Elza Soares: os 10 anos de “A Mulher do Fim do Mundo”

Virgilio Migliavacca
4 minutos de leitura
Capa do disco "A Mulher do Fim do Mundo" (2015).
Capa do disco “A Mulher do Fim do Mundo” (2015).

Neste mês de outubro, mais especificamente no último dia 3, o disco A Mulher do Fim do Mundo, 32º álbum da carreira de Elza Soares, completou 10 anos de seu lançamento. A cantora, falecida em 2022 aos 91 anos — dois dias após a gravação de um show — passou por um importante processo de revalorização após o lançamento do trabalho, sendo aclamada por público e crítica no Brasil e no exterior.

Falar da vida e da obra de Elza Soares, mesmo que de forma resumida, é tarefa quase impossível. Para isso, recomenda-se a leitura da biografia Elza, lançada em 2018 pelo jornalista Zeca Camargo. Naquele mesmo período, a cantora lançava o disco Deus é Mulher (2018), sequência natural do trabalho de 2015. Ainda viria Planeta Fome (2019), produzido por Rafael Ramos e com flertes ao rock, além de participações especiais em outras obras, no que seria seu último lançamento ainda em vida. Depois de sua morte, vieram registros ao vivo e um disco póstumo, lançado em 2023.

Antes de falarmos do disco aniversariante, é importante lembrar que Elza já havia feito um movimento de modernização de seu repertório em 2002, com o lançamento de Do Cóccix até o Pescoço. Nesse álbum, reaproxima-se de compositores com quem já havia trabalhado e colabora pela primeira vez com nomes como Marcelo Yuka, Seu Jorge e Carlinhos Brown, num trabalho que flerta com o rap e elementos eletrônicos. Depois de Vivo Feliz (2003), seguiu-se um longo período de silêncio até a volta triunfal em 2015.

Capa do disco “Do Cóccix até o Pescoço” (2002).

Mas o que fez de A Mulher do Fim do Mundo um lançamento tão importante, a ponto de figurar como o álbum da década de 2010 mais bem posicionado (45º lugar) no ranking dos 500 Maiores Álbuns Brasileiros de Todos os Tempos, organizado pelo podcast Discoteca Básica, do jornalista Ricardo Alexandre, e publicado em livro em 2023?

página do livro “Os 500 Maiores Álbuns Brasileiros de Todos os Tempos” – editora Jambô (2023)

Em primeiro lugar, impressiona o fato de que, em mais de 70 anos de carreira, este tenha sido o primeiro álbum de Elza composto apenas por canções inéditas. Além disso, o disco, que nasceu da iniciativa do produtor Guilherme Kastrup e foi financiado através do Natura Musical, reuniu um coletivo informal de músicos de São Paulo — sucessores espirituais da Vanguarda Paulistana — que vinham experimentando novas formas de abordar o samba e outros gêneros. Entre eles, Kiko Dinucci, Rômulo Fróes e Rodrigo Campos, integrantes do que se convencionou chamar de “Clube da Encruza”.

As composições foram escritas especialmente para a voz de Elza, tendo como base sua trajetória de vida, marcada por enfrentamentos, dor e resistência. O disco serviu, assim, não apenas como um renascimento artístico para a cantora, que percorreu o país com o espetáculo e enfim recebeu o reconhecimento há muito merecido, mas também como um documento definitivo de uma geração de músicos que, à margem da indústria fonográfica cada vez mais obsoleta, encontrou em Elza sua voz mais potente.

Ingresso de show da turnê “A Mulher do Fim do Mundo” realizado em Porto Alegre em 2016.
LEIA MAIS:
Compartilhar esse artigo
Nenhum comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *