A separação entre Ozzy Osbourne e o Black Sabbath, oficializada em 1979, abriu espaço para duas trajetórias paralelas dentro do heavy metal. Embora marcada por tensões e desgaste, a ruptura deu origem a dois dos discos mais celebrados daquele período: Heaven and Hell, com Ronnie James Dio, e Blizzard of Ozz, estreia solo de Osbourne.
Lançado em 1978, Never Say Die! foi o último álbum da formação original da banda. O trabalho refletiu o cansaço criativo e as tensões internas que precederam a saída de Ozzy. A decisão não foi fácil, mas considerada necessária, especialmente por conta dos problemas do vocalista com álcool e drogas.
A chegada de Ronnie James Dio, ex-Rainbow, trouxe nova energia ao grupo. Seu estilo vocal mais dramático estimulou o guitarrista Tony Iommi a explorar novas possibilidades. O resultado veio com Heaven and Hell, lançado em 25 de abril de 1980. O álbum marcou uma guinada na sonoridade da banda e reposicionou o Sabbath entre os principais nomes da época.
Ozzy, por sua vez, mergulhou em um projeto próprio e reuniu músicos até então desconhecidos do grande público. Entre eles, o guitarrista Randy Rhoads, vindo do Quiet Riot. A combinação entre o estilo melódico de Rhoads e a liberdade criativa de Osbourne moldou Blizzard of Ozz, lançado em 20 de setembro de 1980.
Em sua autobiografia I Am Ozzy (2009), o cantor reconheceu que se sentiu desafiado com a nova fase do Black Sabbath. “Eu sabia que tínhamos um álbum incrível. E era mágico estar no controle”, escreveu (via Ultimate Classic Rock). Ele também revelou que, apesar do ressentimento inicial, havia entusiasmo com a resposta positiva do público nas turnês.
A estreia ao vivo do novo Sabbath ocorreu em 17 de abril de 1980, em Aurich, na então Alemanha Ocidental. Já Ozzy subiu aos palcos com sua banda solo em 12 de setembro, em Glasgow, Escócia. Ambas as turnês foram bem recebidas e consolidaram a nova identidade de cada projeto.
No repertório da turnê Blizzard of Ozz, predominavam faixas do disco de estreia, como “Crazy Train”, “Mr. Crowley” e “I Don’t Know”. Algumas canções do ainda inédito Diary of a Madman, lançado em 1981, também apareciam em certas noites. O encerramento trazia três músicas do Sabbath: “Iron Man”, “Children of the Grave” e “Paranoid”.
No caso do Sabbath, a turnê Heaven and Hell manteve um equilíbrio entre composições novas e antigas. Faixas como “Neon Knights” e “Die Young” se misturavam a clássicos como “NIB”, “Sweet Leaf” e “War Pigs”. Mesmo com o novo direcionamento sonoro, a banda reconhecia a importância de manter parte do repertório da era Osbourne.
Apesar do entusiasmo com a nova fase, Ronnie James Dio revelou desconforto ao cantar músicas que ficaram marcadas na voz de Ozzy. “Sabia que não seria apenas uma questão de saber cantar as músicas”, afirmou em Rainbow in the Dark, autobiografia publicada postumamente em 2021. Para ele, conquistar o público era um desafio além da técnica.
O baterista Vinny Appice, que se juntaria ao Sabbath na turnê seguinte, lembrou do clima nos shows: “Ronnie teve que encarar cartazes com ‘Cadê o Ozzy?’ e odiava cantar músicas como ‘Iron Man’ e ‘Sweet Leaf’”. Mesmo assim, segundo Appice, Dio conseguia dar nova dimensão às faixas antigas. “Era uma voz poderosa. Foi incrível”, contou.
Para estabelecer sua presença nos palcos, Dio adotou um gesto que mais tarde se tornaria símbolo do gênero: as “mãos com chifres”. “Algumas dezenas começaram a retribuir, depois centenas, e logo se espalhou”, relatou o vocalista. O gesto o ajudou a se aproximar dos fãs e marcar seu espaço na história da banda.
Repertório da turnê Blizzard of Ozz (1980)
“I Don’t Know”
“Crazy Train”
“Believer”
“Mr. Crowley”
“Flying High Again”
“Revelation (Mother Earth)”
“Steal Away (The Night)”
“Suicide Solution”
Solo de guitarra
“Iron Man”
“Children of the Grave”
“Paranoid”
Repertório da turnê Heaven and Hell (1980)
“War Pigs”
“Neon Knights”
“NIB”
“Sweet Leaf”
“Children of the Sea”
Solo de bateria
“Black Sabbath”
“Heaven and Hell”
“Iron Man”
Solo de guitarra
“Orchid”
“Die Young”
“Paranoid”
“Children of the Grave”
Mais de quatro décadas depois, os álbuns de 1980 continuam entre os mais lembrados por fãs de heavy metal. Ainda que a ruptura entre Ozzy e o Sabbath tenha ocorrido em meio ao caos, o período serviu como ponto de partida para duas frentes criativas que marcaram gerações.
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