conexão entre Jethro Tull e Led Zeppelin, por exemplo, revela raízes compartilhadas. Embora os estilos de vida das bandas fossem distintos, Anderson reconhece a influência do grupo de Jimmy Page. “Eles mostraram como combinar rock direto com elementos de folk, música asiática e africana”, explicou. Essa mistura de gêneros, aliada a uma abordagem dramática, inspirou o Jethro Tull a explorar caminhos menos óbvios.

“A liberdade criativa deles nos fez perceber que não precisávamos nos limitar ao convencional”, disse Anderson. Enquanto o Led Zeppelin incorporava referências medievais em “Led Zeppelin IV”, o Jethro Tull apostava em flautas e letras filosóficas. “Ambos compartilhávamos uma paixão por música que fugia do padrão do rock”, completou.

Essa busca por originalidade definiu a trajetória do Jethro Tull. Ao longo de seis décadas, a banda construiu uma discografia imprevisível. De “This Was” (1968), com blues pesado, a “Thick as a Brick” (1972), um álbum conceitual de 44 minutos, cada trabalho parece pertencer a um universo único. “Nunca quisemos repetir fórmulas”, afirmou Anderson. “Se você comparar ‘Cross-Eyed Mary’ e ‘Skating Away’, verá que são obras completamente distintas.”

A versatilidade, porém, não surgiu do acaso. Anderson sempre buscou inspiração em fontes variadas, como música indiana e folclore britânico. “A chave é ouvir sem preconceitos”, comentou. Essa curiosidade o levou a citar discos como “Sgt. Pepper’s”, dos Beatles, e “Buena Vista Social Club” como obras que marcaram diferentes fases de sua vida.

“A música não é sobre épocas ou modas”, refletiu. “É sobre conectar-se com emoções humanas.” Essa filosofia explica a longevidade de “Aqualung”. A faixa título retrata a vida de um homem marginalizado, um tema que, infelizmente, permanece atual. “Na década de 1970, chamávamos essas pessoas de ‘tramps’”, disse Anderson. “Hoje, a realidade é mais complexa, com problemas como dependência química e violência.”

Em shows, Anderson ainda apresenta “Aqualung” com a mesma intensidade. “As pessoas se emocionam porque reconhecem a história”, contou. A letra, que critica a hipocrisia social, ressoa em contextos distintos. “A música não é só um retrato do passado, mas um espelho do presente”, concluiu.

A autenticidade de “Aqualung” também contribui para sua relevância. “Não escrevi para ser ‘atual’”, explicou Anderson. “Escrevi sobre o que via.” Essa honestidade artística transformou a canção em um testemunho da condição humana, capaz de transcender gerações.

Enquanto muitas bandas buscam fórmulas para o sucesso, o Jethro Tull prova que a verdade criativa é a única receita infalível. E “Aqualung”, nesse sentido, permanece como um farol — tão necessário agora quanto há 50 anos.

Ouça abaixo o álbum “Aqualung” do Jethro Tull

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