A história do rock é feita de acasos, improvisos e soluções de última hora. Em uma época em que os discos de vinil ditavam o ritmo das gravações, muitas bandas se viam diante de um desafio curioso: completar o tempo mínimo de um LP, que girava em torno de 45 minutos. Isso levava músicos a compor rapidamente mais uma faixa, só para “fechar o disco”. O curioso é que, em várias ocasiões, essas músicas feitas quase por obrigação acabaram se tornando as mais conhecidas do álbum, ou até mesmo da carreira dos artistas. Abaixo, alguns casos emblemáticos.
Black Sabbath – “Paranoid” (1970)
Durante as gravações do segundo disco do Black Sabbath, inicialmente intitulado War Pigs, a banda percebeu que ainda faltavam cerca de três minutos para completar o tempo total do LP. A solução foi improvisar uma nova faixa. Tony Iommi apareceu com um riff simples e direto, a banda entrou junto e, em uma sessão rápida, a música estava pronta. A gravadora gostou tanto do resultado que sugeriu rebatizar o álbum com o nome da nova faixa. Assim nasceu Paranoid, tanto a música quanto o disco, que ajudou a definir o som do heavy metal nos anos seguintes.
Deep Purple – “Smoke on the Water” (1972)
Em dezembro de 1971, o Deep Purple foi até Montreux, na Suíça, para gravar o álbum Machine Head. O plano era usar o cassino local, que estaria fechado para o inverno, como estúdio temporário. No entanto, na véspera do início das gravações, durante um show de Frank Zappa no mesmo local, um espectador disparou um sinalizador que incendiou o prédio inteiro. Sem estúdio, a banda teve que improvisar um novo espaço em um hotel vazio e usou o estúdio móvel dos Rolling Stones. Durante esse processo caótico, perceberam que ainda faltava uma faixa. Ritchie Blackmore criou um riff marcante e Ian Gillan escreveu uma letra relatando tudo que havia acontecido nos últimos dias, desde o incêndio até a mudança para o hotel. O resultado foi “Smoke on the Water”, uma música que se tornaria um hino do rock e ensinaria gerações inteiras a tocar guitarra.
Tears for Fears – “Shout” (1985)
Ao final das gravações de seu segundo álbum, Songs from the Big Chair, o Tears for Fears ainda precisava de uma música para fechar o disco. Roland Orzabal vinha ensaiando repetidamente um riff de guitarra, sem muita pretensão. Há quem diga que foi o produtor, outros dizem que foi sua esposa, mas alguém o convenceu a transformar o riff em uma faixa completa. A composição surgiu rapidamente, com estrutura simples e refrão repetitivo, mas com uma intensidade emocional que pegou em cheio o espírito da época. “Shout” foi lançada como single, ganhou o mundo e se tornou um dos maiores sucessos dos anos 80.
Guns N’ Roses – “Sweet Child o’ Mine” (1987)
Durante as sessões do álbum Appetite for Destruction, Slash começou a brincar com um riff de guitarra que ele mesmo descreveu como uma “piada de aquecimento”. Izzy Stradlin acompanhou, e Axl Rose, que ouviu a melodia do outro cômodo, começou a imaginar uma letra em cima daquele som. Em pouco tempo, a música estava montada. Nenhum dos integrantes achava que a faixa teria algum destaque, mas a gravadora apostou nela como single. O resultado foi um dos maiores hits da década e a música que apresentou o Guns N’ Roses ao mundo inteiro.
Oasis – “Supersonic” (1994)
Noel Gallagher escreveu “Supersonic” em questão de horas. A banda estava em estúdio pronta para gravar uma outra música, mas Noel sentiu que ela não funcionava e decidiu apresentar uma nova ideia. Enquanto os outros membros comiam ou descansavam, ele compôs letra, melodia e arranjos. A gravação foi feita ali mesmo, em uma espécie de demo que acabou virando o primeiro single oficial da banda. O impacto foi imediato. A música apresentou o som do Oasis ao público e pavimentou o caminho para o sucesso do álbum Definitely Maybe.
Foo Fighters – “The Pretender” (2007)
O álbum Echoes, Silence, Patience & Grace já estava praticamente pronto quando Dave Grohl surgiu com a ideia de mais uma faixa. A inspiração veio durante uma pausa nas gravações, quando ele começou a tocar um novo riff. A banda se empolgou, e rapidamente construíram uma música em torno daquela base. “The Pretender” foi escolhida como faixa de abertura do álbum, lançada como single e se transformou em um dos maiores sucessos da banda nos anos 2000, tocando exaustivamente em rádios e shows por todo o mundo.
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