Os 35 anos de “Cowboys from Hell”

Luis Fernando Brod
5 minutos de leitura
Pantera. Foto: Joe Giron.

Lançado em 24 de julho de 1990, “Cowboys from Hell” consolidou uma guinada radical na carreira do Pantera.

O álbum não apenas redesenhou a identidade do grupo texano, como também ajudou a moldar o groove metal nos anos 1990.

Gravado no estúdio Pantego Sound, no Texas, e produzido por Terry Date, o disco marcou uma virada definitiva no estilo da banda. Antes dele, o Pantera já havia lançado quatro álbuns independentes, ainda fortemente ligados ao glam e ao hard rock.

Com cabelos armados, roupas coloridas e sonoridade próxima ao hair metal, o grupo não parecia destinado à reinvenção. Essa transição, no entanto, foi gradual. Começou com a entrada de Phil Anselmo em 1986 e ganhou forma com as turnês seguintes.

Ao longo dos anos 1980, o Pantera foi deixando o visual espalhafatoso e abraçando um som mais pesado e seco. Em “Cowboys from Hell”, essa transição se completa com uma nova estética: mais crua, agressiva e sincera.

A faixa-título já abre o álbum com um riff cortante de Dimebag Darrell, em sintonia com a bateria marcada de Vinnie Paul. O vocal de Anselmo surge como um grito de guerra, equilibrando potência e controle ao longo da faixa.

O disco apresenta uma produção precisa, que realça a força dos instrumentos sem comprometer a clareza das composições. Faixas como “Primal Concrete Sledge” e “Domination” são exemplos do peso rítmico que viria a caracterizar o groove metal.

Essas músicas evitam a velocidade pura do thrash, apostando em riffs sincopados e arranjos mais centrados no balanço. O resultado é um som que combina brutalidade com estrutura, criando um tipo de metal mais voltado ao corpo do que à velocidade.

O destaque técnico de Dimebag Darrell se consolida como um dos pilares do disco. Seus riffs são memoráveis e seus solos, precisos. Ao contrário da pirotecnia gratuita comum no metal da época, sua guitarra tem função clara nas canções.

A cozinha formada por Rex Brown no baixo e Vinnie Paul na bateria completa o quadro com precisão e peso. Essa base rítmica é o que permite ao Pantera sustentar faixas longas sem perder coesão.

No conjunto, “Cowboys from Hell” apresenta uma banda focada, segura do novo caminho que estava trilhando. A postura lírica também muda: sai o hedonismo e entra uma abordagem mais sombria, urbana e confrontadora.

Phil Anselmo assume um papel mais autoral, com letras que refletem raiva, alienação e desafio à autoridade. Embora não tenha sido um sucesso imediato, o álbum ganhou força com as turnês e o boca a boca entre os fãs de metal. Com o tempo, foi reconhecido como o ponto de partida da fase clássica do Pantera.

Discos como “Vulgar Display of Power” (1992) e “Far Beyond Driven” (1994) dariam continuidade a esse novo estilo. Mas é em “Cowboys from Hell” que o Pantera encontra a fórmula que os tornaria referência para toda uma geração.

Eles não apenas sepultaram seus anos de hair metal — o fizeram com consistência, sem nostalgia ou tentativas de reaproveitamento. Essa ruptura foi mais do que estética: foi uma resposta ao excesso que dominava o rock pesado na virada da década. Ao apostar em uma música mais visceral e direta, o Pantera criou uma linguagem própria dentro do metal moderno.

Trinta e cinco anos depois, “Cowboys from Hell” segue influente, sendo citado por músicos e fãs como um divisor de águas. A longevidade do álbum não está só em sua técnica, mas na firmeza de sua proposta: som pesado, honesto e sem ornamentos.

Num cenário em que o metal vivia entre o virtuosismo exagerado e o colapso do glam, o Pantera propôs outra saída.

E essa saída começou a tomar forma definitiva em julho de 1990.

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