O músico e produtor britânico Brian Eno divulgou nesta semana uma carta aberta direcionada à Microsoft, contestando publicamente o envolvimento da empresa com o Exército israelense. Intitulada “Not in My Name”, a declaração se refere a um contrato entre a companhia e o Ministério da Defesa de Israel, detalhado em publicação no blog oficial da Microsoft, em 15 de maio.
Na carta, Eno afirma que os serviços oferecidos — como inteligência artificial, tradução automática e soluções em nuvem — podem colaborar com a máquina militar israelense. “Se você conscientemente constrói sistemas que podem permitir crimes de guerra, inevitavelmente se torna cúmplice desses crimes”, escreveu o artista.
O texto também relembra a relação de Eno com a Microsoft, que o contratou para compor o som de inicialização do sistema Windows 95. “Aquilo representava uma porta de entrada para um futuro tecnológico promissor”, comentou. “Jamais teria imaginado que a mesma empresa pudesse um dia se envolver na maquinaria da opressão e da guerra.”
Eno ainda declarou que doará o cachê recebido em meados dos anos 1990 pela composição do toque do Windows às vítimas dos ataques em Gaza. A carta, publicada no site Brian-Eno.net, reitera a posição do artista como crítico da política israelense e defensor do movimento BDS — Boicote, Desinvestimento e Sanções.
Em apoio a funcionários da própria Microsoft que se manifestaram contra a parceria com o governo israelense, Eno elogiou a postura de quem, segundo ele, “se recusou a ficar em silêncio”. “Eles arriscam seus meios de subsistência por pessoas que perderam e continuarão perdendo suas vidas”, escreveu.
A publicação mencionada por Eno confirma que a empresa fornece ao governo israelense “software, serviços profissionais, serviços de nuvem do Azure e serviços de IA do Azure, incluindo tradução de idiomas”. O texto alega, no entanto, que a Microsoft não acompanha o uso final de seus produtos em servidores de terceiros.
Nos últimos anos, Eno vem ampliando sua atuação como ativista, envolvendo-se em causas relacionadas a direitos humanos e política internacional. No campo artístico, segue reconhecido por seus trabalhos com Roxy Music, Talking Heads, David Bowie e U2, além de álbuns autorais no ambient e na música experimental.
A carta termina com um apelo coletivo: “Convido artistas, tecnólogos, músicos e todas as pessoas conscientes a se juntarem a mim neste chamado.” Segundo Eno, a ética não pode ser descartada sob o pretexto de inovação.
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