A queda e os diamantes brutos de David Byron após o Uriah Heep

Poucos vocalistas conseguiram definir os anos 70 como David Byron. À frente do Uriah Heep, sua voz poderosa e seu carisma ajudaram a moldar o hard rock britânico. Mas, em 1976, após o lançamento de High & Mighty, Byron se afastou da banda que ajudou a tornar conhecida. Excesso de álcool, conflitos internos e desgaste emocional contribuíram para sua saída.

Naquele momento, a ideia de formar um novo grupo parecia natural. Byron se aliou ao baterista Geoff Britton — ex-Wings — com quem já mantinha amizade desde os tempos de festas na Espanha, no fim dos anos 60. A química inicial trouxe também o tecladista Damon Butcher e o guitarrista Clem Clempson, que havia tocado com nomes como Bakerloo, Colosseum e Humble Pie. O baixista Willie Bath completaria o time.

O projeto ganhou corpo rápido. A indústria era mais ágil que hoje, mesmo sem internet. E com a influência da Bad Company em mente, o grupo entrou em estúdio. Ironicamente, o álbum seria batizado como Rough Diamonds — mesmo título de um disco da própria Bad Company, lançado anos depois.

Rough Diamonds saiu em 1977 e foi o único registro da banda batizada apenas como Byron. A abertura com “Rock and Roll” mostra David Byron ainda com fôlego impressionante, mesmo diante dos excessos. Sua voz se impõe, crua e intensa. Há um saxofone não creditado na faixa, que hoje sabe-se ser de Mel Collins — conhecido por trabalhos com King Crimson e Camel.

Na sequência, “Looking for You” mergulha no hard funk com pitadas de Humble Pie. Há ecos do Deep Purple de Coverdale e Hughes, com destaque para o órgão, que remete a Jon Lord. Tudo soa preciso, limpo, bem arranjado. Nada está fora do lugar.

“Lock and Key” traz a elegância de riffs à la Mick Ralphs. Byron tem seu próprio estilo vocal, mas é impossível ignorar a semelhança de timbre com Paul Rodgers. Já Clempson contribui com “Supertitious”, uma releitura livre de “Superstition” de Stevie Wonder, cheia de personalidade.

Embed from Getty Images

Um lado B cheio de ambição

O segundo lado do LP reserva momentos ainda mais ambiciosos. “Sea-Song”, com seus sete minutos e meio, é um épico sinfônico que remete aos tempos áureos do Uriah Heep. Pomposo e melódico, o arranjo é repleto de detalhes, sem jamais soar exagerado. Clempson brilha em solos refinados e passagens quase jazzísticas.

“By the Horn” entra como a resposta da banda a “Can’t Get Enough” da Bad Company. Mas o diferencial está no uso de slide guitar e teclados sutis, evocando o rock sulista americano. “Scared”, por sua vez, poderia perfeitamente estar no álbum Stormbringer. A semelhança de clima com o Deep Purple da fase Hughes/Coverdale é nítida.

“Hobo”, com quase seis minutos, funciona como retrato perfeito do hard rock setentista: viril, cru, mas com sofisticação instrumental. O sax de Mel Collins reaparece com vigor, enquanto Clempson flerta com o jazz-rock. A transição instrumental para “The Link” — um solo de piano — evoca nomes como Herbie Hancock e Chick Corea.

O disco termina com “End of the Line”, um blues denso, com teclados carregados no melhor estilo Purple. É um fim agridoce, que reflete o título do álbum e, possivelmente, o estado emocional de Byron.

A banda Byron tinha tudo para ir além. Técnica, repertório, bons contatos e histórico. Eles chegaram a abrir shows de Peter Frampton nos EUA, na era Frampton Comes Alive!. No entanto, não duraram. A luta constante de Byron contra o alcoolismo e a instabilidade emocional pesaram.

Em 1978, o grupo reapareceu na gravadora CBS com o nome Champion, já sem Byron nos vocais. No lugar, entrou Garry Bell. A magia, no entanto, não era a mesma.

Anos depois, refletindo sobre os desdobramentos do grupo, Byron diria: “Chegamos a um acordo. Se um de nós sair, o grupo se dissolve.” A realidade, contudo, foi bem diferente.

David Byron seguiria com trabalhos esporádicos antes de falecer em 1985, aos 38 anos. Rough Diamonds permanece como um registro valioso de um artista que, mesmo em decadência, ainda tinha muito a mostrar. Uma banda de excelência que brilhou brevemente — e depois sumiu sem deixar rastros comerciais. Mas quem escuta, não esquece.

Autor

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *