Teriam os Beatles acabado com a música folk? Segundo Bob Dylan, sim.

Luis Fernando Brod
4 minutos de leitura
Bob Dylan. Foto: Shutterstock.

A trajetória de Bob Dylan nunca foi moldada pela ambição de ser a maior estrela do rock no mundo. Sua busca primordial residia na oportunidade de entoar as canções sinceras que ecoavam dos maiores nomes da música folk. A adulação que o cercava parecia secundária diante de seu propósito: criar músicas autênticas e partilhar a arte como se fazia antes da era da música pop. Contudo, ele percebia que a maré estava mudando desde seus primeiros passos.

Não que Dylan não nutrisse um respeito saudável pelo rock and roll da época. Os grandes nomes da música haviam sido seus ídolos nos tempos de colégio. Mesmo antes de firmar seu nome em Greenwich Village, ele conseguia apreciar Little Richard com a mesma reverência que dedicava a Pete Seeger. Ambos, à sua maneira, transmitiam mensagens e eram intransigentes em seus estilos.

Embora Dylan sempre retornasse à voz e ao violão para expressar suas ideias, ele era capaz de moldar suas letras de diversas formas quando a ocasião pedia. Sua guinada em direção ao rock and roll, sem dúvida, confundiu os fãs que ansiavam por uma interpretação legítima da música folk. Mas, mesmo que ele estivesse pegando a essência do gênero e transformando-a em rock, a multidão do rock estava atenta.

Enquanto a folk dominava as discussões sobre lirismo, nomes como The Beatles rapidamente se tornavam admiradores fervorosos de Dylan. George Harrison, talvez, tenha sido o verdadeiro fã de Dylan nos bastidores por décadas, mas John Lennon e Paul McCartney absorveram o lirismo de Dylan ao trabalhar em suas próprias canções com toques folk, transformando a base de sua música em ouro em álbuns como “Rubber Soul”.

Era, sem dúvida, uma mudança de ritmo, mas não era assim que a música folk deveria ser feita, na visão de Dylan. Ele tinha grande respeito pelos Beatles, que expandiam os limites do rock and roll. No entanto, no instante em que ouviu o quarteto de Liverpool abrir as portas para algo novo, ele percebeu que a cena que conhecera por tantos anos estava oficialmente encerrada.

Ele ainda podia desfrutar do novo pop vibrante que os Beatles começaram a influenciar, como The Byrds. Mas Dylan sentia-se o mais distante possível da folk naquele ponto, afirmando mais tarde: “A música folk veio exatamente na hora certa em minha vida. Não teria acontecido dez anos depois, e dez anos antes, eu não saberia que tipo de canções eram aquelas. Elas eram tão diferentes da música popular. Mas veio na hora certa, então segui esse caminho. Então a música folk foi relegada para segundo plano. Ou se tornou comercial ou os Beatles a mataram. Talvez não pudesse ter continuado de qualquer maneira.”

Considerando o estado do gênero, Dylan provavelmente estava certo ao dizer que ele precisava morrer. Todos os grandes movimentos musicais têm um tempo limitado de relevância antes de serem deixados de lado. E embora os Beatles tivessem apreço por ouvir aqueles velhos discos, não havia dúvida de que as pessoas preferiam a interpretação deles sobre a folk a ouvir nomes como Pete Seeger e Woody Guthrie.

Mas Dylan sempre soube o poder da origem daquela música. Ele certamente tomaria algumas liberdades ao trabalhar em suas próprias obras-primas, como “Blonde on Blonde”. Contudo, mesmo que sentisse falta daqueles velhos tempos de tocar com pessoas como Joan Baez, era mais importante para ele seguir em frente e descobrir o que mais havia por aí.

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