“Quinze”, do Huey, é uma destemida declaração de vida

Novo disco do quinteto paulistano direciona sonoridade singular de peso e groove para contar uma história de resistência e celebração.

O que é que fica vivo quando se sobrevive a uma pandemia e ao desamparo com que ela foi conduzida no Brasil? Muito, mas não de uma forma óbvia. Poder estar presente para contar uma história por meio da música em 2025 significa que não se passa por perdas irreparáveis sem transformações e retornos. É compartilhada a sensação de que, naqueles anos, tudo parecia estar por um fio: a convivência, o perigo sem trégua, o isolamento, o descaso criminoso das autoridades, a indeterminação, a cultura jogada à própria sorte. Logo ela, que fez com que muitas pessoas pudessem respirar e aguentar os dias na companhia de músicas, lives, livros, filmes, séries, pinturas.

Não foram dias necessariamente esperançosos. No entanto, foram dias vividos, com sonhos e planejamentos guardados ou experimentados em um tempo cheio de espera. É por isso que oito anos separam Quinze, o novo disco da banda paulistana Huey, de seu antecessor, Ma (2017). Um intervalo marcado pela necessidade, pelo luto e, também, pelo refinamento de ideias e fortalecimento do desejo de compartilhar o indizível que emociona e congrega. Um intervalo que, de um jeito inesperado, insere uma história de resistência coletiva a uma biografia marcada por
amizade e cumplicidade. E agora, completando 15 anos de existência, o Huey quer marcar sua história com celebração e reencontro.

Isso quer dizer que as bases conhecidas estão ali, mas fortificadas para receber outras direções. Neste quarto disco, o quinteto mantém a sonoridade potente, impulsiva e orgânica que é uma de suas principais assinaturas, ao mesmo tempo em que amplia o território instrumental com paisagens tropicais. O disco, gravado totalmente ao vivo com o produtor Fernando Sanches no estúdio El Rocha, abraça as características do sludge, stoner, post-metal e do metal alternativo, com riffs pesados, andamentos cheios de groove e uma percussão destemida em seu trânsito pela precisão e pela espontaneidade. Ao mesmo tempo, acentua as melodias rumo a uma sonoridade emocionalmente complexificada, na qual os ouvintes podem localizar saudade, beleza, força e esperança.

São quatro faixas: “Passagem”, “Manhã”, “Faísca”, “Submersa”. Títulos fortes, de palavras únicas que ganham sentido na pluralidade. São também mais curtas do que as músicas anteriores do Huey, revelando experimentações na proposta de tempo e fazendo ressoar vestígios da urgência e impulsividade refreadas pelo contexto de pandemia.

Fruto da espera e, mais ainda, do desejo ansioso de quem tem muito o que dizer/tocar, Quinze revela o encontro entre passado e futuro sob o ponto de vista presente, em que a elaboração dos acontecimentos permite que o som pronuncie não só um, mas alguns sentidos. É também um resultado compassivo e íntimo da vida posta forçosamente em espera e da possibilidade de olhar para o que foi vivido, para o silêncio que foi necessário, e fazer soar deles a aposta contagiante na arte.

Recomendado para fãs de Black Sabbath, Pelican, Deftones, Sepultura, Russian Circles, Iron Maiden, Black Pantera, Mastodon, Helmet.

A banda

O Huey foi formado em 2010 e desde então vem catalisando sonoridades que transitam entre o metal, stoner, sludge, post-rock e o post-metal. É alto, assertivo e sem meias palavras. Na verdade, à margem delas. Após lançar ¡Que no me chingues wey! (Sinewave, CD, 2010), a banda foi até Los Angeles para gravar o seu segundo disco Ace (2014), com Aaron Harris (Isis / Palms).
O terceiro álbum, MA (2018), teve como engenheiro gravação e mixagem, o renomado produtor Steve Evetts (Sepultura, The Cure, Dillinger Escape Plan).

Com Quinze, o Huey traz quatro novas composições que carregam o DNA da banda e reforçam sua especialidade em criar músicas cativantes, intensas, pesadas e, principalmente, cheias de vida!

Ouça abaixo “Quinze”, do Huey

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