Il Castello di Atlante e o disco que propõe uma quinta estação

Por mais que eu seja apaixonado pelo rock progressivo italiano, confesso que não conhecia o Il Castello di Atlante. Quem me apresentou essa banda foi o Luis Brod, que sempre aparece com uma pérola escondida quando menos se espera. E foi exatamente isso: uma surpresa agradável. Fica aqui meu agradecimento ao Brod por esse presente.

A partir daí, não teve jeito. Ativei meu hiperfoco e fui atrás de tudo que consegui encontrar sobre a banda. Pesquisei discos, capas, formações, histórias e entrevistas. E como o resultado foi bom demais para ficar guardado só comigo, resolvi compartilhar neste post da Disconecta.

A banda

O Il Castello di Atlante surgiu no norte da Itália, ainda nos anos 70. No entanto, só lançou seu primeiro álbum oficial em 1992. Mesmo assim, o som da banda se conecta diretamente com a tradição do prog italiano dos anos 70, marcada por grupos como Le Orme, PFM e Banco del Mutuo Soccorso.

Logo nas primeiras audições, alguns elementos se destacam. Por exemplo, o uso expressivo de violino é uma marca registrada e traz uma identidade própria às composições. Além disso, as letras, sempre em italiano, exploram temas líricos, filosóficos e até épicos. As faixas, quase sempre longas, seguem uma estrutura livre, com mudanças de andamento e clima ao longo do caminho.

O álbum

Come il Seguitare delle Stagioni foi lançado em 2000. O título pode ser traduzido como “Como o seguir das estações”, e já antecipa uma abordagem cíclica, natural e contemplativa. O disco segue a mesma proposta que consagrou a banda: faixas extensas, com arranjos elaborados, onde a melodia tem tempo para se desenvolver.

Ao longo das faixas, o grupo constrói paisagens sonoras que variam entre momentos acústicos, passagens sinfônicas e trechos instrumentais detalhados. A estrutura lembra suítes clássicas, onde cada parte flui para a próxima como se fosse inevitável, como o passar das estações.

A capa

A arte de capa é uma das mais marcantes da discografia da banda. Nela, vemos uma figura humanoide de cor avermelhada, sentada sobre um peixe gigante que emerge do solo. Ao fundo, há uma paisagem quase alienígena, feita de formas abstratas e tons entre o púrpura e o vermelho. Não há céu, árvores ou qualquer ponto de referência natural.

A figura parece estar em estado de contemplação profunda. A fusão entre ela e o peixe levanta questionamentos: onde termina um e começa o outro? Estariam conectados por um ciclo maior, por algo ancestral ou subconsciente? A imagem não oferece explicações, apenas provoca.

Essa escolha visual reforça a atmosfera do álbum. Assim como a música, a arte propõe um tempo diferente. Um tempo interior.

Um disco fora do tempo

Come il Seguitare delle Stagioni não tenta soar moderno. Ao contrário, ele se recusa a seguir tendências. Propõe outra lógica: desaceleração, escuta atenta e imersão. Cada faixa sugere um novo cenário, e cada instrumento entra como se fizesse parte de um ciclo natural, nada é apressado ou forçado.

Talvez o próprio conceito de “seguir as estações” esteja aí como uma metáfora para isso: respeitar o tempo das coisas. Entender que nem tudo precisa ser imediato. Às vezes, é no intervalo entre um acorde e outro que mora a melhor parte.

Onde ouvir?

Apesar de toda a beleza e riqueza do disco, encontrar material do Il Castello di Atlante para ouvir não é uma tarefa simples. Os “álbuns” da banda não estão disponíveis nas plataformas tradicionais de streaming, o que torna a descoberta ainda mais rara e valiosa.

Felizmente, o Brod compartilhou comigo dois links do YouTube com as músicas da banda, que estou deixando logo abaixo. Vale muito a pena dar o play, com tempo e fones de ouvido por perto.

Autor

  • Julio Mauro

    Júlio César Mauro é um nerd de carteirinha e pai de duas meninas, com um jeito peculiar, às vezes um pouco ranzinza, e sempre lidando com o desafio de viver com TDAH.

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