Os 39 anos de “The Queen Is Dead”, o álbum mais direto do The Smiths

Lançado em junho de 1986, o álbum “The Queen Is Dead” consolidou o The Smiths como um dos nomes mais influentes da década. Em pouco mais de 37 minutos, o disco reúne um repertório que une crítica, ironia e melodia, sem buscar consenso ou apelo comercial. Na capa, a imagem em preto e branco do ator Alain Delon remete a um estado de repouso quase fúnebre, retirada de um filme de 1965. A escolha visual reforça a atmosfera desencantada que atravessa o álbum, sem cair na caricatura ou em excessos dramáticos.

O guitarrista Johnny Marr afirmou à Mojo em 2001: “Sabia que tínhamos de produzir algo fabuloso”. A fala sintetiza o momento da banda, em plena sintonia criativa e determinada a explorar novos caminhos musicais. O disco começa com a faixa-título, marcada por guitarras distorcidas e letras que misturam irreverência e amargura. A rainha do título funciona como símbolo de instituições em ruína, num ataque ao conservadorismo britânico e suas formalidades.

Em seguida, “Frankly, Mr. Shankly” ironiza a indústria fonográfica e seus personagens. O arranjo é mais leve, mas o sarcasmo se mantém afiado em versos como “Eu às vezes gostaria de poder chutar sua cara”. Já “I Know It’s Over” desacelera e expõe uma melancolia crua, com vocal contido e arranjo minimalista.
A faixa é uma das mais introspectivas do disco e aponta para a solidão como tema recorrente na obra de Morrissey.

“Bigmouth Strikes Again” é talvez a mais conhecida do álbum, com ritmo acelerado e guitarra cortante. A letra fala sobre o preço de dizer o que se pensa, ainda que de forma exagerada ou intempestiva. Em “The Boy with the Thorn in His Side”, a crítica volta-se aos bastidores da indústria musical. Segundo Morrissey, a canção trata da desconfiança de executivos quanto às intenções de sua escrita e imagem pública.

The Smiths – The Queen Is Dead. Foto: Acervo Pessoal.

“There Is a Light That Never Goes Out” se tornou, com o tempo, uma das faixas mais emblemáticas da banda. A composição mistura desejo de fuga e tragédia pessoal, embalada por um instrumental melódico e delicado. Apesar do tom sombrio, há beleza e entrega em versos como “Morrer ao seu lado seria um jeito celestial de morrer”. É um momento de vulnerabilidade sincera, sem recorrer a fórmulas ou sentimentalismos fáceis.

O disco ainda traz faixas como “Cemetry Gates”, que discute plágio literário e autenticidade, além de “Some Girls Are Bigger Than Others”, encerrando o álbum com um tom quase cômico e musicalmente mais disperso. Ao todo, o trabalho representa o auge da parceria entre Marr e Morrissey, com uma produção que valoriza dinâmica e nuance. Gravado entre 1985 e 1986, foi lançado pela Rough Trade e logo chamou atenção da crítica especializada.

A recepção inicial foi mista no Reino Unido, mas o reconhecimento cresceu ao longo das décadas. Em listas organizadas por veículos como NME, Rolling Stone e Pitchfork, o álbum figura entre os mais elogiados dos anos 1980. O disco também serviu de referência para bandas do britpop dos anos 1990, como Blur e Suede.
E segue sendo redescoberto por novas gerações interessadas na intersecção entre melodia pop e letras de desconforto.

“The Queen Is Dead” é frequentemente citado como o ponto alto da discografia do The Smiths. Embora a banda tenha durado pouco após seu lançamento, o álbum sintetiza seus principais elementos de forma direta. Em 1987, o grupo se desfez após tensões internas e disputas legais com a gravadora.

Mesmo assim, o disco continua sendo um dos trabalhos mais revisitados pelos ouvintes, fãs e estudiosos da música pop.

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