Garotos Podres foram alvo de inquérito policial por música de 1985

Luis Fernando Brod
3 minutos de leitura
Garotos Podres. Crédito: Reprodução.

A banda de punk rock Garotos Podres comunicou ter sido recentemente investigada pela polícia. O grupo, originário de Mauá, no ABC paulista, afirmou em publicação nas redes sociais na última quinta-feira (18) que foi indiciado por causa da música “Papai Noel, Velho Batuta”. A faixa foi lançada originalmente em 1985, integrando o disco de estreia “Mais Podres do que Nunca”.

A informação já havia sido divulgada em um novo lyric video da canção, que foi lançado no dia 5 de dezembro. Segundo os músicos, o inquérito teve origem em uma denúncia feita por “um membro de uma seita de fanáticos de extrema direita”. A alegação era de que a letra “usa palavras que incentivam a violência”, com o objetivo de “impedir apresentações da banda”.

Um show realizado no primeiro semestre teria motivado a denúncia. No entanto, o caso só foi tornado público pelos músicos no final deste ano.

“Papai Noel, Velho Batuta” faz uma crítica à desigualdade social e contém frases como: “Papai Noel, velho batuta / Rejeita os miseráveis / Eu quero matá-lo / Aquele porco capitalista”. Em uma versão mais explícita, a expressão “velho batuta” é substituída por “filho da p#ta”.

A banda descreveu a situação como “censura” e um “longo processo de interrogatórios e burocracias”. Eles afirmaram que, apesar do inquérito focar na música, o principal alvo era impedir os shows. O grupo também mencionou ter recebido solidariedade de jornalistas, professores e pessoas ligadas à arte.

De acordo com os Garotos Podres, o empresário que contratou o show e todos os integrantes passaram por interrogatório. Isso incluiu o baterista Negralha, de 35 anos, que não era nascido quando a canção foi lançada.

Os músicos compararam a situação com censuras anteriores. Em 1985, duas músicas do álbum “Mais Podres do Que Nunca”, “Johnny” e “Vou Fazer Cocô”, foram censuradas pelo Departamento de Censura da Polícia Federal. Em 1988, a música “Batman”, do álbum “Pior Que Antes”, também sofreu censura. A banda ressaltou que, nas ocasiões anteriores, não foram submetidos a interrogatórios de caráter inquisitorial como o de 2025.

O vocalista José Rodrigues “Máo” Júnior comentou o assunto durante um show no Sesc Belenzinho, em São Paulo, no dia 27 de setembro. Um vídeo do canal Lado Direito do Palco registrou o momento. Segundo transcrição da Folha de S. Paulo, Máo Júnior revelou: “Essa semana, a delegada, por videoconferência, perguntou para o Negralha, que é o nosso baterista, sobre essa canção. O que ele respondeu? O Negralha teve que explicar para a delegada de polícia que o Papai Noel não existe. 40 anos depois do fim da ditadura militar nós fomos inquiridos num processo inquisitorial, questionando as letras.”

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