Psychocandy do The Jesus and Mary Chain: A gênese do barulho no rock

“Psychocandy”, embora seja o álbum de estreia conhecido do The Jesus and Mary Chain, é sempre preterido em relação à obra-prima da banda, Darkland.

A razão para essa escolha está no fato de ser um álbum extremamente barulhento, com camadas de guitarras fuzz e uma certa desorganização musical que refletia o momento vivido pelos irmãos Jim Reid e William Reid.

Criados em East Kilbridge, uma pequena cidade na época, a 13 km de Glasgow, os irmãos, que cresceram juntos e dividiam o mesmo quarto, eram fissurados em Velvet Underground, Shangri-las e na banda alemã de krautrock Einstürzende Neubauten.

Enfurnados em seu quarto, ambos enfrentavam dificuldades para se relacionar socialmente e, assim, passaram a desenvolver seu senso estético musical e visual.

Foi apenas quando o pai comprou um gravador de 4 canais e presenteou William que surgiu a fagulha inicial para que a dupla começasse a gravar suas próprias músicas.

Duas músicas – “Upside Down” e “Never Understand” – acabaram chegando às mãos de Alan McGee, da Creation Records, por intermédio de Bobby Gillespie. Esse último, apesar de já ter su própria banda, o Primal Screaming, acabou substituindo o baterista  Murray Dalglish e gravou o disco, a formação ainda contava com o baixista Douglas Hart.

Falando sobre “Psychocandy, este foi lançado em novembro de 1985, com quase 39 minutos de duração e composto por 15 faixas; nele, o que se ouve é um belo trabalho de noise pop.
Isso quer dizer que, mesmo com camadas de guitarras tão ruidosas, é possível perceber o apuro melódico pop dos vocais de Jim Reid.

Naquela época, a banda tocava em qualquer lugar – até em buracos – e, seguidamente, despertava os instintos mais primitivos de sua plateia, graças à sua pegada punk e aos intensos feedbacks de guitarra, incitando o público presente em suas apresentações.

Mesmo que grande parte dessa energia não seja perceptível no álbum de estúdio, ali estão os elementos que despertam esse instinto raivoso, tão marcante em suas apresentações ao vivo.

Como exemplos da beleza ruidosa promovida pela banda, destacam-se faixas que hoje são hinos, como a abertura “Just Like Heaven”, com seu refrão marcante, a bela e melancólica “Cut Dead” e “Sowing Seeds”.

Outras faixas, como “Taste Of Cindy”, provam que é possível a convivência de feedbacks e guitarras fuzz em uma faixa empolgante, sem perder a suavidade melódica.

Por outro lado, o single “Never Understand”, que chegou às mãos de McGee, apresenta o jeitão punk bubblegum barulhento.

Há muitas faixas que não são fáceis de assimilar numa primeira audição, devido ao incômodo provocado pelas guitarras de William – como “Inside Me” –, embora a melodia vocal de Jim contribua significativamente para que se perceba um lado pop.

Exemplos desse estilo agressivo e melodioso estão presentes por todo o disco: “The Living End”, “In a Hole”, “It’s So Hard”, “You Trip Me Up” e “My Little Underground”.

Particularmente, o que mais me agrada é esse sabor agridoce presente nas três faixas citadas inicialmente – “Just Like Heaven”, “Cut Dead” e “Sowing Seeds”. São elas as responsáveis por impulsionar o grupo ao lugar único que ressoa até hoje, do qual muitos estilos e bandas acabaram se inspirando em sua estrutura musical.

Desse disco, podemos perceber o surgimento de estilos tão díspares como noise pop, shoegaze, no wave, além de todos os movimentos experimentais derivados do rock – até mesmo o próprio industrial.

Um álbum para poucos ouvidos? Sem dúvida! Mas quem mergulha e compreende o ambiente que cerca essa obra, nunca mais a larga.

Ouça abaixo Psychocandy do The Jesus and Mary Chain

Autor

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *