Nos anos 60, muitas bandas tentaram seguir os Beatles. Uma delas foi o The Wonders, grupo americano que surgiu do nada com a música That Thing You Do! e viveu um breve momento de fama. A canção tocava em toda parte e colocou quatro rapazes de uma cidade pequena em programas de TV, turnês e capas de revistas.
O sucesso, porém, durou pouco. O The Wonders fez alguns shows, lançou outros singles que passaram despercebidos e acabou se separando antes de gravar um segundo disco. Como tantas outras bandas do período, ficou no limbo entre o anonimato e a lembrança.
Mas o curioso é que o The Wonders nunca existiu.
A banda nasceu dentro do filme That Thing You Do! (1996), escrito e dirigido por Tom Hanks. A história acompanha quatro jovens que formam uma banda, gravam uma canção, estouram nas paradas e logo se desfazem. É uma narrativa simples, mas contada com um olhar carinhoso sobre a era das gravadoras, dos rádios locais e do sonho de viver de música.
O título do filme vem da música principal, composta por Adam Schlesinger, do Fountains of Wayne. A faixa tem tudo o que marcava as canções de 1964: melodia direta, batida marcada e refrão impossível de esquecer. Quando o filme estreou, a canção ultrapassou as telas e virou um sucesso real, chegando a concorrer ao Oscar de Melhor Canção Original.
Um retrato da música pop em transformação
O contexto em que a história se passa é o momento em que o rock deixava de ser apenas diversão adolescente e começava a se tornar uma indústria. O filme mostra isso com naturalidade: empresários interessados apenas em lucro rápido, artistas que perdem o controle das próprias criações e uma imprensa musical que transforma qualquer sucesso em moda passageira.
O The Wonders representa bem essa fase em que tudo ainda era novidade. Uma banda que queria apenas tocar, mas acabou engolida pelo próprio sucesso.
A trilha que dá vida ao filme
O que torna o filme tão convincente é a trilha sonora. Além de That Thing You Do!, há outras músicas criadas para compor o universo daquele cenário musical. Dance With Me Tonight traz o ritmo leve das festas de colégio. All My Only Dreams é uma balada feita para tocar no rádio à noite. Little Wild One lembra os grupos britânicos do início da invasão.
Cada música foi escrita para parecer saída de uma época diferente daquele curto período em que o rock ainda estava se inventando. Ouvir a trilha é quase como folhear um álbum de fotos de 1964. Por isso, muitos fãs tratam o disco do filme como um registro real.
O álbum oficial da trilha foi lançado junto com o filme e reuniu não apenas as canções do The Wonders, mas também faixas de outras bandas fictícias criadas para compor aquele mundo. É uma coleção que poderia estar em qualquer jukebox da época.
Um sucesso que saiu da ficção
Com o passar do tempo, That Thing You Do! virou uma referência entre músicos e fãs de cultura pop. A canção continua aparecendo em listas de melhores músicas de filmes e é regravada até hoje por bandas novas que descobrem o filme anos depois. Alguns músicos chegaram a tocar a faixa em shows, tratando o The Wonders como se fosse um grupo real.
Essa mistura entre ficção e realidade é o que mantém o filme vivo. Ele mostra o quanto uma boa história e uma boa canção conseguem atravessar o tempo, mesmo quando nascem dentro de um roteiro. O The Wonders nunca foi real, mas muita gente ainda o cita como se tivesse existido.
Talvez porque o filme não trate o grupo como invenção, e sim como lembrança. E é assim que ficou: uma banda inventada que parece saída de uma prateleira de vinis antigos, com uma única música que nunca envelhece.



