A trajetória de Sydney Barrett, ou simplesmente Syd, é uma das histórias mais enigmáticas da música britânica.
Por um breve período, ele foi o coração criativo do Pink Floyd, moldando a banda com sua visão única e experimentalismo musical. Mas seu talento veio acompanhado de sombras que acabaram ofuscando sua luz.
Em meados dos anos 1960, Syd liderava o Pink Floyd com um estilo inovador. Suas composições misturavam poesia, psicodelismo e experimentação em álbuns como “The Piper at the Gates of Dawn”. Esse trabalho ajudou a colocar o grupo no mapa como pioneiro do rock psicodélico. Mas o sucesso veio com um preço alto para o jovem músico.
“Ele era diferente de todos nós”, disse Roger Waters em entrevista ao biógrafo Dave Thompsom. “Não acredito que as drogas foram a causa principal de sua doença mental. Elas apenas agravaram algo que já existia.” Barrett conheceu Waters ainda na adolescência, durante os anos escolares em Cambridge. Os dois compartilhavam uma paixão pela música e logo formaram uma amizade profunda. Essa conexão inicial foi essencial para a fundação do Pink Floyd, mas também marcaria o início de uma tragédia pessoal.
Quando o Pink Floyd lançou seu álbum de estreia em 1967, Barrett era o líder indiscutível da banda. Suas letras coloridas e arranjos inusitados deram vida a canções como “See Emily Play” e “Bicycle Race”. No entanto, à medida que a fama crescia, sua saúde mental começava a ruir. “A deterioração foi lenta, mas inevitável”, relembrou David Gilmour em entrevista ao documentário. “Ele estava perdendo a capacidade de contribuir para a banda. Foi doloroso para todos nós.”
Gilmour foi trazido para ajudar a compensar a ausência crescente de Barrett. Inicialmente, sua função era dar suporte, mas logo ficou claro que Syd não conseguiria continuar. Sua saída oficial ocorreu em 1968, marcando o fim de uma era para o grupo. Mesmo após deixar o Pink Floyd, os membros tentaram ajudá-lo. Eles financiaram seus dois álbuns solo, “The Madcap Laughs” e “Barrett”, ambos lançados em 1970. Mas, para surpresa de todos, Syd abandonou a música pouco depois.
Um reencontro marcante aconteceu durante as gravações de “Wish You Were Here”, em 1975. Barrett apareceu no estúdio irreconhecível, com sobrepeso e distante. Para Waters, aquele momento foi desolador. “Nós mal conseguimos reconhecê-lo”, confessou. Nos últimos anos de vida, Barrett viveu recluso em Cambridge, longe dos holofotes. Seu último encontro com Waters ocorreu por acaso em Harrods, Londres. “Ele estava comprando doces, mas se afastou antes que pudéssemos conversar”, lembrou Waters.
A relação entre Barrett e seus ex-companheiros sempre foi complexa. Enquanto alguns viam sua saída como necessária, outros carregavam culpa pelo abandono. “Tentamos ajudá-lo, mas ele queria distância”, disse Gilmour. Syd Barrett faleceu em 2005, aos 60 anos, deixando um vazio na memória de quem o conheceu. Sua história continua sendo revisitada por fãs e estudiosos da música. Fontes incluem entrevistas de Roger Waters e registros biográficos.
Sydney Barrett nasceu em 6 de janeiro de 1946, em Cambridge, Inglaterra. Desde cedo, demonstrou interesse por arte e música. Sua família o apoiava, oferecendo instrumentos e incentivo para explorar seu talento. Aos 15 anos, ganhou sua primeira guitarra, presente do pai. Foi nessa época que começou a compor suas primeiras canções. “Ele tinha uma imaginação incrível”, disse sua irmã Rosemary em entrevista ao livro “Syd Barrett: A Very Irregular Head”.
Em 1962, Barrett conheceu Roger Waters no colégio. Os dois logo perceberam que compartilhavam interesses musicais. “Ele era fascinante, com ideias que pareciam vir de outro mundo”, contou Waters. Quando o Pink Floyd foi formado em 1965, Barrett trouxe sua visão única para o grupo. Suas influências iam de Bob Dylan a Beatles, mas ele sempre buscava criar algo novo. “Syd era o coração da banda”, afirmou Nick Mason.
O lançamento de “The Piper at the Gates of Dawn” em 1967 foi um divisor de águas. O álbum recebeu elogios por sua originalidade e ajudou a consolidar o Pink Floyd como uma força no cenário psicodélico. Mas o sucesso também trouxe pressão. Shows extenuantes e uso excessivo de substâncias começaram a afetar Barrett. “Ele estava perdido em sua própria mente”, disse Gilmour. Em 1968, sua condição piorou. Ele parou de tocar ao vivo e mal conseguia compor. “Foi devastador ver alguém tão talentoso se perder”, comentou Richard Wright, tecladista da banda.
Depois de sair da banda, Barrett tentou seguir carreira solo. Seus dois álbuns, lançados em 1970, mostraram um artista introspectivo e frágil. “Ele ainda tinha algo a dizer, mas o mundo não estava pronto”, disse Peter Jones, produtor dos discos. No entanto, Barrett logo abandonou a música. Ele voltou para Cambridge, onde viveu recluso pelos próximos 35 anos. “Ele queria esquecer o passado”, revelou sua irmã Rosemary. Seu isolamento aumentou com o tempo. Ele evitava contato com jornalistas e antigos colegas. “Syd escolheu uma vida longe dos holofotes”, disse Nick Kent, jornalista musical.
O reencontro em 1975 durante as gravações de “Wish You Were Here” foi um momento difícil. Barrett estava irreconhecível, tanto fisicamente quanto emocionalmente. “Foi como ver um fantasma”, admitiu Waters. Anos depois, Waters tentou entrar em contato com Barrett novamente, mas sem sucesso. “Ele não queria ajuda. Só queria paz”, disse Waters. O último encontro casual em Harrods foi um lembrete de quão distante Barrett havia se tornado. “Ele simplesmente desapareceu na multidão”, relembrou Waters.
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