Radiohead – Kid A (2000): 25 anos do disco que definiu uma década

Virgilio Migliavacca
5 minutos de leitura
Radiohead. Foto: Danny Clinch

Kid A, quarto disco dos ingleses do Radiohead, completou 25 anos de seu lançamento no último dia 2/10. O trabalho, produzido pelo, já naquela altura, fiel escudeiro Nigel Godrich é considerado por muitos como “o último grande disco de rock”. Para tantos outros, não é nem mesmo um disco de rock, propriamente dito. Mas em 2000, o que era rock, afinal? Atitude? Baixo, guitarra e bateria? Um disco (quase) sem guitarras, em uma banda composta por 3 guitarristas, pode ser considerado um disco do estilo?

Mudar para se salvar

Depois do sucesso estrondoso de “Ok Computer” (1997), e da estafa gerada pelo excesso de exposição e de turnês, bem documentado no filme “Meeting People is Easy”, do ano seguinte, o líder do Radiohead, Thom Yorke, havia simplesmente parado de ouvir rock. Assim como tantos outros astros da música, como Bowie e sua trilogia de Berlim, a ideia era se afastar do que havia sido bem-sucedido até então, no intuito de, talvez, diminuir o escopo do próprio trabalho, tentativa que Kurt Cobain, outro notório músico dos anos 90, havia tentado pouco tempo antes, como bem sabemos, sem sucesso.

Documentário “Meeting People is Easy”, de 1998.

A arte da capa de Kid A, de autoria do próprio Yorke, é baseada numa foto da Guerra do Kosovo, misturada ao estilo do quadrinho “Brought to Light”, do mago Alan Moore. Do ponto de vista narrativo, o disco aprofunda o clima de paranoia e niilismo presentes em “Ok Computer”, ao mesmo tempo em que, sonoramente, avança ainda mais nos experimentos eletrônicos do antecessor. Não à toa, Kid A foi lançado no ano em que aconteceria o tal “bug do milênio”.

Capa de Kid A. Arte por Thom Yorke.

Apesar da ousadia, o álbum não chega a romper completamente com a som consagrado pelo grupo, tendo em vista o uso das guitarras em “Optimisc” e “In Limbo”, assim como de um violão na dramática “How to Disappear Completely”. Vou além: o tal do rock não é consagrado por, dentre outras coisas, ter riffs memoráveis, simples e facilmente identificáveis? O que dizer de um disco que abre com um riff tão marcante quanto o do de “Everything in its right place”? Além disso, é possível identificar influências de Krautrock (olha o rock aí) no baixo de “National Anthem” faixa que também se aproxima do Free Jazz, a partir das participação de instrumentos de sopro. Importante também destacar o trabalho de Jonny Greenwood nos arranjos das músicas, com o auxílio de uma orquestra de cordas, o que o habilitou a ser o compositor de trilhas sonoras consagrado que é atualmente.

“Treefingers” funciona como um longo interlúdio ambient/drone, tal qual o ambient dos precursores e, porque não “roqueiros” David Byrne e Brian Eno. A faixa prepara o ouvinte para o que é o ponto de ruptura, e principal faixa de Kid A. “Idioteque”, é uma fritação eletrônica drum n’bass, baseada em samples, que descreve civis sendo levados para bunkers de segurança, paredes de gelo se aproximando, num cenário apocalíptico digno do melhor já feito no cinema de desastre. O que seria do rock, não fosse seu espírito contestador, sempre pronto para trazer o desconforto para a sociedade?

A narrativa de distopia cibernética iniciada pelo Radiohead em 1997, e aprofundada magistralmente em Kid A e em seu disco irmão, “Amnesiac” (2001) é, 25 anos depois de seu lançamento, uma triste realidade, com o monopólio das big techs, colapsos ambientais e a ascensão do fascismo.

O sucesso, mais uma vez

O mais irônico é que, desse clima opressivo e da tentativa de afastamento dos holofotes, saiu o trabalho que colocou a banda de vez no radar do público americano, sendo o disco de maior vendagem da banda nos EUA até então.

Se Kid A é, desde seu lançamento, indiscutivelmente um disco de rock, o que dizer do gênero em 2025? Talvez Kid A tenha sido um dos seus últimos suspiros de originalidade, bem como da vontade de diálogo com outros estilos. Mas acredito que os 25 anos do disco estejam aí para nos avisar do quão obsoleta é essa discussão, afinal, música boa segue sendo feita todos os dias e, graças a grupos como o Radiohead, sabemos há bastante tempo dos desafios que estaríamos enfrentando a essa altura.

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