A conexão secreta entre o RPM de 93 e os Engenheiros de 95

Luis Fernando Brod
4 minutos de leitura
Paulo Ricardo & RPM / Engenheiros do Hawaii. Foto: Reprodução.

E se eu te dissesse que dois dos álbuns mais subestimados de duas das maiores bandas do Brasil dos anos 80/90 têm uma conexão secreta, quase como se um fosse o rascunho do outro? Pode parecer viagem, mas ouça com atenção o álbum Paulo Ricardo & RPM (1993) e, em seguida, Simples de Coração, dos Engenheiros do Hawaii (1995). A semelhança é perturbadora.

Mas qual o segredo? O nome dele é Fernando Deluqui; o guitarrista do RPM, que participou daquele álbum de reencontro da banda, foi o mesmo que empunhou a guitarra no disco que mudaria para sempre o som dos Engenheiros do Hawaii. E essa informação muda tudo.

Vamos contextualizar. Em 1993, o RPM voltava após um hiato, tentando se encontrar em um mundo dominado pelo Grunge. O resultado foi um álbum denso, pesado e melancólico. A guitarra de Deluqui estava lá, afiada, com riffs marcantes e uma sujeira que flertava abertamente com o som de Seattle.

Músicas como “Pérola” e “Gênese” já carregavam o DNA do que viria a seguir: um som mais direto, menos teclados e mais peso nas cordas. No entanto, para o público do RPM, acostumado ao tecno-pop dançante, o choque foi grande. O álbum não explodiu como o esperado. Podemos dizer que foi um laboratório, um protótipo sonoro genial, mas talvez no lugar errado.

Dois anos depois, Humberto Gessinger reformulou os Engenheiros e chamou… Fernando Deluqui. O que aconteceu em Simples de Coração foi mágico. Aquela mesma pegada de guitarra, aqueles timbres pesados e aquela energia que pareceram “estranhos” no RPM, serviram como uma luva para as letras filosóficas e existenciais de Gessinger.

  • A Sonoridade: A influência do Grunge, que em 1993 era uma aposta, em 1995 já estava consolidada. A guitarra de Deluqui em “A Promessa”, “Simples de Coração” e “Lado a Lado” não é apenas um acompanhamento, é a espinha dorsal das músicas. É o mesmo Deluqui de 93, mas agora no ecossistema perfeito.
  • As Letras: A familiaridade que você notou faz todo o sentido. Ambos os álbuns lidam com temas de passagem do tempo, desilusão e a busca por um novo começo. Enquanto Paulo Ricardo cantava sobre um “adeus ao século XX” em “Gênese”, Gessinger refletia sobre ser “um simples de coração que não sabe o que fazer”. São angústias da mesma geração, vistas por óticas diferentes, mas com a mesma trilha sonora.
  • A Produção: A mixagem parecida não é coincidência. É o reflexo de uma época e, possivelmente, da influência de um músico que carregou consigo uma identidade sonora de um estúdio para o outro.

Portanto, Paulo Ricardo & RPM não foi um fracasso, foi uma profecia. Foi o ensaio de luxo para a obra-prima que viria a ser Simples de Coração. Deluqui foi a ponte invisível que transportou uma estética sonora de uma banda para outra, provando que, na música, uma ideia precisa não apenas ser boa, mas também encontrar o lugar e o momento certo para florescer.

E aí, faz sentido para você? Já tinha parado para pensar no papel crucial do Deluqui nessa história? Comente aqui embaixo!

Ouça abaixo os dois discos:

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